ENTREVISTA

"Governador se precipitou" ao exonerar comandante da PMPE, avalia ex-secretário de Segurança Pública sobre ação em ato no Recife

Para o Coronel José Vicente, "ainda que tenha acontecido um excesso policial, não foi a polícia que fez, foram alguns policiais"

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Katarina Moraes

Publicado em 03/06/2021 às 9:33 | Atualizado em 03/06/2021 às 10:09
A repressão policial com uso de balas de borracha deixou duas pessoas cegas em um dos olhos - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Ex-secretário nacional de Segurança Pública, Coronel José Vicente foi à Rádio Jornal na noite dessa quarta-feira (2) comentar sobre a ação da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) durante ato contra o governo Bolsonaro que aconteceu no Centro do Recife no último sábado (29). A repressão policial com uso de balas de borracha deixou duas pessoas cegas em um dos olhos, que não participavam da manifestação, e foi vista pelo governador Paulo Câmara (PSB) como excessiva, a ponto dele exonerar o então comandante da corporação, Vanildo Maranhão, que entregou o cargo.

O Coronel José Vicente defendeu que o chefe do executivo estadual se precipitou em pronunciamento que disse que não é a favor de “uma polícia que atire no rosto das pessoas, ou que impeça alguém ferido de ser socorrido, mas uma polícia que represente os anseios de uma sociedade pacífica, plural e democrática”, e que nem mesmo deveria ter exonerado o comandante. “Ainda que tenha acontecido isso, não foi a polícia que fez, foram alguns policiais. É necessário respeitar o trabalho da polícia. Essa acusação genérica não é boa para as relações do governador e seus comandados policiais”, disse o coronel.

Durante a entrevista, ele reforçou, a todo momento, a necessidade de apuração dos fatos. “Para a polícia, a pressa não é tão importante. O que é importante primeiro é dar o reparo às pessoas feridas. Em segundo lugar, buscar a verdade dos fatos para fazer justiça tanto àqueles que acusam se tiverem corretos, como também à PM. O fato não pode sair do alcance dos policiais que participaram. Estou há quase 60 anos na polícia de alguma forma e sempre aprendi a respeitar o tempo de avaliação e de análise de todos os fatos antes de emitir um julgamento”, disse.

O ato do último sábado pedia por vacina contra a covid-19 e comida no prato dos brasileiros, e foi levantado em desfavor das ações do executivo federal durante a pandemia em diversas cidades do país. A passeata no Recife - formada por dezenas manifestantes que usavam máscaras e tentavam manter um distanciamento social entre si - era pacífica até a interceptação da polícia na Ponte Duarte Coelho, quando bombas de efeito moral e balas de borracha começaram a ser disparadas contra os protestantes. Vídeos da ação policial foram divulgados na internet, e causaram revolta. Até hoje, não há a resposta para a pergunta mais frequente: “quem deu a ordem?”.

José Vicente explicou que “o responsável é sempre quem está comandando no local do evento”, mas que “alguém da coordenação ou o próprio secretário de Defesa Social pode ter dado a ordem, no sentido de segurar usando toda a força necessária”. “O governador tem que verificar o que realmente aconteceu. Se houve uma interferência indevida em termos do centro de operação para dizer faça ou não faça, deve ser responsabilizado. A responsabilidade é sempre de quem está no comando local. Se ele errou, vai ser punido eventualmente”, defendeu.

Um dos vídeos publicados mostra um policial atirando gás lacrimogêneo contra um grupo de pessoas que tentava socorrer um dos feridos. A ação, para o coronel, “certamente não representa a Polícia Militar de Pernambuco”. “Se um policial atirou a bomba de gás contra as pessoas que estavam socorrendo, ele quebrou seu compromisso de proteção das pessoas e deverá ser punido. Por isso, é necessária uma apuração detalhada de quem fez o quê, onde, quando e como para definir as responsabilidades, porque ela não pode respingar em pessoas que estavam ali, como é o caso do comandante geral e todos os outros PMs”, disse.

O ex-secretário de Segurança Pública ainda considera que há bom treinamento da Polícia Militar de Pernambuco em comparação a dos demais estados. “Levo em consideração o currículo da PMPE, que é uma das melhores do Brasil. É disparada a melhor de todo Nordeste e uma das 5 melhores do Brasil. É muito bem treinada, muito bem comandada. O estado que teve o melhor desempenho na redução da violência de todo o Nordeste e isso se deve principalmente à PM.”

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