O Brasil sempre foi uma potência mundial quando se trata de televisão. Em um investimento de décadas em novelas, produções como Avenida Brasil, de 2012, foram vendidas para mais de 100 países do globo. Uma indústria feita por muitos profissionais, que paralisou no início da pandemia, devido às restrições necessárias para combater a covid-19.
Nesse meio tempo, a TV Globo, por exemplo, deslocou a sua força máxima de produção para o Big Brother Brasil. O reality show, com a possibilidade de controle de pessoal (quem entra, quem sai) e sanitário, foi a fórmula de sucesso para que as TVs, sobretudo, abertas, continuassem com a audiência ativa. E assim também fez a Record, com A Fazenda.
Por outro lado, com o streaming enquanto concorrência ou produto paralelo, foi iniciado um movimento de mudança no formato das telenovelas, desde a produção. E uma dança das cadeiras entre grandes apresentadores segue em curso.
Big Brother Brasil 2021
Não há como citar a televisão brasileira sem mencionar o poder do Big Brother Brasil (BBB). O programa, que chegou a 21 edições neste ano, aperfeiçoou os pontos positivos da penúltima edição, renovou o quadro de participantes e teve um investimento massivo nas redes sociais - tornando-se a atração mais comentada do mundo durante os meses de exibição.
Um primeiro destaque para o BBB 21 foi a repetição do formato de participantes, novamente divididos entre anônimos e famosos, e com uma diversidade maior nos escolhidos. Chamou a atenção no início o número de pessoas negras participantes, a maior até então, mas logo se tornaram os vilões da casa - em um grupo comandado por Karol Conká, Nego Di e Projota. Os três saíram com rejeição histórica, fazendo Karol deter mais de 99% dos votos.
A eliminação de Karol também rendeu audiência à TV, com 38 pontos em São Paulo, principal praça para a emissora carioca. O paredão com a rapper foi o episódio mais visto no programa em dez anos. Já a temporada geral também foi a mais assistida desde 2011. Mas não tem como creditar parte desse sucesso ao protagonismo da paraibana Juliette, que saiu do reality show com quase 25 milhões de seguidores nas redes sociais, uma carreira musical e um sucesso publicitário jamais visto para o formato.
Sucesso não foi o mesmo em outros realities
Com o êxito do Big Brother, a Globo apostou no retorno de No Limite na grade televisiva. Apresentada por André Marques, a temporada foi composta por ex-integrantes do BBB, que foram divididos em duas equipes. Baseado no sucesso de "Survivor", No Limite não deu certo. Seja em audiência ou repercussão, o programa foi mal dirigido, pouco divulgado e o formato dos episódios empolgaram pouco os telespectadores.
Embora tenha recuperado o público na edição anterior, A Fazenda 13 não repetiu o sucesso. Nenhum dos participantes tinha o mesmo carisma e jogo que Jojo Todynho, campeã da 12, e as polêmicas envolvendo Nego do Borel enfraqueceram a trajetória do programa. O único que se sobressaiu diante dos demais colegas de edição, Rico Melquíades, conseguiu ganhar o prêmio de forma óbvia na final. Além disso, a reação conservadora do público em torno da relação de amizade entre Sthe e Dynho suscitou comentários considerados machistas sobre a participante.
Troca de apresentadores
Um dos apresentadores mais antigos da TV Globo, Fausto Silva rompeu um ciclo de 32 anos na emissora. Anunciou a saída para a TV Bandeirantes, o qual estreia em 2022, e deu espaço a Luciano Huck no comando das tardes de domingo com o "Domingão com o Huck". Entre a saída de Faustão e a chegada de Luciano, Tiago Leifert apresentou o Domingão, sendo elogiado pela crítica e pelo público à frente da atração.
Marcos Mion, que comandava A Fazenda, assinou contrato com a Globo e passou a substituir Luciano Huck aos sábados. Do outro lado da concorrência, Adriane Galisteu assinou com a Record e apresentou a última edição de A Fazenda, sendo elogiada por sua apresentação. Uma das promessas globais, Tiago Leifert decidiu não renovar com a emissora, deixando os comandos do BBB e The Voice Brasil. Com isso, Tadeu Schmidt saiu do Fantástico para apresentar a próxima temporada do Big Brother Brasil, sendo substituído por Maju Coutinho.
Novelas voltaram
Um ano após paralisação de produções, as novelas inéditas voltaram em todos os horários, justamente no marco dos 70 anos do gênero no Brasil. "Amor de Mãe", de Manuela Dias, que foi interrompida ainda no início, voltou apenas para finalizar o desfecho de Lourdes (Regina Casé) em busca de Danilo (Chay Suede). Com poucos capítulos no retorno, a trama perdeu sua força inicial e os personagens ficaram perdidos de suas características originais. "Salve-Se Quem Puder", às 19h, também foi finalizada em 2021.
"Nos Tempos do Imperados", novela das seis, foi a primeira produção inédita depois da pandemia na Globo. A novela protagonizada por Selton Mello e Mariana Ximenes é uma continuação de "Novo Mundo", sucesso do horário em 2017. "Um Lugar ao Sol", de Lícia Manzo, marcou também o retorno de Alinne Moraes e Andréa Beltrão ao horário nobre após muitos anos.
Com as restrições por causa da covid-19, acelerou-se um outro processo nessas telenovelas: o encurtamento dos capítulos. Se antes ficavam mais de sete meses no ar, as produções devem ter uma média - daqui para frente - de três a quatro meses de exibição. "Um lugar ao Sol", por exemplo, foi toda gravada e colocada no ar. Há a expectativa do remake de "Pantanal", clássico exibido na TV Manchete, com um elenco formado por Irandhir Santos, Renato Góes e Juliana Paes.
Migração para o streaming
Neste ano, as novelas também migraram para o streaming. "Verdades Secretas 2", um dos maiores sucessos da última década, retornou com 50 capítulos exclusivos para o Globoplay. A novela de Walcyr Carrasco e dirigida por Amora Mautner foi a produção mais assistida da plataforma, com mais de 50 mil horas consumidas. O sucesso da trama, que teve repercussão nos noticiários e nas redes, deve impulsionar um novo tipo de formato para o streaming brasileiro.
De olho no que a Globo vem produzindo, as outras plataformas também têm se arriscado. A HBO Max contratou Mônica Albuquerque e Silvio de Abreu - ambos eram executivos na área de entretenimento da emissora - para desenvolver telesséries para catálogo. Já a Amazon Prime contratou Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães para a criação de novos conteúdos nacionais em sua plataforma. A Netflix também ensaia essa mudança, sem anúncio oficial, de produção nacional para o catálogo.
A empresa americana foi a primeira a chegar ao País, mas emplacou poucos produtos brasileiros entre as suas produções. O cenário pode mudar no próximo ano com a contratação diretores, produtores e atores na plataforma. Além disso, a Netflix anunciou que vai trazer novas apostas nacionais no Mais Brasil na Tela, evento criado para suscitar novos debates sobre o audiovisual brasileiro.