O discurso de unidade dentro do arco de alianças que compõem a Frente Popular, bastante enfatizado durante o lançamento da pré-candidatura a governador do deputado federal Danilo Cabral, tem esbarrado nas discussões sobre a montagem do restante da chapa liderada pelo PSB. Nem mesmo o crivo de que o partido, em Pernambuco, estará apoiando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, garante que a questão do Senado, reivindicada pelo PT, esteja resolvida.
Quatro nomes estão sendo estudados pelos petistas: os deputados federais Carlos Veras, Marília Arraes, a deputada estadual Teresa Leitão e o ex-deputado estadual Odacy Amorim. As reuniões entre o governador Paulo Câmara, Danilo Cabral e as lideranças aliadas serão retomadas logo após o Carnaval, mas uma fonte ligada ao Palácio do Campo das Princesas, afirma que não há pressa e que o anúncio poderá ser estendido até o fim de março. Um dos fatores é a legitimidade dos dirigentes partidários, que colocaram seus nomes à disposição para a única vaga de senador do Estado, baterem o pé sobre um debate mais aprofundado.
Outro ponto levado em consideração é que as negociações sobre federação e fusão ainda estão avançando, além disso, o fluxo de migração de partidos com a abertura da janela partidária (3 de março a 1º de abril) também terá reflexos importantes na montagem das chapas. “Essa é uma questão que também passa pela discussão nacional. Se a candidatura de Danilo foi levada a essa esfera, antes de ser definida, as vagas de vice e Senado também vão ser discutidas com base nesses entendimentos nacionais. Não há urgência em fazer isso agora, também não há definição sobre os candidatos da oposição, então não dá para atropelar os diálogos”, afirmou a fonte, sob reserva.
Para o deputado federal Augusto Coutinho (Solidariedade) é necessário ter equilíbrio na chapa que irá disputar o Governo do Estado, que não se restrinja só ao PT e PSB, mas dê espaço aos partidos de centro. “Tenho total confiança na condução que está sendo feita pelo governador Paulo Câmara, mas chamo atenção de que essa aliança precisa ser ampla, não pode ser fechada a uma linha ideológica só, isso desequilibra. E nunca vi dá certo isso de ‘tem que ser assim’, porque tudo precisa ser discutido. O que falo não é veto aos nomes e partidos, mas defendo que essa construção seja feita de uma forma ampla”, declarou Coutinho ao JC.
Com o nome colocado a disposição, o deputado federal Wolney Queiroz (PDT) defendeu por diversas vezes, que é necessário ter uma representação das regiões do interior do Estado, como contraponto aos pré-candidatos que estão colocados no bloco da oposição, como a prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB) e o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil). Em entrevista à Rádio Jornal, Wolney deixou claro que se o PDT não puder ter espaço na chapa majoritária, o partido vai reabrir as discussões sobre o rumo que poderá ter no estado, priorizando um palanque para Ciro Gomes.
O presidente estadual Eduardo Da Fonte (PP), já tinha reforçado que por mais legítimo que seja a reivindicação do PT, seria necessário “ver quem está na vez”, elencando que sempre apoio os petistas e os socialistas nas últimas eleições gerais e municipais. Quem também aguarda acenos é o deputado federal André de Paula (PSD), a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB), e o presidente do Republicanos, Silvio Costa Filho.
Apesar de ter se mostrado mais flexível sobre esses impasses na disputa pelo Senado, afirmando que não teria pressa e poderia esperar pela oportunidade em 2026, Silvio Costa Filho esteve com Paulo Câmara, em Brasília, e o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira. Na conversa, o presidente nacional do Republicanos deixou claro que o deputado Silvio Costa Filho tem a sua confiança e autonomia para conduzir o destino do partido no estado e que, também, apoia a candidatura do deputado federal Danilo Cabral (PSB) ao Governo do Estado.
Ainda segundo Marcos, ele ficaria muito feliz em ver o partido representado na chapa majoritária. “Não tenho dúvida que Silvio reúne todas as condições para disputar um projeto majoritário. É jovem, preparado e tem o nosso apoio e a nossa confiança. Mas como ele mesmo diz, na política tudo passa por uma construção coletiva. Tenho certeza que ele tem muito a contribuir com Pernambuco e o Brasil. Em seu primeiro mandato como deputado federal, Silvio é um dos mais influentes do parlamento e, ao seu lado, quero contribuir com a Frente Popular de Pernambuco”, ressaltou o dirigente.
Um parlamentar socialista em reserva, chama atenção para o que seria o perfil do nome a ser escolhido. No caso do Senado, o candidato ou candidata precisaria ter "capacidade de aglutinar forças para além da agremiação partidária". "Tem que ter inserção e um leque de apoio significativo na maioria das regiões e municípios. Alguém competitivo que possa agregar apoio a chapa majoritária e que tenha um nível de diálogo conjunto", afirmou. Já sobre a escolha do vice ou da vice, é necessário optar por um nome que não cause "constrangimento" e que seja solidário ao protagonismo que o futuro governador passe a exercer.
Esnobada no PT de Pernambuco para uma eventual disputa ao Senado pela Frente Popular, a deputada federal Marília Arraes está se movimentando nos bastidores e nesta semana marcou um encontro com Guilherme Boulos, liderança do PSOL, onde pode desembarcar.
Marília Arraes avalia deixar o PT e ingressar no PSOL para ter uma legenda que lhe dê sustentação em um projeto majoritário. A ex-vereadora do Recife mantém boas relações com o pessoal do PSOL no Estado, tanto que o atual candidato a governador do partido, João Arnaldo, já foi seu candidato a vice nas eleições municipais do Recife.
A deputada, que já lançou pré-candidatura ao Governo de Pernambuco e foi ignorada pelo partido, já teria abandonado a ideia de disputar o Palácio nesta eleição. O PSOL, por sua vez, não teria condições financeiras de oferecer recursos à sua candidatura ao executivo.
"Ela é muito pragmática, não quer disputar majoritária e arriscar perder a eleição, a não ser que fosse ao Senado", avalia interlocutora da coluna. Nesse sentido, a movimentação casa com a pesquisa que mostra Marília Arraes liderando a pesquisa de intenção de voto à Câmara Alta.
Fontes ouvidas pela reportagem contam que Marília Arraes vem sendo procurada por diversos partidos. O PSOL, institucionalmente, não fez convite à pernambucana, mas quadros do partido vem convidando-a à migração.
O interlocutor conta que outra opção seria Marília Arraes, também pelo partido, reconduzir seu mandato à Câmara, mas visando a disputa pela Prefeitura do Recife em 2024. Caso fique no PT e a federação com o PSB seja confirmada, ela não poderia disputar a gestão municipal contra os socialistas, visto que a aliança precisa durar, pelo menos, 4 anos.
Neste novo projeto, a deputada estaria interessada em aproveitar as condições oferecidas pela confirmação da federação entre o PSOL e a Rede, no Plano Nacional. O PSOL já tem candidato e ganharia uma boa aposta no Senado, com o nome bastante conhecido da deputada federal, herdeira de Miguel Arraes.
Para reforçar o projeto, dois nomes estão cogitados. Um deles é o do deputado federal Tulio Gadelha, que deixará o PDT para ingressar no na Rede (que deve se federar com o PSOL), para renovar o mandato. Outra aposta da mesma chapa seria Dani Portela, que é hoje vereadora do Recife, a segunda mais votada nas últimas eleições, e seria catapultada disputando um mandato estadual.
O blog apurou que ela tem recebido convites não apenas do PSOL, mas de outros partidos de centro esquerda, mas que não haveria tanta liga como com o PSOL. "A vantagem desta opção é que Marília estaria ao lado de Lula, em um palanque com Lula, mesmo deixando o PT local", explica uma fonte do blog.
Ainda de acordo com informações extraoficiais, o pessoal do Juntas, mandato coletivo do PSOL na Assembleia Legislativa do Estado, é que pode não gostar da movimentação. O interesse delas seria buscar a reeleição do mandato coletivo na Alepe e pode não ver com bons olhos a prioridade que for dada a vereadora Dani Portela e o recém-chegado Tulio Gadelha. A conferir.
A assessoria de imprensa da deputada federal não se pronunciou.