O Espaço Ciência (EC), museu administrado pelo Governo de Pernambuco, passou a ser comandado pelas museólogas Emanuela Ribeiro e Manoela Lima. A informação foi obtida com exclusividade pelo JC, visto que ambas ainda não foram nomeadas oficialmente.
Emanuela é professora e doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de membro permanente do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Ela atua na área de Museologia, Patrimônio Cultural de C&T, Gestão Pública de Museus e do Patrimônio Cultural, Metodologia Científica.
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Já Manoela Lima é diretora do Fórum dos Museus de Pernambuco (FMUSPE) e produtora cultural. Ela já trabalhou para a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, para o Museu do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira e para o Museu do Homem do Nordeste.
A especialista é doutoranda em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e tem pesquisas recentes em Museologia e Patrimônio (Teoria e História da Museologia e Gestão em Museus), Ética e Políticas Culturais.
DEMISSÕES NO ESPAÇO CIÊNCIA
O JC revelou que, além de estar fechado para o público desde o início de fevereiro - fato inédito em sua história, de 28 anos - o Espaço Ciência teve quase 40% dos profissionais técnicos demitidos, inviabilizando projetos educativos.
Fontes informaram com exclusividade ao JC que, dos 18 funcionários do museu que compunham a equipe de coordenação, sete foram desligados. Não há notícias de demissões nas demais equipes: de limpeza, jardinagem e manutenção.
“A desculpa era de que teria 25% de cortes na secretaria, mas foi muito mais que isso [...] Quando foram nos demitir, eles disseram que não ia ter reposição”, disse uma das fontes, que não quis se identificar.
Os desligamentos aconteceram um mês após a saída do diretor e fundador do equipamento, o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Antônio Carlos Pavão, exonerado já na primeira semana do governo Raquel Lyra (PSDB).
O doutor em Química atrelou a exoneração à batalha que travou, meses antes, com Paulo Câmara (PSB) contra a doação de 8 mil m² do equipamento para a instalação de um centro tecnológico - que foi suspensa e está em análise pelo novo governo.
Em entrevista, Pavão disse, à época, que o museu poderia "sobreviver bem se toda a equipe fosse mantida" - o que não aconteceu.
Pouco antes, foram reduzidas 10 vagas para bolsistas do Espaço Ciência - estudantes que fazem visitas guiadas no local -, passando de 75 para 65. Os recursos vêm da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia (Facepe), do Estado.
PROJETO INVIABILIZADOS NO ESPAÇO CIÊNCIA
As demissões de técnicos inviabilizam os atuais programas de difusão científica. “Cheguei a conversar com as gestoras novas, mas não há intenção em continuar”, disse a ex-secretária executiva do museu, Claudiane Santos, que se demitiu logo após a saída de Pavão por já imaginar que “isso iria acontecer”.
Um dos projetos atingidos é o "Ciência Jovem", uma feira nacional e internacional que levava conhecimento a shoppings e mercados público, e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que produzia exposições para escolas do Estado.
Outro, o "Ciência Móvel", que visitou 80% dos municípios pernambucanos desde sua fundação, em 2004, com o objetivo de popularizar a ciência entre estudantes de escolas públicas em zonas urbanas e rurais.
“Ele precisa ser revitalizado e melhorar, mas isso poderia acontecer sem ser da forma desrespeitosa que foi pelo trabalho que foi realizado de uma forma muito dedicada pela equipe por anos”, afirmou uma funcionária.
ESPAÇO CIÊNCIA FECHADO PARA VISITAÇÃO
Em 9 de fevereiro, o Espaço Ciência anunciou, por meio das redes sociais, que seria fechado ao público por necessidade de manutenção na infraestrutura até 10 de março de 2023.
"Em decorrência das chuvas que caíram nos últimos dias e da consequente necessidade de manutenção em sua infraestrutura, o Espaço Ciência ficará fechado para visitações até 10/03/2023, período em que será realizada manutenção. Comunicaremos o retorno nas redes sociais e site", informou.
A notícia surpreendeu a equipe, que, em 28 anos, nunca viu o museu fechar, "nem mesmo quando foi feita a grande reforma, concluída em outubro de 2005", segundo o fundador.
"Naquele período continuamos funcionando na Torre Malakoff. Nossa política sempre foi ‘trocar o pneu com o carro andando’ para não privar o público do atendimento oferecido pelo Museu”, disse Pavão.
EQUIPE DENUNCIA CENSURA
Apesar de ser vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco (Secti), o Espaço Ciência sempre teve uma certa autonomia.
Isso porque, mesmo vinculada ao Governo do Estado, grande parte de seus recursos vêm do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações - hoje comandado por Luciana Santos (PCdoB), vice-governadora na chapa com Câmara.
Então, ao saber que parte do equipamento seria desmembrado, a equipe encabeçou uma forte campanha nas redes sociais e na mídia contra a medida do então governador.
Com a chegada de Lyra, isso mudou. Somente os textos vindos da equipe da Secti eram publicados em suas plataformas, o que os funcionários têm considerado uma “censura”.
“O que me parece, a partir das decisões que estão sendo tomadas, é que querem tirar a autonomia do Espaço Ciência”, disse uma fonte.
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GOVERNO PROMETE MELHORIAS
Por nota, a Secti defendeu que o "Espaço Ciência (EC) está em fase de diagnóstico e planejamento da nova gestão, tendo em vista melhorias e a interiorização de suas atividades em todo o Estado. O diagnóstico e planejamento estão de acordo com os padrões de qualidade descritos na Lei Federal 11.904/2009, do Estatuto dos Museus."
Ainda, esclareceu que a suspensão das atividades do museu, pelo período de 30 dias, é necessária e urgente diante da situação de descuido deixada pela gestão anterior. Portanto, medidas preventivas e corretivas para garantir a segurança de visitantes e funcionários estão sendo tomadas – incluindo a rede elétrica. A previsão é que as atividades sejam retomadas no dia 10 de março. As medidas emergenciais seguirão acontecendo."
Contudo, não comentou sobre as demissões e descontinuidades de projetos.
ENTENDA A DOAÇÃO DO TERRENO
A doação do terreno para instalação de uma landing station de cabo de fibra ótica e um datacenter foi suspensa pela antiga gestão e assim segue até hoje.
Em dezembro de 2022, o Ministério Público de Contas de Pernambuco (MPC-PE) pediu uma série de esclarecimentos sobre a negociação, assinados pela procuradora Germana Laureano, que alegou uma falta de transparência no processo que cedeu o espaço.
Após pressão da comunidade científica e da sociedade em geral, a gestão Paulo Câmara informou que cederia 10 mil m² do lado pertencente a Olinda do Memorial Arcoverde, onde o museu está instalado, para realocação dos equipamentos presentes na área afetada. A direção, todavia, rebateu que isso alteraria o fluxo no museu, e não aceitou a proposta.
Em 23 de janeiro, houve uma audiência pública na Câmara Municipal de Olinda para tratar o assunto - que terminou sem um posicionamento do atual governo. Os representantes do governo afirmaram que analisariam o tema para, então, tomar uma decisão.
Após pressão da comunidade científica e da sociedade em geral, a gestão Paulo Câmara informou que cederia 10 mil m² do lado pertencente a Olinda do Memorial Arcoverde, onde o museu está instalado, para realocação dos equipamentos presentes na área afetada. A direção, todavia, rebateu que isso alteraria o fluxo no museu, e não aceitou a proposta.