O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, se posicionou formalmente sobre a confusão entre PMs e manifestantes contrários ao governo Bolsonaro no início da tarde deste sábado, no Centro do Recife. Em comunicado oficial nas redes sociais, o governador anuncia que determinou o afastamento do oficial que comandou a ação para dispersar a manifestação e o policial que teria agredido com spray de pimenta a vereadora do Recife Liana Cirne (PT). A identificação dos policiais, no entanto, não foi divulgada pelo Estado, assim como uma explicação sobre as razões da repressão policial.
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“Sempre pratiquei na minha condição de governador de Pernambuco, os mesmos princípios que defendo como cidadão e democrata. Repudiamos todo ato de violência, de qualquer ordem ou origem. Sobre o ocorrido durante manifestação no Centro do Recife, na manhã deste sábado, determinei a imediata apuração de responsabilidades”, diz o governador.
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E segue: “A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos. O oficial comandante da operação, além dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne, permanecerão afastados de suas funções enquanto durar a investigação. Sempre vamos defender o amplo diálogo, o entendimento e o fortalecimento de nossas instituições dentro da melhor tradição democrática de Pernambuco”, finaliza.
Ato contra Bolsonaro no Recife
O ato contra o governo de Jair Bolsonaro que aconteceu na manhã deste sábado (29) no Centro do Recife foi surpreendido pela ação de forças policiais, que usaram spray de pimenta e bala de borracha para dispersar a multidão. O protesto era, até então, pacífico, mas aconteceu em descumprimento ao decreto estadual que proíbe aglomerações de pessoas devido à crise sanitária causada pela covid-19. Por volta das 13h, o grupo de protestantes já estava disperso. Houve militantes feridos e presos.
Os policiais montaram uma barricada em cima da Ponte Duarte Coelho, que liga a Avenida Conde da Boa Vista à Avenida Guararapes, e avançaram contra os manifestantes, que afastavam-se do confronto em direção à Rua da Aurora. Bombas de gás lacrimogênio foram lançadas contra os militantes. Havia cerca de dez viaturas da PM no local. E, ainda, um helicóptero da Secretaria de Defesa Social (SDS) rondava a Avenida Conde da Boa Vista.
"Estávamos tranquilos, chegando na Avenida Guararapes, quando fomos confrontados pelo Choque e recebidos com bala de borracha. Foi desnecessário. Você diz que está protegendo a saúde do trabalhador, mas estava ferindo e colocando em risco a integridade física dos manifestantes. A policia agiu de maneira arbitraria e truculenta por mais de 40 minutos. Tivemos companheiros feridos e presos", relatou Antônio Celestino, que integra a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE).
Por nota, a Comissão Executiva da Câmara Municipal repudiou "com veemência os atos violentos ocorridos neste sábado (29), durante manifestação no centro da cidade. Uma das vítimas destes atos foi a vereadora Liana Cirne (PT), covardemente atingida nos olhos com spray de pimenta, quando tentava dialogar com policiais militares na Ponte Princesa Isabel."
Já a OAB-PE exigiu "uma apuração rigorosa e punição por parte do Governo do Estado de Pernambuco dos responsáveis pela atuação da Polícia Militar durante toda a manifestação", também repudiou a violência contra a vereadora Liana Cirne e informou que levará o caso "aos órgãos competentes e estará à disposição para prestar assistência no caso".
O ato
O protesto teve concentração na Praça do Derby, por volta das 9h, e contava com a presença de centrais sindicais, movimentos estudantis e sociais e representantes da sociedade civil, que denunciavam ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de sua equipe principalmente durante a pandemia da covid-19.
O que se observou no ato foi o uso massivo de máscaras - principalmente do tipo PFF2/N95, a mais recomendada para vedação contra o vírus, segundo estudo recente da Universidade de São Paulo - e a tentativa de se manter um distanciamento social e fornecer álcool para higienização das mãos. Mas, mesmo assim, aglomerações foram registradas. Os militantes carregavam bandeiras e cartazes, muitos com os dizeres: "Fora Bolsonaro, Mourão e militares", "Cadê a vacina, Bolsonaro?" e "Não tem vacina? A culpa é dele!". A passeata começou por volta das 10h40.
Além das críticas a Bolsonaro, outras pautas também foram trazidas pelo ato, como detalhou o representante da Central Sindical e Popular (CSP) Conlutas no Recife, Carlos Elias. "A principal reivindicação é derrubar o governo Bolsonaro e Mourão, mas também é pelo auxílio emergencial para todas as pessoas que estão passando por necessidade, contra a reforma administrativa que vai atacar a saúde e a educação, destruindo serviços públicos, contra as privatizações, contra a destruição do meio ambiente e em apoio à luta dos povos indígenas", explicou.
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Ainda denunciou as medidas tomadas pelo governo de Pernambuco e pela Prefeitura do Recife. Estamos aqui para também denunciar o negligenciamento com as medidas sanitárias tanto no governo Bolsonaro, quanto no governo Paulo Câmara, e aqui, no Recife, do governo João Campos", disse Elias.
Segundo levantamento da BBC News, o protesto contra o governo Bolsonaro estaria marcado para este sábado (29) em pelo menos 85 cidades brasileiras. Nessa sexta (28), a 34ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, com atribuição na Promoção e Defesa da Saúde do MPPE, expediu a Recomendação referente ao Procedimento Administrativo nº 02061.000.268/2020 para a não realização de quaisquer atos que possam vir ocasionar aglomerações de pessoas.
O documento destinava-se aos integrantes das Frentes Povo sem Medo e Brasil Popular, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), bem como as demais entidades e movimentos sociais que estão convocando e convidando a população para o ato em questão.
Ainda assim, muitas organizações decidiram manter a manifestação. "Fizemos um encontro ontem com todas as lideranças que estão hoje nessa atividade, e agora mesmo estamos seguindo todos os protocolos, existe uma equipe que está fazendo o processo de separar as pessoas e higienizar as suas mãos. A princípio, seria uma caminhada até o centro, mas foi abortada. Não vai ter mais a caminhada, mas sim um ato simbólico envolvendo todas as entidades e movimentos sociais que estão aqui", relatou o diretor da Federação Única dos Petroleiros, Luis Lorenzon.
Horas após a concentração na Praça do Derby, contudo, os manifestantes saíram em caminhada pela Avenida Conde da Boa Vista.
Petrolina
A manifestação também ocorreu na Praça Maria Auxiliadora, no Centro de Petrolina, no Sertão do Estado, e vai circular por algumas ruas do Centro da cidade. Segundo os organizadores, há orientações para que os presentes respeitem as medidas sanitárias de proteção à covid-19.
“Estamos organizando três filas, respeitando a distância de 1,5m das pessoas. Temos seis faixas para facilitar a distribuição [dos manifestantes], e durante todo o ato terá distribuição de álcool em gel por nossa equipe de segurança, também estamos distribuindo máscaras PFF2 para pessoas e a equipe de segurança mai estar vigilante para que as pessoas não se aglomerem, retirem ou abaixem a máscara”, explicou Fernanda Vilas Boas, membro da União da Juventude Comunista (UJC).
O ato tem a participação ainda de membros do Diretório Central dos Estudantes da Univasf, União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação (SINTEP), Seção sindical dos docentes da UNIVASF (SINDUNIVASF), Sindicato dos Trabalhadores Assalariados Rurais (STAR), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica (Sinergia), Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf), Associação Raízes, Coletivo Cores, Rua Juventude Anticapitalista, União da Juventude Socialista (UJS) e dos movimentos Olga Benário e Luta de Classes (MLC).
“Estamos defendendo a vida do povo brasileiro. Vemos o que o governo federal, desde o começo, não tem tomado nenhuma medida efetiva contra a pandemia e ainda menosprezou a disseminação do vírus. A situação do país está cada vez pior, com preços altos de alimentos, gás e da gasolina, e com o desemprego se mantendo. Também estamos defendemos a vacinação da população. O vírus não é o único culpado [pelo cenário atual], mas também o governo federal”, disse Bruno Melo, membro da Unidade Popular (UP).