O bloqueio com os números enfrentado por algumas crianças e adolescentes pode parecer, à primeira vista, preguiça ou falta de interesse nos estudos. A questão é a dificuldade extrema para compreender a matemática e seus conceitos pode não ser normal. Esse problema tem nome e se chama discalculia, um distúrbio de aprendizagem pouco conhecido que pode prejudicar a vida escolar e cotidiana, se não diagnosticado de forma adequada.
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Se o aluno não for acompanhado corretamente, a resolução de problemas de uma prova cheia de números tende a ser quase um pesadelo. Afinal, a discalculia é um distúrbio de origem neurobiológica que afeta a aquisição de conhecimentos sobre os números e os cálculos. Nesta pandemia, esse fator foi evidenciado. Uma recente pesquisa desenvolvida pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo apontou que estudantes regrediram no aprendizado de português e matemática após um ano de aulas online. Mesmo afetando outras ações cotidianas, como ler um relógio, a placa de um carro, memorizar números telefônicos e calcular um simples valor de compra, os professores tendem a ser os primeiros a identificarem o transtorno nas crianças. Mas, desde sempre, é importante que os pais também estejam atentos aos sinais.
Crianças que convivem com o problema não conseguem, por exemplo, identificar sinais matemáticos ou resolver operações básicas nos primeiros anos de alfabetização, como adição e subtração. "É normal que as crianças tenham certa resistência com matemática. Mas, na discalculia, mesmo com uma boa oportunidade pedagógica e ensino adequado, o aluno continua com muita dificuldade no processamento da informação. Algumas vezes, o distúrbio também pode estar associado a outras questões de aprendizagem, como a dislexia (distúrbio do aprendizado caracterizado pela dificuldade para ler)", explica a fonoaudióloga e doutora em psicologia Bianca Queiroga, professora do curso de fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Por ser um problema ainda pouco perceptível por muitos pais, a discalculia tende a ser confundida com teimosia ou desinteresse em aprender os conceitos matemáticos. Por isso, a dica dos especialistas é acompanhar de perto a educação da criança, consultando sempre a direção da escola para tomar conhecimento da evolução escolar do aluno. "Não é só uma questão ligada ao ensino. Recorrer apenas a um professor particular, por exemplo, não vai resolver o problema. Há que se investigar a fundo a dificuldade e instrumentalizar a criança para que ela busque uma forma alternativa de estudo e capte o conceito matemático, superando seus problemas e seguindo a vida acadêmica e social sem maiores dificuldades", ressalta Bianca.
É importante frisar que o diagnóstico da discalculia deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta de psicopedagogo, fonoaudiólogo e neuropediatra. Esse distúrbio de aprendizagem e outros transtornos exigem um diagnóstico multidisciplinar porque, ao contrário de outros problemas, não há um marcador ou um teste específico para identificá-lo.
Aprender matemática na infância
"As crianças com discalculia precisam de um treinamento diário adaptado, baseado em uma compreensão profunda de conceitos e procedimentos", explica Javier Arroyo, cofundador da Smartick - método de aprendizagem de matemática para crianças de 4 a 14 anos, que promete ensinar a matéria em apenas 15 minutos por dia. Segundo Javier, os exercícios e atividades do plano de estudos personalizado proposto pelo método podem ajudar muito os alunos com dificuldades.
A discalculia afeta de 5% a 7% da população. O ideal é diagnosticar o mais cedo possível, de preferência ainda quando criança, entre os 6 e 8 anos. Uma criança que não é precocemente diagnosticada com o distúrbio provavelmente receberá rótulos e tratamentos diferenciados, seja na escola, entre os colegas, ou até mesmo em casa. "Isso tem duas consequências claras: no nível acadêmico, a criança desenvolverá uma aversão a matemática, o que agrava o problema. Já a nível psicológico, ocorre uma perda da autoestima, sentimento de incapacidade e o desenvolvimento de ansiedade antes de ir a escola. Esse custo pessoal pode acabar tendo um grande impacto no seu desempenho no restante das disciplinas", frisa Javier.
O método Smartick é adaptado também para crianças que têm discalculia e outros distúrbios de aprendizagem, como dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).