Com AFP e Agência Brasil
No momento em que o coronavírus (Covid-19) se espalha rapidamente por outras partes do mundo, a China, berço da pandemia, vê o número de novos casos cair dia após dia em seu território. Nesta sexta-feira (13), houve registro de 20 infecções e sete mortes. Para frear a doença, o país adotou rigorosas quarentena nas localidades mais afetadas. As medidas foram elogiadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas também renderam críticas por autoritarismo ao presidente Xi Jinping.
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O presidente chinês, Xi Jinping, fez nessa terça-feira (10) uma visita surpresa a Wuhan e afirmou que o novo coronavírus estava "praticamente contido" na cidade. "Os primeiros resultados foram obtidos, estabilizando a situação e mudando a tendência em Wuhan e em Hubei", onde 56 milhões de habitantes estão em quarentena desde o fim de janeiro, afirmou Xi, citado pela agência estatal de notícias Xinhua.
De máscara, Xi Jinping chegou na manhã desta terça (10) a Wuhan e depois visitou o Hospital de Huoshenshan, informou o canal estatal CCTV, em referência ao estabelecimento construído em apenas dez dias para enfrentar a epidemia.
Xi Jinping, que não apareceu no início da crise, é mostrado desde fevereiro como o líder da luta contra o novo coronavírus, com "instruções" e "discursos".
De acordo com imagens divulgadas pela Xinhua, Xi conversou com pacientes e médicos por videoconferência.
Também visitou um bairro residencial de Wuhan para conversas com moradores em quarentena e com agentes responsáveis por aplicar as medidas de prevenção.
"Não devemos reduzir o esforço", frisou o presidente.
"No auge da epidemia, Xi evitou visitar o epicentro, porque não queria ser criticado", declarou à AFP Bruce Lui, professor na Universidade Batista de Hong Kong. "Mas agora a situação melhorou e faz a visita para receber elogios", completou.
O novo coronavírus surgiu em dezembro em Wuhan, antes da propagação para a província de Hubei (centro) e depois para o restante do país e do planeta.
Em janeiro, a China adotou medidas drásticas. Muitas cidades de Hubei foram isoladas e, no restante do país, milhões de pessoas foram colocadas em quarentena preventiva.
As autoridades anunciaram que a maioria das pessoas não contaminadas e que não estiveram em contato com os doentes agora pode viajar dentro da província.
A flexibilização parcial do confinamento não afeta a cidade de Wuhan. Assim, em princípio, os 56 milhões de habitantes de Hubei não podem deixar a província, informou o governo local nesta terça-feira.
Apesar da aprovação às medidas por parte da população, o governo foi criticado pela reação inicial lenta e pela detenção de pessoas críticas, acusadas de propagarem boatos.
A morte do médico Li Wenliang, que denunciou a existência do coronavírus e foi vítima da doença em fevereiro, provocou muitas críticas ao regime e, inclusive, pedidos de liberdade de expressão.
A viagem de Xi Jinping acontece poucos dias depois da principal autoridade da cidade ter afirmado que os moradores deveriam expressar "gratidão" ao Partido Comunista pela gestão da crise, o que provocou piadas dos internautas.
A cidade já havia recebido as visitas do primeiro-ministro Li Keqiang e da vice-primeira-ministra Sun Chunlan.
"A visita de Xi Jinping em Wuhan está organizada para significar que a epidemia está sob controle", declarou à AFP Hua Po, um analista político independente de Pequim.
"Sua visita serve para voltar a mobilizar a população e para demonstrar que é o momento de retomar uma vida normal e o trabalho", completa.
Em Wuhan, vários sinais apontam a normalização. Quatorze dos 16 hospitais de campanha estão fechados, os funcionários do aeroporto voltaram a trabalhar, e o número de novos casos diários registra queda há várias semanas.
Após registrar uma onda de contaminação, a Coreia do Sul conseguiu reduzir significativamente o número de novos casos da Covid-19, mantendo uma taxa de mortalidade relativamente baixa.
Na quarta-feira (11), a Coreia do Sul registrava 7.755 casos confirmados, sendo o quarto país mais afetado hoje no mundo. O número de novos casos caiu consideravelmente, porém, e apenas 60 pessoas morreram até agora.
Isso faz da Coreia do Sul um modelo na luta contra a epidemia?
Como gerencia a epidemia?
Ao contrário da China, que optou por confinar milhões de pessoas, a Coreia do Sul adotou uma estratégia que combina informações ao público, participação da população e uma campanha de testes em massa.
Os parentes de todas as pessoas contaminadas são procurados sistematicamente para que façam testes.
Antes de serem diagnosticados positivos, os deslocamentos dos pacientes são rastreados através de imagens de videovigilância, uso do cartão de crédito, ou situação de seu telefone celular, e depois publicados. Mensagens por SMS são enviadas às pessoas, quando um novo caso é detectado perto de suas casas, ou trabalho.
Essa estratégia levantou questões sobre a proteção da privacidade, mas levou muitos a serem testados.
A Coreia do Sul fez mais testes do que qualquer outro país, a uma taxa de cerca de 10.000 por dia, o que tornou possível enfrentar as fontes de infecção muito cedo.
Como faz tantos testes?
Na quarta-feira, o número total de testes realizados era de 220.000. O país tem 500 clínicas habilitadas para realizá-los, incluindo cerca de 40 delas móveis, para reduzir os contatos entre pacientes em potencial e profissionais de saúde.
A Coreia do Sul aprendeu com seus próprios erros e, principalmente, com a falta de evidências disponíveis em 2015 quando a crise da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers) ocorreu.
Desde então, acelerou os procedimentos para colocar testes no mercado e, poucas semanas após o aparecimento do coronavírus na China, a Coreia do Sul autorizou o fornecimento às clínicas de um novo teste para diagnosticar o Covid-19 em seis horas.
Como a população reagiu?
As autoridades lançaram uma campanha de "distanciamento social", pedindo às pessoas que ficassem em casa, evitassem grandes aglomerações e reduzissem contatos.
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Isso resultou no esvaziamento de bairros muito frequentados, enquanto bares e restaurantes tiveram dificuldade em atrair clientes.
Muitos eventos esportivos e culturais foram cancelados, e o uso da máscara protetora se generalizou, conforme solicitado pelo governo.
Por que a taxa de mortalidade é tão baixa?
Hoje é impossível calcular com precisão a taxa de mortalidade do Covid-19, que será conhecida exatamente somente após a epidemia.
A observação de números transmitidos pelo governo dá, porém, a impressão de uma mortalidade muito mais baixa na Coreia do Sul do que em outros lugares. Vários fatores explicam essa impressão.
A campanha de testes tornou possível o atendimento precoce dos doentes. Sua amplitude facilitou a apresentação de muito mais possibilidades de localizar pacientes que apresentavam nenhum ou poucos sintomas e que não foram testados em outros países. Conseguir localizar mais pessoas doentes reduziu matematicamente a taxa de mortalidade.
Além disso, a população infectada na Coreia do Sul tem um perfil único, pois a maioria é mulher e cerca da metade tem menos de 40 anos de idade.
As autoridades explicam isso pelo fato de que mais de 60% dos casos de contaminação estão relacionados à Igreja Shincheonji de Jesus, uma organização religiosa. A maioria de seus membros é formada por mulheres, muitas entre 20 e 30 anos.
Sabe-se que a taxa de mortalidade por coronavírus aumenta com a idade, e aqueles com mais de 80 anos - e homens em particular - são os com maior risco.
Coreia do Sul, exemplo a seguir?
"Os testes são um passo inicial crucial no controle de um vírus", diz Masahiro Kami, do Instituto de Pesquisa de Políticas Médicas de Tóquio. "Portanto, um bom modelo para todos os países", completou.
A Coreia do Sul "agiu rápido e bem", aponta Marylouise McLaws, da Universidade de New South Wales.
"É muito difícil para as autoridades decidirem aplicar medidas tão fortes. Geralmente isso é feito tarde", observou.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
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O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse nesta quarta-feira (11) que a epidemia de Covid-19, que infectou mais de 110.000 pessoas em todo mundo desde o final de dezembro, pode ser considerada uma "pandemia", mas que pode ser "controlada".
"Estamos profundamente preocupados com os níveis alarmantes de propagação e de gravidade, bem como com os níveis alarmantes de inação" no mundo, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra.
"Consideramos, então, que a Covid-19 pode ser caracterizada como uma pandemia", afirmou.