O deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara, afirmou nesta quinta-feira (29), em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem criticado o aumento do Fundo Eleitoral, de R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7 bilhões, porque o apoio dado por seus filhos no Congresso Nacional teria “pegado mal” com a sociedade.
“O presidente joga isso no meu colo, porque ele percebeu que pegou muito mal para os filhos dele os votos a favor do Fundo. Além disso, Bolsonaro tem essa mania de transferir responsabilidades”, disse o parlamentar. “Na votação do texto principal da LDO, os filhos dele votaram a favor do aumento para R$ 5,7 bilhões. O problema é que essa turma votou a favor e agora quer dar uma justificativa, porque pegou mal com a sociedade”, completou.
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Membro de um partido do Centrão, o PL, Marcelo Ramos começou seu mandato como um parlamentar independente, apesar de admitir estar alinhado economicamente com o governo Bolsonaro, mas os últimos episódios de atrito com o presidente têm feito a relação entre eles ficar cada vez mais insustentável.
“Sempre deixei claro que minha simpatia ou antipatia por quem está na Presidência não é maior que meu compromisso com o país, por isso nunca permitirei ofensas ao parlamento ou às instituições democráticas”, disse Marcelo. “Agora, claro, diante dessa deslealdade que ele [Bolsonaro] teve comigo nas últimas semanas, a pouca relação que existia, ela se esgotou”, emendou o deputado.
‘Fraude’ em 2014 e voto impresso
Além dos ataques de Bolsonaro a Ramos, pautas como o voto impresso e a acusação sem provas de fraudes nas eleições dão peso maior ao afastamento político entre o liberal e o governo. Questionado sobre os temas, o parlamentar saiu em defesa da urna eletrônica, afirmando que o voto no Brasil é “absolutamente auditável”. Ele rechaçou ainda os infundados apontamentos do presidente da República, que prometeu apresentar provas de fraudes nas eleições de 2014, nesta quinta-feira (29).
“Não há temor nenhum sobre o que promete o presidente de apresentar hoje à noite. A eleição de 2014, quem perdeu, que foi o PSDB do candidato Aécio Neves, auditou o sistema eleitoral, que é absolutamente auditável, e chegou à conclusão de que o resultado fora aquele mesmo”, relembrou Marcelo Ramos. “Então, não há indícios minimamente sérios de nenhum problema no sistema eleitoral”, complementou.
De acordo com Ramos, enquanto a urna eletrônica pode ser auditada, o voto impresso pode causar sérios problemas, inclusive em relação ao sigilo da escolha do eleitor. “O voto é secreto e inviolável, como diz a Constituição Federal. Diante disso, imagine que uma pessoa má intencionada afirma que o voto que ela digitou na urna não é o mesmo que foi registrado no papel, ninguém teria como averiguar se essa informação é verdadeira ou falsa, a menos que descumprisse a Constituição. Ou seja, é impossível”, argumentou.
“Agora, pense se um candidato orientar todos os seus cabos eleitorais a agirem assim. Isso pode estabelecer o caos na eleição e colocar em xeque o direito legítimo do povo brasileiro de escolher seus representantes”, concluiu.