Humberto Costa ''engole'' candidatura de Marília no Recife, mas não quer campanha com ataques ao PSB

O senador era o principal defensor da manutenção da aliança do PT com o PSB em Pernambuco, mas cedeu após o Diretório Nacional do partido decidir manter a pré-candidatura da deputada federal no Recife
Renata Monteiro
Publicado em 05/08/2020 às 15:33
Humberto Costa e Marília Arraes na campanha de 2016 Foto: DIVULGAÇÃO


O senador Humberto Costa (PT) disse, nesta quarta-feira (5), que acata a decisão do Diretório Nacional petista e aceita a candidatura da deputada federal Marília Arraes à Prefeitura do Recife. Humberto era o principal defensor da manutenção da aliança do PT com o PSB em Pernambuco e trabalhou nos últimos meses para que a pré-candidatura de Marília fosse rifada pelo PT. No dia 31 de julho, porém, a direção nacional da sigla confirmou o nome da parlamentar na disputa recifense.

A declaração do senador ocorre um dia após os diretórios estadual e municipal do PT, que também eram contra a candidatura, anunciarem que vão apoiar Marília no pleito. "O partido vai cumprir a determinação do Diretório Nacional. Eu, em particular, estou no PT desde a sua origem e nunca deixei de cumprir qualquer decisão partidária. Desse modo, nós vamos cumprir essa decisão", cravou. Humberto não disse, contudo, se o partido pretende entregar os cargos que ocupa na gestão do PSB.

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O senador afirmou, ainda, que espera que a deputada também cumpra o que foi decidido pelo partido em termos de tática eleitoral: um discurso nacionalizado, de enfrentamento às ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Nossa estratégia considera que devemos nacionalizar essa eleição, que o centro da campanha é a crítica ao governo Bolsonaro, denunciando tudo o que está acontecendo hoje no Brasil, essa condução da pandemia, o aumento da pobreza e da desigualdade no País, as políticas em termos sociais. Além disso, queremos resgatar o legado dos governos do PT e realizar a defesa do presidente Lula", declarou.

Neta do ex-governador Miguel Arraes, Marília já foi filiada ao PSB, mas deixou a sigla em 2016. Na ocasião, a deputada acusou o partido de "querer comandar desde simples decisões internas partidárias, que coubessem a escolhas democráticas e colegiadas, até o desenrolar de toda a cena e atores políticos do Estado".

Em 2018, já há dois anos no PT, Marília se distanciou de Humberto porque defendia o lançamento da sua própria candidatura ao governo do Estado, enquanto o senador era a favor do apoio petista à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Naquele momento Humberto saiu vitorioso, seu receio agora é que, durante a campanha, a parlamentar mire suas críticas na gestão do PSB no Estado e no candidato da sigla, o deputado federal João Campos, minando qualquer possibilidade de retomada da aliança.

"A gente entende que o centro da candidatura, até por conta dessa resolução nacional, não pode ser um embate com o PSB, que é um partido que está no nosso campo de alianças. Do outro lado nós temos a direita, que está tentando tomar a prefeitura, e eu acho que o PT não pode se confundir com esse discurso que a direita vai fazer aqui na cidade. Até porque, no segundo turno, eu creio que PT e PSB estarão juntos para enfrentar o candidato da direita que venha a passar", declarou o senador ao JC.

Questionado se, apesar da estratégia petista, ele acredita que o lançamento de uma candidatura no Recife pode de alguma maneira afetar a relação do PT com o PSB no âmbito nacional, Humberto disse crer que as relações entre os partidos podem ficar estremecidas. "Vai atrapalhar, sim. (O lançamento da candidatura) Promove um afastamento, mas espero que nós possamos, mais à frente, retomar essas conversas".

Sobre uma possível participação na campanha da petista, Humberto foi enfático ao dizer que não tem "condições" de auxiliá-la. No fim de julho, Marília fez um convite público ao senador para que ele coordenasse sua campanha a prefeita. "Até pela minha responsabilidade nacional e local, eu não tenho condição de assumir a coordenação de nenhuma campanha. Nem no Recife, nem no interior, nem em nenhum outro canto. Provavelmente eu vou, pelo Grupo de Trabalho Eleitoral nacional, acompanhar alguns Estados, mas não tenho nem como imaginar a possibilidade de me vincular a uma campanha específica", pontuou.

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