Marília Arraes quer direita e esquerda unidas para ''vencer o PSB'' em Pernambuco

A petista disse que vai rodar Pernambuco tentando unir as oposições e disse que poderá ser uma das opções para o governo em 2022
Cássio Oliveira
Publicado em 25/01/2021 às 13:42
Marília Arraes deverá migrar para o Solidariedade Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


Na visão da deputada federal Marília Arraes (PT), alianças entre partidos de diferentes espectros, como centro direita e esquerda, precisam ser realizadas em Pernambuco, caso a oposição realmente queira vencer o PSB nas urnas.

Petista, Marília foi candidata a prefeita do Recife na última eleição e recebeu o apoio de setores mais à direita, como o prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL), no segundo turno. Ainda assim, o apoio não foi suficiente e a deputada acabou perdendo a disputa para seu primo, João Campos (PSB), que foi eleito prefeito da capital.

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"Vou me manter no campo da oposição ao PSB e buscar construir unidade da oposição da melhor forma possível. É um papel que as urnas nos deram, mesmo sem a vitória eleitoral, mas foi um recado político, foi uma vitória política. Precisamos, aqui em Pernambuco, unir o apoio da massa, o apoio popular, com apoio político. Sem essas coisas juntas, fica muito difícil derrotar a máquina, principalmente com as grandes estruturas que o PSB coloca na rua", comentou Marília em entrevista à Rádio Folha, na manhã desta segunda-feira (25).

DIVULGAÇÃO - Marília Arraes recebeu apoio dos Ferreira na eleição no Recife. Os irmãos têm bom trânsito com o governo Bolsonaro e Marília é oposição ao presidente

Marília foi questionada sobre disputar o Governo de Pernambuco em 2022 e disse que seu nome poderia sim ser uma opção. "Vou voltar a rodar o Estado, conversar com todos os atores políticos e buscar formar uma unidade. Todos nós precisamos colocar o ego no bolso e colocar em pauta o que é melhor para Pernambuco e o melhor para Pernambuco é deixar de ser governado pelo PSB", afirmou.

Em 2018, Marília tentou disputar o Governo de Pernambuco contra Paulo Câmara (PSB) - que se reelegeu naquele ano - mas seu próprio partido, o PT, impediu a candidatura e se aliou ao PSB. Agora, os partidos estão novamente em lados opostos. Depois da eleição de 2020 e de ataques na eleição, o Partido dos Trabalhadores decidiu entregar os cargos que tinha na gestão do PSB e migrar oficialmente para a oposição.

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"Para a gente ser respeitado, a gente precisa respeitar a si mesmo. Depois de um campanha terrível que o PSB fez, com mentiras, contra mim e contra o partido, continuar com cargos, só para ter um emprego é muito degradante politicamente. Jamais apoiei esses governos que estão aí e quem fez esse tipo de negociação, que precisa responder, não cabe a mim", afirmou a parlamentar. 

Marília já foi filiada ao PSB e atuou como secretária na primeira gestão de Geraldo Julio. Porém ela deixou o partido em 2016, oficialmente, para se filiar ao PT e se tornou crítica ferrenha dos socialistas. Na época em que saiu, ela criticou o antigo partido, acusando-o de "querer comandar desde simples decisões internas partidárias, que coubessem a escolhas democráticas e colegiadas, até o desenrolar de toda a cena e atores políticos do Estado".

Além disso ela se colocou contra alianças políticas celebradas pelo PSB nas eleições presidenciais de 2014, sobretudo com o PSDB. Na época, ainda como vereadora, Marília rompeu com a legenda e apoiou Armando Monteiro (PTB), adversário de Paulo Câmara, nas eleições para o Governo de Pernambuco.

2022

Para a disputa de 2022, Marília Arraes diz que a melhor estratégia que a oposição pode usar é a que Jarbas Vasconcelos (MDB) usou em 1998. Naquele ano, Vasconcelos, que era adversário do PFL pernambucano em eleições passadas, se aliou ao vice-presidente Marco Maciel, ao então prefeito de Recife, Roberto Magalhães, e a outros caciques do partido para enfrentar e vencer o grupo de Arraes.

ACERVO JC IMAGEM - Jarbas Vasconcelos e Roberto Magalhães (21-10-1987)

"Acho que essa deve ser a estratégia adotada, a oposição deve se unir e trabalhar na unidade com liderança de massa e apoio político, cada vez fica mais difícil derrotar o PSB, eles vão se enraizando. Quantos conselheiros do TCE foram indicados na gestão do PSB? Quantos desembargadores? Eles vão se posicionando e construindo alianças e aliados em diversas instituições. Não que essas pessoas serão aliados, mas foram indicados e isso sempre conta de alguma maneira. Isso amplia o leque de atuação de um grupo", comentou.

Por outro lado, essa aliança proposta por Marília não é tão simples. Dentro do próprio PT há resistências de apoiar ou receber apoio de nomes que apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. O próprio Anderson Ferreira votou pelo impeachment, pois na época ainda era deputado federal. Do outro lado, nomes tradicionais da centro-direita em Pernambuco têm dificuldade em apoiar o PT. Mendonça Filho (DEM), por exemplo, decidiu ficar neutro no segundo turno no Recife por não querer apoiar Marília. Delegada Patrícia (Podemos) seguiu o mesmo caminho e não deu seu apoio à petista.

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Assim, o caminho para a unidade, pelo menos no discurso, parece mais fácil que na prática. Até mesmo porque nomes cotados para a disputa em 2022 como o de Miguel Coelho (MDB), tem relação com o presidente Jair Bolsonaro, visto que seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho é líder do governo federal no Senado. Numa eleição para governo do Estado, onde as articulações passam pelo cenário nacional, unir partidos que apoiam Bolsonaro, com siglas que apoiem Lula ou Fernando Haddad, por exemplo, será um desafio.

Marília ainda foi questionada se permaneceria no PT, caso o partido não queira firmar alianças com partidos mais à direita. A petista disse que não está em questão, hoje, uma mudança de legenda. "Conquistamos apoio da base do PT e da legenda de forma nacional e estamos construindo esse caminho. O PT deixou os cargos no Governo do Estado e isso mostra que estamos nos afinando, então não deve ser levada em conta essa hipótese no momento", declarou.

Sobre críticas a alianças desse tipo, Marília disse que o importante é ser transparente com o eleitorado. Hoje, por exemplo, o PT integra um bloco com o DEM na Câmara dos Deputados para apoiar a candidatura de Baleia Rossi (MDB) contra a de Arthur Lira, que é apoiado por Bolsonaro. 

"Precisamos de articulação como fazemos na Câmara Federal. Hoje, integramos bloco com o DEM, MDB e diversos partidos de centro-direita. A sociedade compreende quando deixamos claro nosso projeto e o que pensamos. É preciso ter justificativa política clara, não dá para a gente agir meramente pelo pragmatismo", concluiu a parlamentar.

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Marília Arraes Partido dos Trabalhadores PSB
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