Atualizada às 17h50 de 5 de dezembro de 2021
Brincar, brincar e brincar. Aliás, andar de bicicleta. Esse é o sonho da pequena Kemilly Kethelyn Lino, 8 anos, a garotinha que sobreviveu depois de ser esmagada por uma placa de concreto do muro do Metrô do Recife, na altura do Coque, na Ilha Joana Bezerra, área central do Recife, em outubro. Após curar ferimentos graves que o abandono da estrutura do sistema metroferroviário metropolitano provocou, esse é o maior desejo da menina, que voltou para casa neste domingo (5/12), depois de quase dois meses internada no Hospital da Restauração, no Derby, área central da capital. Mesmo tendo uma longa fase de recuperação ainda pela frente, o retorno da pequena foi comemorado por todos e visto como um verdadeiro milagre.
Dois dias após muro do Metrô do Recife atingir menina de 8 anos, CBTU diz que vai investigar o caso
Governo de Pernambuco vai à polícia contra CBTU por queda de muro sobre criança no Recife
“É um milagre ela estar com a gente. Sou enfermeiro e fui um dos primeiros a socorrê-la. Pela situação que vi, pelos ferimentos nela, acreditei que não resistiria porque a placa era muito pesada. Mas graças a Deus ela está bem e de volta”, comemorou Jonata Bruno da Silva, presidente do Projeto Mão Amiga, entidade que realizava a festa do Dia das Crianças quando houve a queda do muro. A alegria da volta foi enorme para Kemilly. “Eu estava com saudade da rua. Quero muito brincar. Quero muito andar de bicicleta, que um tio prometeu me dar. Eu sei que ainda não posso, mas quando puder, vou brincar muito. Enquanto isso, vou brincar de boneca”, disse a garota, recebida com muita festa e esperança pela família, amigos e vizinhos do Coque.
As lembranças da garota sobre o momento da queda do muro confirmam o que várias testemunhas disseram: que tudo aconteceu muito rápido porque a estrutura estava extremamente comprometida. “Eu lembro que estava chuviscando e, por isso, todo mundo foi para perto do muro. De repente, todo mundo correu. Quando eu fui correr, ela caiu em mim. Depois não lembro de mais nada”, contou. Kemilly, segundo o HR, sofreu politraumatismo. Teve fraturas no crânio, na coluna, nos pés e na pelve, onde foi feita uma cirurgia. Ficou oito dias na UTI.
Por enquanto, a garota não pode andar e terá que ser carregada no colo para todas as atividades. Mesmo assim, a família era só alegria com a volta dela para casa. “Estou muito feliz porque o pior já passou e minha filha voltou para casa. Ela agora não pode andar porque sente muitas dores nas pernas. Nem brincar. Mas se Deus quiser vai voltar em breve. Foi um período muito difícil. Ela sofreu muito e pedia a todo instantes para voltar para casa. Queria brincar”, revela a mãe de Kemilly, Caroline Pereira da Silva.
COBRANÇA À CBTU
Familiares e amigos da família aproveitaram a volta da criança para casa e cobraram uma ajuda da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), gestora do Metrô do Recife e responsável pelo abandono do muro que cerca as linhas elétricas do sistema (Centro e Sul). Segundo Jonata Bruno da Silva, a companhia até agora não ofereceu nenhum tipo de assistência à família. “Pedimos que a CBTU se pronuncie porque ela prometeu prestar assistência, mas não tem acontecido. Nenhuma ajuda foi dada até agora”, disse.
Para se ter ideia das necessidades enfrentadas por Kemilly e sua família, o projeto que realizava a festa do Dia das Crianças no momento que o muro caiu atende 120 famílias em situação de vulnerabilidade social. O Coque, inclusive, está no bairro com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Recife, com 57% dos moradores vivendo com renda mensal entre R$ 130 e R$ 260. A responsabilidade criminal sobre o acidente segue sob investigação da Polícia Civil de Pernambuco, mas detalhes ainda não foram divulgados.
Na tarde deste domingo (5), a CBTU respondeu à reportagem e ressaltou que após o acidente prestou assistência à família. Confira o posicionamento:
A CBTU informa que, primeiramente, recebeu com muita satisfação o retorno da menina para casa.
E que, de imediato após o acidente, em solidariedade ao ocorrido, prestou sim assistência para a família, atendendo aos pleitos solicitados, como cestas básicas, fraldas, acompanhamento psicológico e social e disponibilizando locomoção.
A Companhia agora aguarda o resultado da perícia pelos órgãos responsáveis.
Reforçamos que não há histórico de acidentes desta natureza em nosso sistema, e que as vedações são seguras, exceto quando há intervenção externa, como, por exemplo, ateamento de fogo, perfurações ou despejo de lixo ante aos muros.
Um plano de ação, vistoriando as estruturas, está em execução.