Militante comunista, deputado constituinte na década de 1940, obá de Xangô, amigo de intelectuais brasileiros e internacionais, pai de três filhos, marido de Zélia Gattai, figura central da cena literária da Bahia e do Rio de Janeiro. Ao pensar nas múltiplas atuações e faces do baiano Jorge Amado, uma pergunta logo surge: como ele conseguia arranjar tempo para escrever? Autor de uma obra de vasta popularidade (continua sendo o que mais vendeu ficção na história do Brasil), o criador de Capitães da areia é celebrado neste ano por ocasião do seu centenário, comemorado na próxima sexta-feira, 10 de agosto.
O poeta chileno Pablo Neruda, seu amigo, o apontava como “o maior romântico do século 20”. Jorge Amado escreveu 36 obras em vida, entre romances, biografias de figuras históricas e até mesmo uma espécie de obra de memórias, Navegação de cabotagem (1992). Dizer que com suas histórias ele materializou "universos ficcionais" não é exagero: poucas vezes uma obra circulou tanto pelo Brasil e pelo mundo, seja por meio dos livros, seja por meio de adaptações televisivas e cinematográficas, que também marcaram no imaginário brasileiro atores como Sônia Braga e Beth Faria. Para ter uma dimensão de tudo isso, basta dizer que, além de vender milhões, foi o responsável pela invenção de mais de 3 mil personagens.
Nasce em Itabuna, na Bahia, na fazenda dos pais, João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, a Dona Lalu. Cresceu em Ilhéus, cidade que posteriormente viraria o cenário da sua obra mais famosa, Gabriela, cravo e canela. Seu primeiro livro, O país do Carnaval, sai quando ele tinha 18 anos – antes, já havia escrito uma novela, Lenita, para um jornal, em parceria com Edison Carneiro e Dias da Costa. Dois anos depois, casa-se com a primeira esposa, Matilde, com quem ficou até 1944 – no ano seguinte, conhece a escritora Zélia Gattai, sua grande paixão, com quem ficaria até sua morte.
Ainda na década de 1930, começa o ciclo de romances regionalistas, que retratam tanto o interior da Bahia como os centros urbanos do seu estado. São dessa época também suas narrativas mais políticas, que buscam, ao mesmo tempo, revelar o Brasil e mostrar ao povo a necessidade de uma tomada de consciência.
O materialismo histórico marxista não o impediu de ser adepto do candomblé e até de ganhar o título de obá de Xangô, concedido aos protetores dos terreiros. “É aí que você percebe a dimensão humana dele, que não se deixou limitar pelos dogmas políticos. Tanto que depois, ainda identificado com o partido, não aceitou o autoritarismo de Stalin”, diz o professor e pesquisador da obra de Jorge Amado Eduardo de Assis Duarte, autor de Jorge Amado: romance em tempo de utopia.
A partir de Gabriela, cravo e canela, de 1958, seu maior sucesso midiático (ainda que não seja seu livro mais vendido, posto ocupado por Capitães da areia), passa a desenvolver narrativas mais voltadas para mostrar os costumes da sociedade brasileira, deixando de lado a ideia de um romance proletário.
HOMENAGENS
Naturalmente, o centenário de Jorge Amado não vai passar em branco no calendário cultural do Brasil. Estão previstas exposições e seminários sobre a vida e obra do escritor.
Um dos destaques é Jorge amado e universal, realizada pela Grapiúna e pela Fundação Casa de Jorge Amado, que ocupa a partir de 10 de agosto o Museu da Arte Moderna da Bahia. Dividida em “personagens”, “faceta política” e “malandragem e sensualidade”, a exposição traz objetos e obras raras de Jorge Amado, entre fotografias, folhetos de cordel e filmes.
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio deste sábado (4/8).