Em meados de 2021, quando a centro-direita pernambucana ainda digeria o fraco desempenho que apresentou na eleição do Recife do ano anterior, ficando de fora do segundo turno, era quase um mantra entre as lideranças do grupo a defesa da construção de uma candidatura única visando o pleito de 2022, para o Governo do Estado. Passaram-se os meses, três pré-candidaturas foram apresentadas e, pelo que se tem visto até agora, nem Anderson Ferreira (PL), nem Miguel Coelho (União Brasil), nem Raquel Lyra (PSDB) vão abrir mão da disputa.
Se, por um lado, há quem critique a possibilidade, afirmando que a pulverização dos votos da oposição pode prejudicar o grupo na disputa, defensores da ideia dizem que a estratégia pode ajudar um dos pré-candidatos a chegar ao segundo turno. Em entrevista ao jornalista Jamildo Melo nesta quinta-feira (24), Miguel Coelho disse que, na sua opinião, o coletivo deveria ter apenas duas candidaturas, embora não veja grandes problemas no lançamento de um terceiro postulante.
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"Eu sempre defendi que nós tivéssemos duas candidaturas. Na história política do nosso Estado, quando foi que a última vez que a oposição ganhou a eleição para o Governo do Estado? 2006. E em 2006, como foi que a oposição se colocou? Com duas candidaturas competitivas. De lá pra cá, a gente saiu com uma candidatura única e o que ocorreu? Quem pagou esse preço? Foi a população que está sofrendo pelos últimos oito anos de desgoverno. Se tiver três não tem problema, até porque a oposição não tira voto só de oposição, ninguém é rotulado, ninguém tem um carimbo na testa dizendo de onde é fabricado. Cada um tem a sua biografia, o seu modo de pensar e o eleitorado está aberto para escolher o candidato que melhor lhe representa", defendeu o gestor sertanejo.
Em recentes entrevistas, o ex-governador Mendonça Filho (UB) e o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, mostraram que têm outra visão sobre o tema, e chegaram a defender até uma aliança entre os partidos de oposição no Estado para o lançamento de apenas um nome no pleito. "A minha torcida pessoal é para que, lá na frente, possamos estar todos juntos", afirmou Araújo ao JC, no fim de 2021.
"O lançamento de apenas um nome da centro-direita é a possibilidade menos provável nesse momento, isso porque, na realidade, esse conjunto de forças é um bloco apenas do ponto de vista topográfico, apenas porque está à direita do governador. Eles têm visões que, do ponto de vista administrativo, não são incompatíveis, mas representam projetos políticos pessoais relacionados a uma trajetória que eles construíram. Não existe, a priori, incompatibilidade para a formação de uma chapa única ali, mas essa aliança se torna improvável pela conjuntura dessa eleição", explicou o cientista político Arthur Leandro.
Na visão de Vanuccio Pimentel, cientista político da Asces/Unita, a "geografia do voto" em Pernambuco é um dos fatores que poderiam explicar o ponto de vista de quem acredita que, com mais candidaturas, a oposição teria mais chances na corrida contra o PSB este ano. "Em Pernambuco nós temos 6,6 milhões de eleitores e cerca de 50% dessas pessoas estão distribuídas em apenas 14 municípios, que são os maiores colégios eleitorais do Estado. Quando a oposição diz que é mais interessante lançar três nomes, é exatamente porque dos 14 municípios em que 50% do eleitorado vive, o PSB só controla dois. Nos demais colégios eleitorais importantes nós teríamos um candidato de Jaboatão, um de Caruaru e um de Petrolina, exatamente o 2º, o 5º e o 7º desses 14 colégios, em tamanho. O que a oposição está fazendo ao lançar esses nomes é disputar a maior fatia de votos possível, pois nesses 14 municípios de maior densidade eleitoral a oposição tem mais chances de obter votos do que nos municípios menores, em que vai pesar muito a estrutura do PSB", observou.
Caso optem por, de fato, participar da eleição para o Palácio do Campo das Princesas, os prefeitos devem deixar os cargos até o próximo dia 2 de abril. Miguel Coelho disse que fará isso em 30 de março e Anderson Ferreira também já anunciou que sairá da Prefeitura de Jaboatão até o prazo limite. Raquel Lyra é a única pré-candidata que, até o momento, não fez declarações oficiais sobre o tema.
Em entrevista concedida à coluna, Miguel Coelho (União Brasil) reforçou sua pré-candidatura ao Governo de Pernambuco. Como o blog de Jamildo já adiantou, o prefeito de Petrolina deixa a gestão municipal no dia 30 de março para concorrer ao executivo estadual.
"É um chamado não apenas para representar um projeto político, mas um sentimento da população pernambucana, que quer algo novo, que cansou dos últimos oito anos, de ver um Pernambuco que já foi grande se apequenar diante da acomodação, preguiça e falta de capacidade de trabalho", disse Miguel Coelho.
O prefeito de Petrolina citou os problemas de Pernambuco com relação à violência, desemprego, abastecimento de água, saneamento e carga tributária.
"O Pacto Pela Vida foi um programa abandonado, ele cumpriu seu papel, mas acharam que a criminalidade não ia mudar com o tempo. O perfil dos crimes muda. (...) A gente precisa de uma segurança pública com uma polícia modernizada, com capacidade operacional. Na PM há déficit de 9 mil homens, na Civil é de quase 6 mil", comentou o filho de Fernando Bezerra Coelho (MDB).
Em tempo, apesar dos recentes acontecimentos envolvendo sua candidatura pelo União Brasil, Miguel Coelho afirmou que a situação com Luciano Bivar, presidente nacional do partido, está resolvida.
Na entrevista, o pré-candidato ao Governo de Pernambuco também defendeu a agenda liberal. O prefeito citou as limitações do investimento público e coloca PPPs e privatizações como modalidades para driblar o problema.
"Precisamos abrir a mente para o cidadão na ponta ter acesso ao serviço básico com qualidade. (...) A Compesa fatura R$ 2 bilhões e mesmo assim o Governo do Estado precisa aportar dinheiro porque virou cabide de emprego", comentou Miguel Coelho.