Pernambucana de Petrolina, no Sertão, Maria Thereza Coelho Cunha Bueno decidiu ceder sua fazenda na Romênia - onde vive com o marido alemão - para receber refugiados da guerra na Ucrânia. No local, ela produz soja, milho, trigo e canola, sendo uma safra por ano devido ao inverno.
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Em entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta sexta-feira (4), Maria Thereza disse que a fazenda fica na cidade de Siret, na fronteira com a Ucrânia. "O perímetro da fazenda, a cerca, é a fronteira com a Ucrânia. Na quinta-feira (24 de fevereiro), os ataques começaram e me ligaram pedindo ajuda, sabiam que moramos na região, e precisavam de ajuda para a atravessar a fronteira. Recebemos americanos, holandeses, ucranianos", comentou.
Diante das notícias de que vários brasileiros, espalhados pela Ucrânia, estariam buscando meios de fugir, Maria Thereza ofereceu toda estrutura ao Itamaraty para transformar o local no consulado brasileiro de fronteira, para acolher os refugiados.
"Vi brasileiros tentando sair e nós brasileiros estamos bem mais distantes, procurei a embaixadora do Brasil na Romênia, Maria Laura Rocha, e ofereci nossa casa para servir de apoio para extração e repatriação dos brasileiros. A embaixadora mandou um time e eles instalaram um posto consular avançado na fazenda. Eles ficam hospedados na casa e usam a estrutura do nosso escritório como posto perto da fronteira", comentou.
No local também chegaram pessoas do Chile, e a embaixadora do Peru no País pediu à brasileira que alguns peruanos usassem a estrutura de apoio. "A gente tenta receber e ajudar da melhor forma que pode", disse. O setor consular da Embaixada do Brasil na Romênia disponibiliza o contato de WhatsApp +40 722 219 236 para ajudar os brasileiros que pretendem ingressar no país a partir da Ucrânia.
Guerra
Questionada sobre o ambiente nos arredores da Ucrânia, nos dias que antecederam a invasão russa, Maria Thereza Coelho disse que as pessoas não esperavam que a guerra realmente fosse acontecer, mesmo com o noticiário e os avanços do exército da Rússia.
"Não acho que houve pouca informação. Se falava em ataque iminente, mas quem está no contexto, acha que é difícil acontecer. Recebemos americanos, empresários, pessoas com acesso à informação, e saíram sem nada, desesperados. Eu e meu marido, mesmo com relatos, tudo indicava a guerra, mas não esperávamos que iria acontecer. No contexto, é difícil enxergar com clareza e aceitar que possa acontecer", contou a empresária.
Ela falou sobre o povo ucraniano e disse que sua fazenda seria, inicialmente na Ucrânia, mas há restrições. Assim, ela e o marido foram para a Romênia e aguardavam o momento de ter a propriedade no país vizinho.
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"Meu marido morou na Ucrânia, queria fazenda na Ucrânia, mas há restrição de compra e venda de terras. A Ucrânia é um grande produtor de grãos, é um país com produção importante, mesmo sofrido por eventos do comunismo. As pessoas têm vontade de fazer, de trabalhar, nos impressionamos com a tecnologia quando visitamos algumas empresas. É um país para frente, voltado para a Europa. Não acho ele mais russo que a Romênia, por exemplo", comentou.
Segundo a brasileira, sua propriedade já recebeu 60 pessoas desde o início do conflito. Ela disse que há uma fila enorme esperando pela saída da Ucrânia e afirma que ninguém ficará desamparado. Ela diz que o próximo passo, a depender da duração do conflito, será a criação de um alojamento temporário para atender mais pessoas.
"Do lado da Ucrânia, há uma fila quilométrica de pessoas que querem sair do país e na Romênia há uma fila de pessoas se juntando para receber os refugiados, na zona rural, e você vê gente levando água, maçã, oferecendo local para hospedar. As pessoas chegam exaustas, em desespero, mas ninguém na minha fronteira fica desamparado. As escolas foram evacuadas para receber refugiados, as igrejas recebem também".