A Linha Sul do Metrô do Recife iniciou esta segunda-feira (26) operando "normalmente", segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
Na última sexta-feira (23), um dos trens descarrilou, ou seja, saiu dos trilhos, tirando a Linha Sul de operação.
Imagens compartilhadas pelos passageiros mostraram a composição inclinada de lado, com as rodas fora da linha férrea.
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Pelo relato dos usuários, o trem só não tombou porque foi contido por um dos postes da rede de energia.
O problema aconteceu quando ele chegava à Estação Recife, no Centro da capital. Felizmente, estava vazio. Os passageiros relataram ter ouvido um barulho forte antes do descarrilamento.
Após isso, de acordo com a CBTU, foi feito um "intenso trabalho" pelas equipes de manutenção e operação, que liberou o trecho para circulação dos trens após 15h.
A coluna Mobilidade, deste JC, apontou que a falha é uma entre as várias consequências do sucateamento a que está sendo submetido o Metrô do Recife pelo governo federal - que tem repassado de 30% a 50% do valor de custeio que o sistema necessita para operar.
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SISTEMA VAI PARAR
Segundo o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SindMetro), é alto o risco de o Metrô do Recife suspender ou ao menos reduzir a operação devido à falta de peças para manutenção. O descarrilamento desta sexta-feira é mais um resultado do sucateamento. É tanto que a categoria aprovou um estado de greve por tempo indeterminado no início do mês.
Segundo o presidente do sindicato, Luiz Soares, o sistema deveria estar operando, ao menos, com 18 ou 20 trens, sendo no mínimo 14/15 na Linha Centro (os dois ramais de maior demanda) e 5/6 na Linha Sul.
Mas a operação atualmente está sendo realizada com, no máximo, 14 trens, chegando a 12 composições em alguns dias para as duas linhas. A Linha Centro operando com 8 trens e a Sul com 4 composições.
O intervalo da Linha Sul, mesmo nos horários de pico, ultrapassa os 10 minutos. No vale (fora-pico) pode chegar a 20 ou 30 minutos, como acontece na Linha Sul, a de menor movimento. A situação dos trens é tão crítica que a CBTU no Recife chegou a cogitar desativá-la para transferir as composições para a Linha Centro.
O PREJUÍZO DO METRÔ
O Metrô do Recife, segundo os metroviários, precisa de R$ 300 milhões por ano, mas tem recebido, no máximo, R$ 60 milhões. Ou seja, vem sobrevivendo com um déficit de R$ 240 milhões. A conta do sucateamento do sistema pernambucano, entretanto, é ainda maior do que apontam os metroviários.
Os estudos das equipes técnicas do BNDES e Secretaria de Planejamento de Pernambuco (Seplag) que embasaram a proposta de estadualização e posterior concessão pública indicaram a necessidade de R$ 3,8 bilhões em aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação.
O processo de estadualização e concessão pública do Metrô do Recife seria iniciado ainda em 2022, mas o governador Paulo Câmara engavetou pessoalmente a proposta para atender aos metroviários, que fizeram pressão e aproveitaram as eleições 2022 para isso.
A modelagem e os valores tinham sido apresentados ao Ministério da Economia no fim de 2021 e chegaram a ser validados pela equipe técnica que está à frente dos estudos. Na proposta, o governo de Pernambuco seria o gestor do futuro contrato de concessão pública, um pacote de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões seriam os aportes públicos.
Sendo, R$ 3,1 bilhões mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E, dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União (Ministério da Economia), R$ 1,4 bilhão seriam recursos que ficariam guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.
O R$ 1,4 bilhão seria a reserva para garantir o equilíbrio econômico financeiro do contrato, já que os estudos realizados em dois anos já apontaram que a receita gerada pela demanda de passageiros do Metrô do Recife não será suficiente para cobrir o custo de operação. O modelo que seria adotado pelo governo do Estado é o de concessão pública simples, sem contrapartida financeira ao longo do contrato.