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Vida Fit

Por Marília Banholzer
Nem 8 nem 80

Vício em exercícios tem nome: vigorexia; entenda e saiba reconhecer os sintomas

Deixou de estar com amigos e familiares para ir treinar ou se sente muito mal quando não vai à academia? Fique atento!

Cadastrado por

Marília Banholzer

Publicado em 04/11/2021 às 18:45 | Atualizado em 04/11/2021 às 19:52
Homens com idades entre 18 e 35 anos são as principais vítimas do distúrbio - NE10

Quando uma pessoa se identifica com um exercício físico, geralmente, ela fica empenhada, quer treinar com frequência. Se dedicar ao máximo. Mas empenho é diferente de vício - no sentido literal da palavra. Chamada popularmente de vigorexia, o transtorno é uma dependência psicológica. Esse vício em praticar exercícios é um mal que (quem diria?!) afeta de a 12% da população mundial. Já dentro do recorte dos frequentadores de uma academia, por exemplo, esse número é ainda maior: de 35% a 42% dos alunos.

Em parte, esse prazer em praticar um exercício é explicado pela liberação de hormônios durante a atividade, como é o caso da endorfina, adrenalina, noradrenalina e serotonina. Essas respostas hormonais têm influência fisiológica e psicológica. Mas o bem-estar em frequentar os treinos precisa ser saudável e não deve virar um vício, no qual, ao faltar um dia, gere sentimentos como angústia, ansiedade, sensação de que todo o esforço até então será perdido.

A vigorexia é um tema amplamente estudado por psicólogos do esporte e educadores físicos, por exemplo, mas pouco falado entre atletas. Em resumo, é uma obsessão em conseguir o corpo "perfeito". Formalmente conhecido como "dismorfia muscular", também é descrito, às vezes, como uma anorexia ao contrário. Pode parecer irônico tratar sobre o assunto quando mais de 60% dos brasileiros estão sedentários durante a pandemia da covid-19 e a prática de atividades físicas é porta de entrada para uma vida mais saudável. No entanto, nada em excesso faz bem.

 

Relatos de mulheres com sinais de vigorexia têm sido mais frequentes - Divulgação

Estudos revelam que homens jovens, de 18 a 35 anos, e com baixa auto-estima são as principais vítimas da vigorexia, mas os casos entre as mulheres têm sido mais frequentes. Assim como quem sofre de anorexia e bulimia, as pessoas com vigorexia precisam de tratamento médico e psicológico. "Esse distúrbio é a busca obsessiva de uma imagem idealizada, muito pouco associada à realidade", alerta o professor doutor João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.

Ao contrário do que se pensa, uma pessoa com vigorexia não está fisicamente saudável. Ossos, tendões, articulações e músculos sofrem consequências do exercício excessivo, e lesões são frequentes. Em entrevista ao blog Saúde Brasil, vinculado ao Ministério da Saúde, a profissional de educação física Silvia Feiten, mestre em Saúde Pública do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (MS) e vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), comentou que o excesso de atividade física pode também provocar dores musculares persistentes por todo o corpo, muito cansaço, anorexia, insônia, aumento da frequência cardíaca de repouso e menor desempenho sexual. Além de causar problemas articulares e ósseos.

Paralelamente a isso, outros fatores que entram em cena na vigorexia são: a alteração da dieta alimentar, que passa a ser muito restritiva, o consumo de suplementos alimentares sem orientação e o uso de esteroides e anabolizantes, sendo esse último o mais preocupante.

De acordo com o professor João Cozac, o principal gatilho para a vigorexia é a busca da sociedade pelo corpo perfeito. "Muito desse vício é uma resposta à exigência das belas formas no campo social para que o indivíduo seja bem aceito. A vigorexia tem uma base emocional depressiva, da inexistência do contentamento do próprio corpo".

Como identificar um vigoréxico?

Alguns sinais apontam para o comportamento de um viciado em exercício físico. A auto-estima diminui, e a necessidade de fazer atividade física o tempo todo afasta a pessoa dos amigos, da família, do trabalho e de qualquer outra atividade. Ela se torna introvertida, frustrada e pode explodir em episódios de violência. "Criei um neologismo nos meus livros para esse tema que deixa a questão mais clara. O indivíduo é um 'ginastocólatra'. Ele abandona atividades primordiais e tudo isso começa a ter menos importância do que a prática do exercício físico. A pessoa começa a ter uma sensação de débito por que ela não treinou", explica o professor Cozac.

Como saber se estou "instigado" ou viciado?

Se concordar plenamente com algumas das frases abaixo pode ser sinal da dependência por exercício físico:

- As pessoas não têm ideia do quanto preciso treinar.

- Eu planejo meu treino sozinho

- Se não posso treinar, sinto que perderei todo trabalho já realizado.

- Planejo minhas atividades de acordo com o treino diário.

- Ganho muito mais treinando do que fazendo outras coisas.

Como tratar a vigorexia?

O tratamento recomendado para os viciados em esportes é o mesmo para pessoas com vícios variados. A ideia é retomar o equilíbrio e o controle sobre a atividade. "É preciso acompanhamento profissional e psicológico para ajudar o vigoréxico a ressignificar o que é um corpo belo. É preciso um equilíbrio entre praticar uma atividade que deveria ser saudável e o que pode vir a gerar prejuízos físicos, mentais e sociais", analisa Cozac. É importante lembrar que uma pessoa com vigorexia pode e deve manter uma rotina de atividade física, porém em doses menores e com orientação profissional.

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