Em uma entrevista voltada ao público do Nordeste, região onde enfrenta mais dificuldade eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro testou dois tópicos principais em seu discurso: um contraponto ao ex-presidente Lula (PT), seu provável adversário em 2022, e a promessa de reajustar o Bolsa Família para valor superior a R$ 300.
Não à toa, a região é aquela em que Lula tem maior vantagem: 64%, segundo a última pesquisa do Datafolha.
Em relação ao petista, a estratégia de Bolsonaro foi relacionar ele aos escândalos de corrupção da era petista, como o Mensalão e a Lava Jato. Quando questionado sobre as obras feitas pelos petistas no Nordeste, o presidente preferiu lembrar os projetos inacabados que ainda estão em andamento e que ele próprio promete concluir.
"Se ele tá criticando, é sinal de de que eu estou no caminho certo. É um estímulo que ele dá para mim. Eu acho que ele tem muito o que falar sobre os oito anos de governo dele e também sobre os seis da senhora Dilma Rousseff. Para falar em especial o que aconteceu nas estatais, em bancos oficiais e com a negociata dentro do Parlamento brasileiro. E daí, se fizer uma comparação comigo, você viu que mudou da água para o vinho o nosso Brasil", afirmou Bolsonaro, em entrevista à Rede Nordeste de rádios.
A declaração foi uma resposta à provocação de Lula de que o atual ocupante do Planalto mente na série de entrevistas de rádio que tem dado. Segundo o presidente, Lula mente "bastante".
"Ele aproveitou uma época boa da parte econômica, quando pegou o Brasil relativamente arrumado do Fernando Henrique Cardoso, com o plano real e inflação lá embaixo. Mas, em 2004, dois anos depois, começou um período bastante complicado da nossa história, onde a corrupção começou a aflorar nos Correios. Ali se levantou a tampa do grande esgoto em que a corrupção no Brasil falava mais alto. Foi um governo que comprou apoio parlamentar com dinheiro, com Mensalão, entregando estatais como a Petrobras, BNDES, bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. E loteou todo o seu ministério para as pessoas fazerem lá dentro o que bem entendiam. Veio a Operação Lava Jato e todo mundo sabe o que aconteceu", declarou.
Instado a comentar as críticas de Lula ao fato de ter colocado o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, um dos caciques do centrão, para comandar a Casa Civil, pasta mais importante do Planalto, Bolsonaro disse que não era "o Ministério das Minas e Energia, não é Transporte, não é Desenvolvimento Regional", em menção a presença do centrão nos governos petistas.
Bolsa Família
Também tentou minimizar o papel do ex-presidente na criação do Bolsa Família. Ao fazê-lo, reconheceu o enorme ativo eleitoral que o programa significa para o PT.
"Ele juntou uma série de programas com um novo nome e criou o Bolsa Família. E o povo necessitado ficou grato. E eu acredito que o Bolsa Família foi o grante sustentáculo por ocasião das eleições", afirmou.
A partir daí, o presidente passou a acenar com o aumentno no valor do programa, que ele espera colocar de pé até o final de 2021, a tempo de colher os efeitos eleitorais na corrida presidencial do próximo ano.
"Vamos reajustar no mínimo em 50%. Porque houve uma inflação. Não vou negar que aumentou o preço do gás, da gasolina, do óleo, do arroz, do feijão, do ovo. O mundo todo passou a consumir mais. No mundo todo houve inflação na questão dos alimentos. E nós estamos buscando todo dia novas soluções para atenuar esse problema. Então, o mínimo de R$ 300 vai fazer diferença. E o número de benficiados do Bolsa Família, até dezembro, nós avaliamos em 20 milhões de pessoas", adiantou.
O movimento vem em momento crítico. Além da queda nas pesquisas, Bolsonaro é assombrado pela CPI da Covid e denúncias de corrupção na compra de vacinas. Mas também é um momento de tentativa de reação do Planalto, da qual a entrada do centrão faz parte.
O principal desafio é reverter a tendência eleitoral até agora, que mostra Lula em primeiro lugar, com 46%, contra 25% do próprio Bolsonaro, de acordo com o Datafolha.