Nova orla da Praia de Piedade, em Jaboatão, estimada em R$ 20 milhões, preocupa ambientalistas

Junto ao lançamento do projeto, começaram nesta quinta-feira (1º) as obras da primeira das três etapas da ampliação da orla na Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Demanda antiga da população e dos comerciantes locais, que alegam não ter, até então, uma infraestrutura que permita a utilização da maior parte do espaço com atividades de lazer ou esportes, o projeto é recebido com preocupação pela comunidade científica. Apesar de haver licenciamento pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e pela Superintendência do Patrimônio da União em Pernambuco (SPU-PE), pesquisadores temem que a construção traga danos ao ecossistema do litoral jaboatonense.

Só para a primeira fase, que vai do Serviço Social do Comércio (Sesc) até a Igrejinha de Piedade, serão desembolsados R$ 6 milhões, mas toda a obra deve custar R$ 20 milhões, inteiramente distribuídos pelo governo federal por meio de emendas parlamentares. As duas outras etapas contemplam o trecho da Igrejinha até a Avenida Boa Viagem, no Recife, e do Sesc até a Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho. Segundo a assessoria da prefeitura, as últimas duas fases serão licitadas em conjunto quando a anterior for concluída.

O projeto é inteiramente voltado para os pedestres: ou seja, não deve haver construção de avenidas para veículos. São previstas ciclovias, alargamento de calçadas, pista de cooper, estações de alongamento, área para eventos, academias, iluminação LED e ecoparques. Como medida de mitigação de danos, haverá o plantio de 400 coqueiros. Os trechos onde já existem calçadas, como é o caso da Avenida Senador Sérgio Guerra, inserida na primeira etapa da obra, serão requalificados. Onde não há, serão construídas.

A Praia de Piedade é conhecida como um ponto de reprodução de tartarugas marinhas das espécies pente, verde, cabeçuda e oliva, sendo, inclusive, monitorada 24h por equipes da prefeitura. Só em 2020, a gestão estima que mais de 3,5 mil filhotes foram soltos. Apesar da prefeitura assegurar que as obras não vão prejudicar as desovas e os nascimentos dos animais, o biólogo Clemente Coelho alerta para o risco. “Observações e relatos dos ecoassociados dizem que o número de desovas tem aumentado pela mobilização das pessoas em prestar atenção e em chamar os órgãos ambientais. O primeiro impacto [da orla] seria ocupar a área de desova de tartarugas, mas existem outros animais que vivem na areia, como caranguejos e aves migratórias”, disse.

Outra problemática a ser observada seria a construção sobre áreas onde foram feitas engordas em 2013 - obras de alargamento da faixa de areia que também passaram por manutenções em 2017, com mais de R$ 40 milhões investidos. “Aquela areia não estava ali, foi colocada a partir de um engordamento, e esse tipo de intervenção requer todo um monitoramento sistemático para ter uma maior vida útil e sustentabilidade. Poucos ambientes naturais e ecossistemas na terra têm uma dinâmica natural tão intensa como na praia. A obra de embelezamento é legítima, mas se mal planejada e mal executada em uma área costeira, que é sensível e que há menos de 10 anos passou por um engordamento artificial, pode ter a vida útil comprometida”, afirmou o geólogo Fábio Pedrosa.

Para a população, o projeto é visto como uma vitória. O comerciante Daniel Guimarães, de 43 anos, que trabalha e mora em Piedade há seis anos, revelou esperar por ele há muito tempo, e deseja que a entrega faça jus às promessas. “Vai valorizar para todo mundo que trabalha na praia, vai ser muito legal. A princípio, está ótimo. Temos que ver o resultado final. O problema de Jaboatão é que não tem uma passagem de pedestres na orla. As pessoas passam de carro do lado de fora, e não sabem que tem a praia aqui. Eu ainda pratico esportes, corro e malho. Acho que vai interligar Boa Viagem, e o pessoal de Recife vai começar a vir para cá também, pedalando e correndo.”

O evento de lançamento da nova orla contou com a presença do setor imobiliário, hoteleiro e de restaurantes de Pernambuco. Isso porque a cidade também permitiu, ainda em 2017, a construção de 27 empreendimentos entre o trecho entre a Rua São Sebastião, em Piedade, e a antiga Candelária, em Candeias, com aval da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH).

“Nós, empresários, precisávamos dessa obra para nos incentivar a voltar a investir no município de Jaboatão dos Guararapes. Quando o poder público entra com a infraestrutura, a iniciativa privada entra com o desenvolvimento. É essa união que faz o bem estar da população, trazendo benefícios para o turismo, toda cadeia econômica e aumentando o emprego, que precisamos tanto em um momento de pandemia, a renda dos moradores e, consequentemente, diminuindo o caos social que a pandemia tem trazido para nossa economia”, disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Pernambuco (Sinduscon), Érico Furtado.

“Para o turismo, isso vai ser muito importante. Com certeza essa obra vai trazer novos investimentos, não só no turismo, com novos hotéis, mas com restaurantes e opções de lazer. Isso vai ser um pontapé para o desenvolvimento do turismo na cidade; para não só voltar a ser um ponto de turismo estadual, mas também nacional. Pernambuco é conhecido por suas praias, e aqui temos uma belíssima que só faltava uma infraestrutura. Agora, vai ficar perfeita”, declarou a diretora executiva do Recife Convention, Gabriela Diaz.

O prefeito Anderson Ferreira ressaltou os benefícios da nova orla à população. “Não podia deixar de agradecer a toda população de Jaboatão, aos moradores e frequentadores da orla. Esse projeto vai dar outra dimensão a essa orla maravilhosa que temos. Projetos que trazem tanto um bem estar tanto para a população de uma área privilegiada, como na orla, como também para toda a população.”

Em frente à Igrejinha de Piedade, o funcionário público Adalberto Moura, 49, pediu por melhorias na orla, principalmente em relação à segurança. “A segurança deveria melhorar, deveriam dar abrigo para o pessoal que mora na rua. Há um certo abandono em relação a essa área, que podia ser muito bem aproveitada. As calçadas são bem mal tratadas, rachadas, sem manutenção. Deve ter área de lazer, esportes, com crianças. É uma boa praia para se frequentar, com exceção de ataque de tubarão. Deveriam movimentar o comércio na área também, que está parado”, opinou.