Nos últimos dias, o Brasil tem experimentado um ‘boom’ de concursos. Só nesta semana, pelo menos 57 certames estão abertos com 6.016 vagas. O número é ainda maior se somado com as oportunidades previstas para o restante do ano. Ao todo, mais de 252 mil vagas, além de cadastro de reserva, devem ser abertas até dezembro, para a alegria dos concurseiros.
Desde o começo de 2021, apesar da crise sanitária causada pela covid-19, diversos órgãos públicos lançaram editais ou aplicaram provas de concursos, que vão desde o IBGE às forças de segurança, a exemplo da Polícia Federal, Polícia Penal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar de alguns estados brasileiros.
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O concurseiro João Vitor Pereira, de 19 anos, foi uma das pessoas que realizou uma prova durante a pandemia e já se prepara para mais uma avaliação. O estudante conta que em sua preparação o fator da aula online não foi prejudicial, já que gostava de estudar dessa forma e convida outras pessoas a abraçarem o atual momento dos concursos.
“Sabemos que as aulas presenciais, o contato com o professor influencia bastante na preparação, no entanto sempre gostei de estudar sozinho, online e eu dito o meu ritmo, priorizo as matérias. A pandemia ela afetou nesse aspecto do contato com o professor, para tirar dúvidas, nem sempre com aulas online, mas não foi tão diferente do normal para mim”, conta. "De toda forma, é preciso aproveitar esse momento. Não sabemos quando tantos concursos serão abertos de uma só vez assim", afirma.
Atualmente, instituições como a Defensoria Pública da Bahia (DPE-BA) e a PM de Alagoas estão com concursos abertos à espera dos candidatos. Só na DPE-BA são 18 vagas com salários iniciais que podem chegar a 22.528,54. Para se inscrever, os interessados devem acessar o site da Fundação Carlos Chagas (FCC), preencher um formulário com seus dados pessoais e profissionais até o dia 23 de junho, além de pagar uma taxa no valor de R$ 280,00. As provas estão previstas para ocorrer em 1º de agosto de 2021.
Já para a Polícia Militar alagoana, de acordo com o edital, serão contratados 1.060 novos soldados e cadetes, cujas remunerações passam de R$ 8.099,94. A inscrição ocorre até 2 de junho pelo site da Cebraspe, responsável pela organização do certame. A taxa de inscrição custa R$ 95,00. As provas objetivas devem ser aplicadas em 15 de agosto de 2021.
Além dessas oportunidades, nos próximos meses, ao menos 4 concursos devem ser abertos em Pernambuco. Dentre eles, os mais avançados são os da Câmara Municipal de Olinda, do Hemope e da Secretária de Educação e Esportes do Estado, que já tiveram as bancas definidas. O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) já formou a comissão para seu concurso, cuja finalidade é preencher vagas para os cargos de Técnico Judiciário, Analista Judiciário e Oficial de Justiça.
ANSIEDADE
João Vitor conta que por conta da pandemia algumas provas foram adiadas, e para os concurseiros, a ansiedade pode atrapalhar. “A ansiedade foi algo que impactou bastante, já que o concurso foi adiado algumas vezes, e sou um pouco ansioso. No final do ano estava cansado, saturado, não aguentava mais esperar, ver todo edital, ter estudado, resolvido questões para no final, ver a prova adiada. Foi complicado”, desabafa.
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Na avaliação da professora de psicologia do mestrado do centro universitário UniFBV Jesuína Ferreira, a ansiedade de João é justificada, dado o fato de não saber sobre quando os concursos estarão abertos, algo que pode afetar e dar mais pressão aos candidatos.
“Isso gera uma ansiedade muito grande, você fica com a vida parada, estudando, sem saber quando serão abertos, quando surgirá oportunidade. O emocional de grande parte das pessoas na pandemia sofreu influência grande, pelo sentimento de impotência, incerteza. É importante promover o autoconhecimento, saber lidar com as frustrações, o trabalho com um profissional especializado é fundamental. O estudante precisa aceitar que a realidade de agora não será igual ao que vivíamos antes, é continuar e não se culpar, dar o melhor e buscar esse equilíbrio, continuar firme no propósito”, destacou ela, afirmando que, apesar dos adiamentos, o concurseiro não pode deixar de estudar. “A dica principal é: continue estudando, principalmente agora, quando tantos concursos foram abertos.”
FOCO NOS ESTUDOS
Opinião parecida tem o professor de disciplinas pedagógicas e administrativas do NUCE Concuursos, Abner Mansur. Segundo ele, como todo processo seletivo, um certame público exige por si só um período de preparo maior, e com a pandemia isso se intensificou, porque um dos desafios impostos pela covid-19 foi o de estudar em casa. Mansur recomenda que um horário de estudos detalhado e bem distribuído pode ajudar em uma boa preparação, desde que sejam cumpridos à risca.
“Estudar em casa é sempre mais difícil, por conta das distrações naturais, é preciso redobrar a atenção e disciplina. A dica é montar um cronograma de horários, dentro dele vai fazer a divisão por disciplina, por horas. Ele pode ter revisões semanais, quinzenais, e acima de tudo deve cumprir ele, se trancar nos horários, e transformar em horas líquidas de estudo, sem permitir que atrapalhe, isolamento total nas horas de trabalho”, aconselha, lembrando de um serviço que cresce no Grande Recife: as cabines de estudo.
Para Abner, é importante que os concurseiros refaçam provas anteriores, para ter conhecimento das bancas elaboradoras. “Uma dica é a resolução de muitas questões, fazendo o raio X de provas passadas. Isso é importante porque as provas das bancas costumam trazer questões parecidas, com a mesma temática e mudanças de pequenos detalhes. Assim, apenas esse estudo mais pragmático já ajudará o concurseiro a pontuar bastante nas provas”, recomenda. “Esse é o melhor treinamento”, completa.
PERSPECTIVAS
O especialista em concursos e professor de Direito da UFPE e do Centro Universitário Tiradentes Sérgio Torres, que também é desembargador no TRT6, afirma, porém, que, a médio e longo prazo, a oferta de vagas para certames públicos deve cair e, com isso, aumentar a concorrência, diferente do acontece hoje.
“Eu acredito que teremos cada vez menos concursos, acompanhado, lógico, de um número menor de vagas. Em contrapartida, teremos muito mais candidatos se preparando e preparados para disputar uma vaga nos certames”, diz ele reforçando o conselho dos outros especialistas sobre o estudo. “Então, não dá para relaxar e parar de estudar. A dedicação e a disciplina será crucial. É preciso continuar com o foco na preparação”, emenda, sugerindo que os concurseiros aproveitem a leva atual de provas.
Abner Mansur, no entanto, discorda do professor e diz que, na sua avaliação, com a modernização do serviço público, a estabilidade profissional outrora garantida pelos concursos deve ser diminuída, fazendo com que muitas pessoas não se sintam atraídas pelos certames. “Nesse caso, o que pode acontecer não é o cancelamento dos concursos, mas eles não serem atrativos para as pessoas, que buscarão outras áreas que não setor público”, pontua.