POR MONA LISA DOURADO, DA COLUNA TURISMO DE VALOR
Desde outubro de 2011, a jornalista Natália Becattini percorre o mundo para contar histórias. No blog 360meridianos, estão os registros de aventuras que prezam pelo aprendizado, mergulho nas culturas locais e respeito às comunidades. Assim como outros viajantes em cinco continentes, Natália precisou adiar planos de um novo mochilão por causa da pandemia da covid-19. “O momento é de pedir para que as pessoas fiquem em casa”, lembra, ressaltando que a sustentabilidade e a responsabilidade social devem se consolidar como tendências no turismo. Confira os principais tópicos desta terceira entrevista da série que discute o futuro do setor com profissionais de segmentos diversos.
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Crises como essas sempre abrem espaço para refletir as práticas atuais, uma vez que nos colocam em uma situação de buscar alternativas de forma compulsória. A sustentabilidade já era uma tendência que vinha em alta no mercado do turismo, e acredito que isso deve se manter.
Acredito que as pessoas fiquem mais conscientes com a própria segurança quando viajam e exijam que os destinos ofereçam boas condições sanitárias, de higiene e segurança. Isso passa necessariamente pela sustentabilidade de um destino. Lugares que antes, por exemplo, sofriam com o fluxo incansável de turistas – o chamado overtourism – talvez precisem repensar essa estratégia sem limites, impor restrições de visitação ou mesmo reverter a imagem de aglomerados que tinham.
Como cidadãos, é sempre importante sermos conscientes em relação ao que publicamos em nossas redes. No caso de produtores de conteúdo, essa responsabilidade aumenta, pois o alcance é potencializado.
Acho que, no momento, é preciso levar informação de qualidade aos seguidores, reforçar as recomendações dos órgãos competentes, combater a desinformação e fake news e dar o exemplo, agindo (e compartilhando) com empatia e responsabilidade.
É possível dizer que quem não começar a se adaptar desde agora, terá problemas para resistir no setor. O turismo foi um dos primeiros mercados afetados pela crise e deve ser um dos últimos a se recuperar.
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Em um primeiro momento, o turismo doméstico será prioridade. As restrições de viagens internacionais devem durar por algum tempo, o preço das passagens aéreas tende a subir até que a demanda se normalize e as pessoas também devem estar menos propensas a deslocamentos muito longos ou a investir dinheiro em viagens longas e caras.
Haverá um foco muito maior nas escapadas de fim de semana, lugares onde é possível chegar em poucas horas de viagem no carro da família.
O turismo e lazer dentro da própria cidade também deve se fortalecer. As cidades vão querer investir em programação para os próprios moradores, já que menos pessoas de fora vão chegar por um tempo.
Quando for possível viajar de novo, vejo as viagens solo e em grupos pequenos ganhando mais relevância. Acredito que muitas pessoas vão demorar um tempo para voltar a aceitar aglomerações.
Os viajantes precisarão abrir mão de seus planos e adaptá-los para a nova realidade. Muita gente relutou em cancelar viagens no início e teve que ceder. Talvez seja necessário fazer isso por algum tempo ainda. Talvez aquela viagem sonhada não possa ser realizada nem agora nem no ano que vem. Não sabemos quanto tempo as restrições vão durar e nem quando será seguro viajar outra vez.
No mais, é possível que as imigrações fiquem mais rígidas em diversos países, exigindo mais documentos, comprovações sanitárias e inspeções para aceitar turistas em seus países. O risco de chegar em um lugar e ser barrado (ou colocado de quarentena) pode crescer até que as coisas se estabilizem.
Infelizmente, vemos o lado ruim dessas mudanças também. Governos têm se aproveitado para fechar fronteiras ou introduzir medidas contra imigrantes e a sociedade reage de forma xenofóbica inúmeras vezes, estigmatizando pessoas ou descendentes de determinados países e regiões, sem qualquer motivação, com base exclusivamente no preconceito.
Vão se sair melhor aqueles que souberem olhar para a crise e se adaptar a ela. Estudar as tendências agora é muito importante e saber encontrar as oportunidades escondidas nelas também. Pelo que tenho observado, os consumidores estão dando muito valor às empresas que demonstram responsabilidade social. O momento é de pedir para que as pessoas fiquem em casa, não viajem. Mesmo uma empresa que vive do turismo precisa entender que não é hora de incentivar o contrário, ou pode sair com a imagem de irresponsável.
Muitos hotéis têm disponibilizado seus quartos vazios para que profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate não coloquem suas famílias em risco, por exemplo. Vejo restaurantes e escolas de turismo que tiveram que parar distribuindo comida para a população de rua e outras pessoas vulneráveis que perderam sua renda por causa do isolamento social. Acho que mostrar o que as empresas podem oferecer à sociedade em momentos como esse é essencial.
O coronavírus me fez adiar os planos de fazer uma viagem longa outra vez, um mochilão de meses ou talvez até uma volta ao mundo. Pretendia começá-la em maio, pelos Estados Unidos, e de lá seguir para a Ásia. Espero poder retomar esse sonho em breve.
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