atualizada às 14h02
Em meio a previsões e números voláteis, o cientista do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA) e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Jones Albuquerque trouxe algumas explicações sobre o tema. Durante entrevista concedida à Rádio Jornal, no programa Passando a Limpo, ele fez observações e sugestões sobre a pandemia do coronavírus e a situação que o País se encontra agora.
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Para o professor, as previsões oscilam muito e isso não é uma incompetência brasileira, mas uma dificuldade de todos porque ainda não se sabe muito sobre a doença. “A previsão também depende da população e a população não está ficando em casa”, afirma. “A curva do vírus está sendo postergada. Se a gente não tomar providência, ela vai ser postergada até o fim do ano”, reforça Jones Albuquerque.
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Sobre a interiorização dos casos, ele afirma que “as áreas mais críticas e mais afetadas serão todo o interior do Nordeste, Sul e Sudeste, além do Mato Grosso. Essa regiões vão sofrer com a onda que começou no litoral brasileiro”. Ele acredita também que há falhas na contagem do isolamento social. “Os índices de medição da mobilidade urbana não funcionam tão bem, podem conter erros e dependem do celular, por isso, prejudicam a medição real”. De acordo com os dados oficiais da empresa In Loco, na última quarta-feira (20), Pernambuco teve a segunda maior taxa de isolamento no Brasil, chegando a 48,90%. Nessa quinta-feira (21), o ranking mostrou que 47,6% da população pernambucana estava em casa.
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Uma das maiores preocupações do cientista é com a assimilação da população da pandemia como um problema de saúde pública para todos. “Tudo indica que boa parte da população não está tomando nenhuma medida de isolamento, por isso, eu não estou animado com o futuro”, diz. Jonas Albuquerque também compara que as situações para esse distanciamento são diferentes de acordo com os bairros e classe social. “Se você tem uma casa maior, é muito mais confortável ficar trancado em casa de 100 a 150 metros quadrados. Agora você ficar confinado em uma casa de 20 ou 30 metros quadrados é muito mais difícil", analisa.
O cientista alia isso ao fato de haver pessoas que “simplesmente não estão acreditando nisso”. Ele relata situações em que viu pessoas devolvendo máscaras disponibilizadas por agente públicos e se recusando a usar. “É isso que está levando aos óbitos no País”, reforça. Ainda, exemplifica o problema: “Isso é igual a uma compra no cartão de crédito, ela acumula na fatura mas a gente só paga depois. O que a gente faz hoje na pandemia vai ser pago daqui a três semanas."
Uma sugestão também oferecida pelo professor e cientista é de adotar métodos não convencionais, “já que os convencionais adotados pelos Estados e municípios não estão funcionando tão bem”. Desde o líder comunitário ou religioso, até o entregador de gás e gari, para ele, precisa ser um agente de distanciamento social e dar o exemplo. Na Índia, a população pintou com cal e giz o chão para reforçar o isolamento. Até usaram cabo de vassoura como métrica. Isso não foi o governo”, conta.
Questionado sobre ditaduras lidarem melhor com a pandemia do que a democracia, referente a uma pesquisa recente sobre o assunto, ele diz que a conclusão faz sentido. Segundo o cientista, nos regimes democráticos são os indivíduos que escolhem “pro bem ou pro mal” suas ações, mas na ditadura os cidadãos precisam seguir a ordem imposta de forma categórica.
“Seguramente, quando amigos e familiares nos orientam a não fazer algo que faz mal para nossa saúde, é mais fácil ouvir o médico quando ele afirma que se a pessoa não parar de fumar, ela vai morrer. A gente precisa nesse momento dessa autoridade", afirma. Entretanto, não defende ditaduras. O mais importante nessa discussão, para ele, é dar ouvido à autoridades de saúde. “Em uma cirurgia, você vai confiar em seu parente ou no médico? Ou a gente acredita nos nossos autores médicos ou as coisas pioram. Está faltando, no Brasil, acreditar nas autoridades médicas e sanitárias”, conclui.
As 10 cidades com maior índice de isolamento social*
As 10 locais com pior índice de isolamento social*
*O Painel Índice de Isolamento Social é divulgado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e medido através da geolocalização de smartphones, tecnologia usada pela empresa In Loco.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.