A autorização da vacina da Pfizer contra covid-19, para uso em crianças de 5 a 11 anos, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), permite o início do uso do imunizante no Brasil para essa faixa etária. Contudo, o País ainda não tem essa versão do produto, cuja dosagem é inferior à aplicada em adultos e adolescentes. Para especialistas, diante do cenário de recrudescimento da pandemia em outros países, devido à disseminação rápida da ômicron, o Brasil já deveria ter comprado e distribuído as doses para a faixa etária pediátrica. Sem os frascos no território brasileiro, o governo demonstra, mais uma vez, o quanto está atrasado para iniciar a ação de imunizar um novo público-alvo.
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A autorização da Anvisa chega após uma grande expectativa e cobrança da comunidade científica, assim como análise técnica criteriosa de dados e estudos clínicos conduzidos pelo laboratório. Segundo a equipe técnica da agência, as informações avaliadas indicam que a vacina da Pfizer é segura e eficaz para o público infantil. A avaliação da Anvisa levou 21 dias, além dos 14 dias que a Pfizer utilizou para responder exigências técnicas do órgão.
A chegada do imunizante, aos postos dos municípios brasileiros, depende do calendário e da logística do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI/MS), que coordena a distribuição das vacinas por meio de programas públicos no País. "Ao longo da pandemia, perdemos mais de 2,5 mil crianças e adolescentes pela covid no Brasil. Então, vejo como excelente a vinda de uma vacina, em termos de proteção para as crianças. Temos hoje o exemplo dos Estados Unidos, que tem mais de 5 milhões de doses aplicadas nessa faixa etária, e com segurança, dentro do que a gente deseja para uma vacina", diz a médica infectologista Rosana Richtmann, que faz parte do time de especialistas externos que acompanharam a avaliação da vacina, pela Anvisa, para crianças.
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Sem a vacina da Pfizer para esse público em solo brasileiro, o Ministério da Saúde sinaliza ter planos para comprar doses do imunizante e, dessa forma, incluir as crianças na campanha de vacinação contra a covid-19. Não se divulgou, no entanto, os prazos para concretizar a imunização contra covid-19 das crianças.
De acordo com o pediatra e infectologista Renato Kfouri, que também integra o grupo que acompanhou a avaliação da vacina pela Anvisa, os benefícios do imunizante da Pfizer para crianças superam quaisquer riscos. "Estamos falando de uma doença cuja carga não é desprezível na pediatria. A mortalidade da covid-19 é elevada, em comparação com qualquer outra doença imunoprevenível na infância. Anualmente só a covid mata mais do que todas as doenças do calendário vacinal infantil somadas", destaca Kfouri.
Para ele, entre outros fatores que fortalecem a necessidade da indicação da vacina contra covid-19 para crianças, estão o risco desse grupo ter a doença e evoluir com a síndrome inflamatória multissistêmica, a chance de ter covid longa e a possibilidade de hospitalização em alguns casos.
Em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) ressaltou, em nota, que o governo "já tem pronta, desde o início da campanha de vacinação contra a covid-19, toda a logística de distribuição das vacinas para os municípios, além de estar em contato permanente com os gestores municipais, realizando o apoio técnico necessário para sucesso das ações". A pasta ainda frisou que o envio de vacinas é feito pelo Ministério da Saúde e que, no caso das crianças, o imunizante é diferente daquele aplicado nos adultos. "A SES está no aguardo das orientações do órgão federal sobre a vacinação das crianças e sobre o envio do insumo para iniciar a proteção dessa população", acrescentou.
Na última semana, em coletiva de imprensa, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, sublinhou que a vacinação do público infantil contra a covid-19 é fundamental. "Isso já está ocorrendo em outros países, inclusive imunizando com CoronaVac, e nós estamos atrasados. Precisamos de mais celeridade", disse Longo.
Também na ocasião, a superintendente de Imunizações de Pernambuco, Ana Catarina de Melo, comentou sobre a CoronaVac. "Os estudos apontam que não há problema em aplicar esse imunizante nas crianças, justamente por ser uma tecnologia já conhecida, usada em outras vacinas de rotina administradas nesse público", ressaltou Ana Catarina. A Anvisa recebeu novo pedido para liberação da CoronaVac para uso na pediatria. "Vamos aguardar o posicionamento. Enquanto isso, Chile, Argentina, Emirados Árabes, Equador, Indonésia e a própria China usam vacinas inativadas em crianças, demonstrando sua efetividade e segurança", escreve o pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima, conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe), em artigo publicado, na quinta-feira (16), nesta coluna.
Particularidades
Vale frisar que a vacina para crianças da Pfizer tem dosagem e composição diferentes daquela utilizada para os maiores de 12 anos. A formulação da vacina para crianças será aplicada em duas doses de 0,2 mL (equivalente a 10 microgramas), com pelo menos 21 dias de intervalo entre as doses.
A tampa do frasco da vacina é de cor laranja para facilitar a identificação pelas equipes de vacinação e também pelos pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para serem vacinadas. Para os maiores de 12 anos, a vacina, que será aplicada em doses de 0,3 mL, terá tampa na cor roxa.
A vacina também tem esquema de conservação diferente, já que pode ficar por 10 semanas em temperatura de 2ºC a 8ºC.
Anvisa contou com especialistas externos
Para a avaliação da ampliação da faixa etária dessa vacina, a Anvisa contou com a consulta e o acompanhamento de um grupo de especialistas em pediatria e imunologia que teve acesso aos dados dos estudos e resultados apresentados pelo laboratório.
O olhar de especialistas externos foi um critério adicional adotado pela Anvisa para que o uso da vacina por crianças fosse aprovado dentro de rigorosos critérios, considerando o conhecimento de profissionais médicos que atuam no dia a dia com crianças e imunização. Participaram especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Histórico da vacina da Pfizer para crianças no Brasil
12 de novembro – Pedido de inclusão da faixa etária de 5 a 11 anos chega à Anvisa
23 de novembro – Agência envia exigências técnicas ao laboratório
3 de dezembro – Anvisa se reúne com especialistas externos para tratar sobre a vacina
6 de dezembro – Exigências são respondidas pela Pfizer
12 de dezembro – Anvisa realiza reunião com representantes de sociedades médicas e Pfizer
16 de dezembro – Anvisa autoriza a vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos de idade
A vacina da Pfizer está registrada no Brasil desde o dia 23 de fevereiro de 2021. Em 11 de junho deste ano, a Anvisa já havia autorizado a indicação da vacina para a faixa etária de 12 a 16 anos.