Bugueiros, barraqueiros e jangadeiros de Porto de Galinhas não vão trabalhar nesta sexta-feira (1º). Representantes desses profissionais afirmaram que a decisão de parar as atividades se deve ao sentimento de insegurança na praia depois que o confronto entre traficantes e policiais militares, na última quarta-feira (30), resultou na morte de uma menina de 6 anos.
Devido ao mesmo sentimento de medo, os turistas, justamente o público que utiliza os serviços, estão preferindo ficar nas pousadas e hotéis.
"A cidade está uma bagunça, nós e os turistas estamos todos assustados. Por isso preferimos não trabalhar nessa sexta. Ontem (quinta) também não saímos, mas foi por causa do luto pela morte de Heloysa. O pai dela é jangadeiro e em solidariedade a ele, não realizamos passeios", afirmou o presidente da Associação de Jangadeiros de Porto de Galinhas, Sávio Acioly.
- Porto de Galinhas: cerca de 250 policiais militares e civis são enviados à cidade de Ipojuca
- Porto de Galinhas: comércio amanhece mais um dia fechado na praia, mesmo com a presença da polícia. Veja últimas notícias
- Porto de Galinhas: após anunciar reforço da polícia na praia, governador Paulo Câmara é criticado nas redes sociais
A entidade tem 84 associados. Geralmente cada jangadeiro faz um passeio por dia, por R$ 40 por pessoa. Uma jangada leva até seis turistas. "O prejuízo é enorme. Até quarta-feira o movimento estava bom. Esperamos que o sentimento de medo passe e voltemos ao trabalho no sábado", comentou Sávio.
O jangadeiro Carlos Roberto da Silva, 41, participou das manifestações, mas defende que o comércio seja retomado para que quem depende dele não seja mais prejudicado. “Jangadeiros são quase uma família, e quando houve o incidente com a menina a gente resolveu parar. Acho que hoje já podia estar todo mundo trabalhando, porque tem muita família que depende da praia. Tenho barraca e faço passeio de jangada, o prejuízo é grande.”
A presidente da Associação dos Barraqueiros do Litoral de Ipojuca, Gisélia Joseane, disse que a decisão dos donos de barracas foi ficar em casa nesta sexta-feira. "Vimos cenas de terror nesses dias. Estamos inseguros. Eu mesma fiquei trancada em casa, sem coragem para sair", disse Gisélia. "Por pressão, nós barraqueiros não vamos trabalhar hoje (sexta). Preferimos esperar as coisas se acalmarem", ressaltou.
A associação reúne 130 barraqueiros que atuam nas praias de Porto de Galinhas, Muro Alto, Cupe, Maracaípe e Serrambi. "Já tivemos os prejuízos provocados pela pandemia. Estamos na baixa temporada. Ficar sem trabalhar um dia é péssimo", lamentou Gisélia.
A paralisação acontece em todos os comércios de Porto. Morador de Nossa Senhora do Ó, próximo a Porto, o vendedor de crustáceos Amaro Santana, 54, mal havia vendido as mercadorias no final da manhã desta sexta. “Hoje o movimento estaria bom, porque está sol, e eu já teria quase acabado de vender. Não tenho expectativa que melhore, porque está tudo parado com as pessoas em luto. Está difícil”, relatou.
VOLTA ANTECIPADA
A fisioterapeuta Jéssica Moreno, 32 anos, antecipou a volta para o Rio de Janeiro, onde mora. Ela e o marido ficariam em Porto de Galinhas até o próximo domingo, mas diante do clima de medo, decidiram ir embora nesta sexta-feira.
"Optamos por vir para Porto de Galinhas por ser mais tranquilo e mais seguro, uma vila de pescadores. Não fomos para Recife justamente por ser uma cidade grande como o Rio de Janeiro. Fomos surpreendidos na quarta-feira com esse problema da segurança. Foi muito violento, teve tiro, gente correndo. Na quinta estava tudo fechado, quase ficamos sem comer", contou Jéssica.
"Pedimos à operadora para ir embora, mas como colocaram fogo nas entradas e saídas da praia, infelizmente vamos embora. Não pretendo voltar a Porto de Galinhas, nem indicar para meus amigos. As praias são lindas, maravilhosas, as pessoas muito legais, mas a presença do Estado é insuficiente para garantir segurança", afirmou a fisioterapeuta carioca.
SEM EXCURSÕES
O vendedor Jonnhy Mateus Ferreira, 23 anos, não conseguiu vender nenhum passeio para turistas nesta sexta-feira. "Temos excursões para Maragogi, Carneiros, city tour para Recife e Olinda. E mergulhos com cilindro. Mas hoje não tem nenhum passeio previsto", afirmou.
Por dia, com um bom movimento, ele fatura cerca de R$ 400. "Espero que o comércio volte ao normal no fim de semana", disse Jonnhy. Mesmo com poucas pessoas circulando, ele conseguiu vender alguns passeios para os próximos dias.
ENTENDA
No fim da tarde da última quarta-feira, a menina Heloysa Gabrielly foi atingida por disparos de arma de fogo no peito. A Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) informou que a fatalidade aconteceu durante uma troca de tiros com traficantes. O caso ocorreu em um local conhecido como Praça da Televisão, na comunidade Salinas.
De acordo representantes do Conselho Tutelar de Porto de Galinhas e Maracaípe, a polícia entrou na comunidade já atirando e acertou a criança. A morte de Heloysa gerou bastante revolta entre os moradores da comunidade, que foram às ruas protestar contra a atitude dos policiais, inclusive, interditando a principal via de acesso à praia de Porto de Galinhas, ateando fogo em pneus colocados na pista.
INVESTIGAÇÃO
A morte da menina está sendo investigada pela Polícia Civil de Pernambuco. Na quinta-feira, o coronel Alexandre Tavares, diretor especializado da Polícia Militar, afirmou que os homens que atuaram na comunidade de Salinas são experientes e acostumados a atuarem nesse tipo de ocorrência.
Para reforçar a segurança em Porto de Galinhas e região, o governo estadual mandou cerca de 250 homens das polícias Militar e Civil na noite de quinta-feira. Efetivo mobilizou ainda 70 viaturas e dois helicópteros.