O arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29 anos, ferido durante ação policial em protesto contra o governo Bolsonaro, no último sábado (29), no Centro do Recife, está em acompanhamento por equipes da Fundação Altino Ventura (FAV). Na primeira consulta, segundo o oftalmologista Vasco Bravo Filho, o exame oftalmológico identificou um edema ao redor do olho e sangramento intraocular, que causaram um comprometimento importante da visão. "Jonas retornou à FAV, nesta quarta-feira (2), para que o exame oftalmológico e de ultrassonografia fossem repetidos. Esses novos exames constataram uma melhora significativa do edema ocular, mas ainda não houve sinais de recuperação da visão", informa a FAV, em comunicado assinado por Vasco, que é diretor-médico da FAV.
Na nota, o oftalmologista Vasco Bravo Filho ressalta que o prognóstico de melhora visual do paciente é reservado - ou seja, tem uma pequena probabilidade de evolução. "No momento, nenhuma cirurgia foi indicada para o caso, mas a conduta pode mudar a partir da evolução do paciente e dos resultados dos novos exames. Uma ressonância magnética foi solicitada, e o paciente irá retornar para nova avaliação nesta sexta-feira, dia 4", diz. Jonas continua internado no Hospital da Restauração, no Derby, área central do Recife, onde é medicado para que o edema seja minimizado.
- Duas pessoas agredidas pela PM em protesto contra o governo Bolsonaro no Recife correm risco de perder a visão
- Órgão do MPF em Pernambuco cobra apuração da força policial durante protesto no Recife
- Com risco de perda da visão, feridos em protesto contra Bolsonaro seguem internados no Recife
- Paulo Câmara determina que feridos em protesto no Recife recebam assistência do Estado e indenização
- Bolsonaro não pode mais ser criticado por aglomerar, diz líder do governo após protestos
- Pedro Eurico nega que bolsonaristas da PM tenham determinado violência em protesto no Recife para desestabilizar Paulo Câmara
- Ministro do STF, Gilmar Mendes diz que ''brutalidade'' da polícia em protesto no Recife mostra despreparo com manifestações
- Famílias de feridos pela PM em protesto no Recife dizem não ter recebido sequer remédios do governo
Entenda o caso
Os disparos com balas de borracha feitos contra os militantes atingiram o olho direito de Jonas, que não participava do ato. Além dele, há relatos de outras pessoas feridas. "Ele (o médico) disse que fez exames e que eu não tenho mais visão. Eles querem tratar o globo para não tirar, deixar pelo menos ele no rosto. Hoje eu acordei muito triste; é difícil para mim acordar e me ver nessa situação. Só Deus sabe como eu estou. Acordar de manhã para levar o pão de cada dia para minha família e acabar assim, perdendo minha visão", contou Jonas, na segunda-feira (31), à reportagem do JC, no intervalo entre a bateria de exames que vem fazendo na Fundação Altino Ventura (FAV).
Nesta quarta-feira (2), o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que os responsáveis pelos disparos que atingiram Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, e Jonas Correia de França, de 29 anos, ainda estão sendo identificados. Em entrevista à TV Globo, na tarde desta quarta-feira (2), Paulo disse não concordar com a atuação da Polícia Militar, que dispersou de forma violenta uma manifestação no Recife e que pediu celeridade para que as respostas sejam dadas à sociedade o quanto antes, principalmente, quem deu a ordem para aquele tipo de atuação, com uso de balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás lacrimogênio.
"É importante antecipar que, antes de qualquer conclusão, não concordamos com a forma como foi feita essa ação policial. Essa polícia que joga bala no rosto das pessoas, que impede socorro, essa polícia não pode atuar. Por isso, temos que com toda precaução buscar responder as perguntas e saber como se deu esse comando, as informações que se tinha da passeata, pois até o momento tudo aponta para uma passeata pacífica, estava o final e não há até agora nenhuma justificativa para atuação daquela forma", afirmou Paulo Câmara.
Sete policiais já foram afastados das funções operativas enquanto ocorrem as investigações. São 3 oficiais e quatro praças, que não tiveram os nomes revelados. Além disso, o governo promoveu mudança no comando da Polícia Militar. O coronel Vanildo Maranhão pediu exoneração do cargo três dias após a ação violenta. Ele foi substituído pelo coronel José Roberto Santana, que ocupava o cargo de diretor de Planejamento Operacional da PM.
Paulo Câmara disse ter conversado com o novo comandante sobre a necessidade de respostas e pediu que sejam dadas as devidas orientações à tropa para que fatos como o de sábado não se repitam no Estado. "Precisamos de polícia cidadã, que atue duro contra a criminalidade, mas que não permita atos como o que vimos no sábado", disse. "É importante verificar quem atirou no Jonas e no Daniel, quem impediu o socorro às vítimas; as investigações vão apontar isso. Precisamos do contexto que essas ordens foram dadas, as informações que se tinha para dar ordens como essa. Até agora, não foi apresentada uma justificativa plausível, e isso não podemos admitir", completou.