Na 27ª edição do Grito dos Excluídos e das Excluídas, que tem como tema "Vida em Primeiro Lugar", o principal pedido dos manifestantes no Recife é pela democracia e pela saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do poder. As reivindicações deste 7 de setembro também são comuns ao diretor estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Ubiratan - organização que é uma das apoiadoras do protesto.
"O grito nunca foi tão necessário. A vida se tornou pior nos últimos dois anos e o Brasil tem que ser mais inclusivo. E, este ano, estamos dizendo também que queremos a democracia”, afirmou o diretor em meio à Praça do Derby, Centro da capital pernambucana, onde ocorre a concentração do ato. No local, são tocadas músicas de Geraldo Vandré, Gonzaguinha e Alceu Valença, e participantes portam bandeiras do Brasil e usam camisetas com a frase "Fora Bolsonaro".
Na Avenida Agamenon Magalhães, que fica em frente à Praça, passam apoiadores bolsonaristas gritando contra participantes do Grito dos Excluídos. Forças policiais acompanham o ato.
A caminhada começou por volta das 11h, seguindo pela Conde da Boa Vista até a Praça do Carmo, onde será encerrada. Os organizadores pedem para que as pessoas andem em fila durante a passeata, usem máscara com alta proteção contra a covid-19, levem o álcool 70 ou em gel e pratiquem o distanciamento social para evitar a contaminação pelo coronavírus.
O Grito dos Excluídos e das Excluídas é organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e conta com a colaboração das pastorais sociais da Igreja Católica, organizações civis e movimentos sociais. A CUT é uma da apoiadoras da iniciativa. Além deles, devem participar do protesto os movimentos de luta de mulheres, de negros, sem teto, sem terra, sindicatos, partidos ligados à esquerda e o Fora Bolsonaro.
O grupo de Policiais Antifascismo pede no ato pela "construção de uma segurança pública cidadã, pautada nos direitos humanos", segundo o coordenador nacional Áureo Cisneiros. "Temos sido contra todo esse retrocesso que está pelo Brasil. Estamos com 50 policiais hoje na luta contra esse ar de golpismo que está querendo tomar conta do Brasil, contra as ideias fascistas, contra a miséria, o desemprego e a fome, que têm aumentando absurdamente no Brasil", disse.
No local, o deputado estadual e ex-prefeito do Recife João Paulo (PCdoB) disse acreditar que o "26º grito é um momento muito importante para a manutenção da democracia e para o direito do povo brasileiro". "É uma forma de manifestação do povo contra esse governo arbitrário e genocida que vem trazendo uma desgraça muito grande para o povo brasileiro. Tem muita gente sofrendo muito, o desemprego imenso, um país sem credibilidade internacional, levando insegurança institucional, agravando ainda mais a crise", avaliou.
Ao som de macaratu, o ex-deputado federal Paulo Rubem Santiago protestou pela liberdade religiosa. "Neste ano, por a gente entender que a cultura, tradição e história dos maracatus representam liberdade, a defesa da vida, a democracia, e o combate ao racismo e à discriminação, estamos nos reunindo, são matuqueiros e matuqueiras de várias nações para juntos fazermos o baque virado pelo Fora Bolsonaro. A religião de matriz africana sofre muita discriminação ainda hoje. Terreiros são invadidos, e as pessoas são impedidas de realizar seus cultos", contou.
De acordo com uma nota emitida pela organização nacional do ato, também está na pauta do evento “as quase 580 mil mortes pela covid-19; o desmonte da saúde pública (SUS); o desemprego; A não demarcação das terras indígenas e o grito profético dos povos indígenas dizendo ‘Não ao Marco temporal’”; entre outros pontos. O movimento “Fora Bolsonaro” também será reforçado na manifestação.
Mais atos neste 7 de setembro
A capital pernambucana terá, pelo menos, mais dois grandes atos neste 7 de setembro, dia que marca a independência do País, ambos de movimentos e partidos de direita e marcados para às 10h : uma passeata - liderada pela Aliança por Pernambuco e pelo Movimento Direita Pernambuco - e a carreata da "Independência Dia 07/Dia D pela nossa liberdade", organizada pelo B38. Ambas ocorrerão na Zona Sul do Recife.
Liderada pelo Movimento Direita Pernambuco entre outros, a passeata vai se concentração em frente a Padaria Boa Viagem, seguindo até o Segundo Jardim, também em Boa Viagem. Já a concentração da carreata acontecerá na Imbiribeira, próximo ao Banco do Brasil. De lá, os participantes devem ir até a Padaria Boa Viagem e encerrar também no Segundo Jardim.
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"São mais de 10 grupos de direita que fizeram as convocações. A nossa expectativa é grande de juntar em torno de 30 mil pessoas", diz um dos líderes do Movimento Direita Pernambuco, Mateus Henrique de Souza, se referindo a caminhada. Ao ser questionado sobre a realização de um ato deste numa pandemia, ele respondeu que "boa parte das pessoas já estão vacinadas e quem quiser pode ter todos os cuidados necessários" com relação à contaminação pelo coronavírus. Os organizadores também vão vender máscaras por R$ 4 durante a passeata.
Mateus disse também que os organizadores desejam que o evento seja pacífico e tranquilo. "O evento ocorre em alusão à independência do Brasil tocando nas feridas do Supremo Tribunal Federal (STF) que está mandando prender jornalistas, professores e deputados sem o devido processo legal", afirmou Mateus. E acrescentou: "opinião não pode ser motivo de prisão. O que pode dar prisão são opiniões que incluam racismo, preconceito e agressões". Segundo ele, os organizadores protocolaram um ofício na Polícia Militar dizendo as informações do evento. Os atos de apoio ao presidente devem contar com a participação de políticos como os deputados estaduais Clarissa Tércio e Alberto Feitosa, ambos do PSC.
O STF é a instância máxima da Justiça no Brasil e o presidente Jair Bolsonaro chegou a propor, ao Senado, o impeachment de um dos ministros daquele tribunal, Alexandre de Moraes, que mandou prender o ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson depois dele pedir o fechamento da Suprema Corte e a cassação de todos os seus ministros. O pedido do presidente não foi aceito pelo Senado.
Segurança dos três atos
Ao ser questionada de como será a segurança dos três eventos, a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) informou, em nota, "que atuará, conforme planejamento operacional elaborado ao longo da semana para garantir que o exercício da democracia seja realizado de forma pacífica nas manifestações do feriado de 7 de setembro. O detalhamento de lançamento de efetivo não será divulgado por questões estratégicas. A PMPE não propaga previsão do número de participantes com expectativa em eventos, visando evitar especulações. O efetivo que será lançado nos locais atuarão dentro da técnica, legalidade, da prevenção à violência e proteção do cidadão. Isso baseado na recomendação recebida do Ministério Público de Pernambuco, solicitando uso moderado da força em caso de intervenção no terreno, observando o direito à vida, à liberdade e à integridade física da população, bem como à liberdade de expressão, manifestação do pensamento e de reuniões em locais abertos ao público".
Um dos últimos eventos promovidos por partidos de esquerda no Recife deixaram pessoas feridas em confronto com a PMPE, incluindo dois homens que iam passando no momento do protesto e perderam a visão: Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, e Jonas Correia de França, de 29 anos.
O governo de Pernambuco já informou que só poderão participar dos protestos os PMs que estejam de folga. Nesta segunda-feira (6), o governador Paulo Câmara (PSB) disse que serão punidos todos os PMs que descumprirem a hierarquia no 7 de setembro.