Não bastasse a crise sanitária e econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus, os moradores de alguns pontos da Região Metropolitana do Recife (RMR) precisam lidar, também, com o desabastecimento de água. E a situação, que já era crítica em muitos bairros, ainda vai piorar. Isso porque a Compesa anunciou nesta sexta-feira (22) um novo calendário de abastecimento para o Grande Recife, aumentando os dias sem água em diversas localidades e afetando a vida de 2 milhões de pessoas.
Em coletiva de Imprensa realizada nesta sexta-feira (22), a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac), apresentaram relatórios com a capacidade atual de acumulação dos reservatórios de água do Estado. O cenário observado é o pior dos últimos dez anos, segundo a própria Companhia.
Na Barragem Botafogo, por exemplo, que abastece os municípios de Olinda, Paulista, Igarassu e Abreu e Lima, a situação é extremamente crítica, com apenas 5,98% da capacidade de acumulação total. E pra piorar, a previsão é que os próximos três meses sejam de chuva abaixo da média nos pontos mais afetados do Grande Recife.
"A previsão climática para os próximos meses, janeiro, fevereiro e março é uma grande probabilidade dos acumulados ficarem abaixo da média. Já estamos num período que não tem previsão de muita chuva, porque estamos fora do período chuvoso, e a previsão se consolida de que essa pouca chuva ainda será abaixo da média climatológica", explicou a diretora de Regulação e Monitoramento da Apac, Crystianne Rosa.
Por conta disso, a Compesa anunciou um novo calendário de abastecimento para o Grande Recife, aumentando os dias sem água na região. A desculpa, agora, é que esta adequação ajudará a preservar a água restante nos reservatórios por mais tempo. "A Compesa fez, de forma antecipada, sempre em contato com a Apac, um estudo para que adequemos o nosso calendário de forma a continuar preservando os nossos mananciais e servindo a população e mantendo o nosso regime de distribuição", disse a presidente da Compesa, Manuela Marinho.
Em Olinda, a distribuição, que era inicialmente de um dia com água e quatro dias sem, agora passou para um dia com água e sete dias sem. O novo calendário, apesar de ter aumentado a quantidade de dias sem o recurso hídrico, não chega nem perto da falta d'água registrada de fato no município. No Sítio Histórico de Olinda, a falta do recurso é recorrente e algumas casas chegam a bater a marca de mais de 20 dias sem registrar a chegada de uma gota d'água sequer. "Desde o ano passado todos os moradores reclamam da falta de água aqui no Sítio Histórico. Sempre houve o descaso. Algumas ruas sofrem com mais intensidade que outras, chegando a passar mais de 20 dias sem água", revelou Vanessa Nobre, que é moradora da Rua Henrique Dias, no Varadouro.
Além de diminuir consideravelmente a qualidade de vida da população, o problema afeta diretamente no bolso. "Eu moro na Rua Henrique Dias, no Varadouro, aqui a água chegou no domingo passado (17), mas passou quase 15 dias sem entrar água. Temos um empreendimento aqui em casa, de alimentação, e ele foi diretamente impactado pela falta de água. Tivemos que suspender as atividades semana passada porque não tínhamos uma gota d’água por aqui", contou Vanessa. "Deixamos de gerar nossa renda por incompetência da Compesa e da Prefeitura, que fica só assistindo e não toma nenhuma ação efetiva em relação a tudo isso", completou, revoltada.
No bairro de Peixinhos, a situação também é crítica. "São cerca de cinco dias sem água. Quando chega, é sempre fraca nas torneiras. Quem tem cisterna consegue ficar melhor, mas quem não tem precisa apelar para os baldes mesmo", conta o repositor Eduardo Santos, 39. Para ele, a diminuição do fornecimento é inaceitável. "Vai ficar horrível. É complicado para quem tem família, filhos pequenos, como eu que tenho dois filhos e estou desempregado", criticou.
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Para a advogada Priscila Bernardo, moradora do bairro do Carmo, também em Olinda, o calendário de abastecimento é "falácia". "Esse calendário é mais uma falácia da Compesa, que não cumpre nenhum prazo estipulado pela própria companhia".
A olindense revelou estar sem água desde o dia 2 de janeiro. "Apesar de ter cisterna, é um verdadeiro martírio, fomos recebidos em janeiro com a falta d’água desde o dia 02, sem qualquer justificativa, previsão concreta de reabastecimento. É um total descaso com o cidadão". Após tanto tempo sem água, Priscila resolveu solicitar um caminhão pipa gratuito da Compesa, mas também não teve sucesso.
"São respostas efusivas, que não condizem com a realidade. Informam da disponibilidade de caminhões pipa no prazo de 03 dias e simplesmente não é cumprido, quando você liga pra cobrar, o único posicionamento que recebe é um novo número de protocolo. É de uma incompetência sem tamanho uma cidade do porte de Olinda estar sem a prestação de um serviço básico é essencial desse por tanto tempo".
Na última terça-feira (19), moradores do Sítio Histórico de Olinda e de outros bairros atingidos pelo desabastecimento foram às ruas denunciar o descaso. Com cerca de 100 pessoas protestando, a Rua do Sol, no bairro do Carmo, foi tomada pela revolta da população, que denunciou o não cumprimento do então calendário de abastecimento.
Agora, com a divulgação deste novo cronograma, os moradores custam a acreditar que terão água chegando em suas torneiras nas datas estabelecidas. Para Vanessa Nobre, essa é apenas uma desculpa para protelarem ainda mais o abastecimento. "Eles agora só estão com a desculpa pra passarmos mais dias sem água. Não cumpriam e vão continuar sem cumprir, provavelmente".
Enquanto isso, moradores garantem que, diferente da água, que demora semanas para descer pelas torneiras, as contas continuam chegando e sem um dia sequer de atraso. "A única regularidade em relação a compesa é o recebimento das contas, que aqui já veio bem alta em alguns meses, mas quanto ao serviço, é desrespeito e descaso que encontramos", finalizou Priscila Bernardo.
Investimentos
Segundo a Compesa, investimentos estão sendo feitos para enfrentar esse quadrimestre com previsão de chuvas abaixo da média na RMR. “Diante da previsão da Apac e do nosso monitoramento contínuo dos mananciais, a Compesa intensificou os investimentos em ações para dar suporte aos sistemas de abastecimento da RMR. Desde o ano passado, planejamos investimentos a curto, médio e longo prazo para esse período, e, de imediato, estamos investindo cerca de R$ 20 milhões em ações para ampliar a oferta de água e para trazer mais segurança hídrica aos sistemas”, assegurou Manuela.
Entre os investimentos, estão em curso serviços para reativação e perfuração de mais de 30 poços na RMR, que representam novas captações, incremento de produção e melhoria da distribuição da água. O trabalho começou ainda no ano passado na área dos morros da Zona Norte do Recife e seguirá sendo executado em outras áreas da capital e nas cidades de Goiana, Abreu e Lima, Igarassu, Olinda e Paulista. O incremento dos poços representará mais de 550 litros de água por segundo.
CONFIRA NOVO CALENDÁRIO
Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu
Agora ficam um dia com água e sete dias sem.
Recife
- Linha do Tiro, Beberibe, Alto Santa Terezinha, Água Fria, Bomba do Hemetério, Alto do Deodato, Alto José Bonifácio, Alto do Pascoal, Fundão, Porto da Madeira, Cajueiro, Hipódromo, Encruzilhada, Torreão, Campina do Barreto, Arruda e parte dos bairros do Espinheiro, da Jaqueira, da Tamarineira, do Rosarinho, do Parnamirim e Aflitos agora ficam um dia com água e dois dias sem.
- Engenho do Meio, Cidade Universitária, Várzea, Cordeiro, Caxangá, Jardim Petrópolis, Loteamento Novo Caxangá, Iputinga, Nova Morada, Vila Felicidade, Monteiro, Apipucos, Jaqueira, Dois Irmãos, Macaxeira, Casa Amarela, Casa Forte, Poço da Panela, Santana, Alto Santa Isabel, Mangabeira, Alto do Mandu, San Martin, Jiquiá, Vietnã e parte dos bairros da Tamarineira, do Rosarinho, do Parnamirim, dos Aflitos, da Torre, do Zumbi e Prado agora ficam um dia com água e cinco dias sem.
- Mustardinha, Ilha do Leite, Madalena, Graças, Coelhos, Paissandu, Boa Vista, Santo Amaro, Recife Antigo, Tacaruna, Vila Santa Luzia e parte dos bairros do Prado, da Torre, do Espinheiro, dos Aflitos e do Zumbi agora ficam um com água e um dia sem.
- Jordão Alto e Jordão Baixo ficam 12 horas com água e 72 horas sem.
- Ibura de Baixo e UR3 ficam um dia com água e dois dias sem.
Jaboatão dos Guararapes
Engenho Velho, Santo Aleixo, Fazenda Suassuna, Centro, Bela Vista, Alto da Fábrica, Alto do Raposo, Multifabril, Vila Piedade, Lote 23, Vila Natal, Artur Xavier, 21 de Abril, Hermes de Fonseca, Bom Sucesso, Carlos Pinto, Nossa Senhora dos Prazeres, Alto do Vento, Marechal Rondon, Quitandinha, Alto Santa Rosa e Vila Rica)
Agora ficam um dia com água e 20 dias sem.
Cabo de Santo Agostinho
- Garapu, Cohab, Vilas Sociais, Pista Preta, Vila Pirapama ficam com um dia de água para um dia sem. Alto do Cruzeiro e Charnequinha agora ficam 16 horas com água e 24 horas sem.
- Cidade Jardim, Pontezinha, Ponte dos Carvalhos, Itapuama e Paiva agora ficam com 16 horas de abastecimento e 36 horas sem.
Camaragibe
Agora fica um dia com água e 15 dias sem.
São Lourenço
Agora fica um dia com água e 10 dias sem.
Moreno
Agora fica dois dias com água e nove dias sem.
Os ajustes de calendário serão implantados de forma gradual a partir de 25/01/21