Investigações

Caso Beatriz: SDS apresenta suspeito e motivação; alguns detalhes não foram esclarecidos

Criança tinha 7 anos quando foi assassinada em Petrolina, há seis anos e um mês, durante formatura em um colégio tradicional da cidade

Cadastrado por

Cássio Oliveira

Publicado em 12/01/2022 às 18:34 | Atualizado em 12/01/2022 às 20:23
Beatriz Mota, 7 anos, foi morta a facadas em festa de formatura no colégio onde estudava, em Petrolina - ARQUIVO PESSOAL

Seis anos depois do assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) apresentou detalhes sobre o principal suspeito do crime, identificado pela Polícia Científica após o DNA encontrado na faca do crime bater com o de Marcelo da Silva de 40 anos, que está preso por outros delitos. Porém, mesmo após a coletiva de imprensa, dúvidas ficaram no ar e abriram brecha para críticas da família da criança à condução do trabalho policial.

O caso não está elucidado e as investigações continuam. Após ser comunicado pela Polícia Civil sobre a identificação do suspeito o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) requisitou providências imediatas para assegurar a ouvida do suspeito, a proteção à sua integridade física e a realização de novas perícias complementares. 

Coletiva da Polícia Civil para anunciar a prisão do suspeito do caso da menina Beatriz morta há seis anos em Petrolina. Na foto, Ângela Cruz, do Ministério Público. - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

As informações foram detalhadas pela promotora de Justiça Ângela Cruz, coordenadora do Grupo de Atuação Conjunta Especial (GACE). À imprensa, após a coletiva, ela disse que não poderia detalhar quais as novas diligências solicitadas à polícia para não atrapalhar as investigações. Mas, devem ser realizadas reinquirições, cronometragem dos fatos contrapondo o colocado pelo suspeito em depoimento, e a volta de algumas testemunhas para depor, visto que agora há o perfil do suspeito.

A menina foi morta em 10 de dezembro de 2015, quando estava na formatura da irmã, no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Ela saiu do lado dos pais para beber água e desapareceu. O corpo dela foi achado dentro de um depósito de material esportivo da instituição com uma faca cravada na região do abdômen e ferimentos no tórax, membros superiores e inferiores. À força-tarefa criada para investigar o caso, o suspeito confessou o crime.

"Assim que tivemos conhecimento de que um suspeito havia sido identificado pelo perfil genético, que é uma prova técnica relevante, entramos em contato com os delegados responsáveis pela investigação. Delegados gravaram o depoimento do homem, ao qual já tivemos acesso. O Ministério Público está devolvendo o inquérito à Polícia Civil, para que sejam juntadas mais informações. Sabemos que a polícia fará o trabalho requisitado de forma responsável, com foco na apuração dos fatos. E ao receber o relatório final da investigação, o MPPE vai analisar o inquérito e apresentar, no tempo devido, a sua manifestação", destacou Ângela Cruz.

O GACE está analisando os 24 volumes do inquérito policial a fim de compreender não apenas o crime, mas também as circunstâncias correlatas, com base em evidências científicas que permitam a realização da persecução penal e uma eventual condenação perante o Tribunal do Júri.

Motivação

Todas as possibilidades foram exploradas na investigação, temos a motivação alegada se coadunando com a dinâmica dos fatos, de que ao haver contato do assassino com a vítima, a vítima teria se desesperado e, por isso, sofreu golpes de faca. Essa é a motivação alegada.
Humberto Freire, secretário de Defesa Social de Pernambuco.

Mas, por que a menina foi morta? Não se sabe ao certo. Na coletiva, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Humberto Freire, afirmou que a morte de Beatriz Mota ocorreu após escolha aleatória do suposto assassino, que buscava dinheiro para deixar a cidade sertaneja, na qual estava transitoriamente.

De acordo com Humberto, o homem alega, em sua confissão, que entrou em contato com a menina, ela teria se desesperado e foi "silenciada" a golpes de faca.

Coletiva da Polícia Civil para anunciar a prisão do suspeito do caso da menina Beatriz, morta há seis anos em Petrolina. Na foto, Humberto Freire, Secretário de Defesa Social de Pernambuco. - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Houve tentativa de crime sexual contra a criança? O secretário também não esclareceu. Humberto afirmou que o suspeito tem histórico e está preso desde 2017 por crime sexual contra menor, mas não cravou se o "contato" com a menina Beatriz foi com esse intuito.

"O acusado tem um histórico de crime sexual contra menor, está preso por crime dessa natureza em 2017. Durante seu interrogatório, ele menciona que transitou no local, teve contato com algumas pessoas e quando teve contato coma vítima, após um breve contato, conversa, ela teria se assustado, desesperado; e a motivação foi silenciar ela, porque (ele) ficou preocupado que houvesse um revés", disse Freire.

Como o homem teria levado a menina para outro local na escola e como saiu da instituição sem que ninguém percebesse? Essas informações não foram detalhadas na coletiva de imprensa. "Ele saiu por meios próprios", foi o que Freire disse. "Não há indicativo de outras participações na autoria, foi a escolha da vítima, segundo a investigação e a confissão, ao acaso, que ele estava transitando e, em razão do desespero, ele informa que decidiu silenciá-la. Não há indicativo de complô a mando de ninguém", completou.

Suspeito

Ficha criminal do acusado no laudo policial do caso Beatriz - Blog Imagem
Marcelo da Silva, de 40 anos, confessou ter matado a menina Beatriz - reprodução TV Globo

Ainda segundo o secretário, o homem, que agora é apontado como autor do crime, o presidiário Marcelo da Silva, de 40 anos, entrou na escola em busca de dinheiro. O homem já foi preso ao menos três vezes por crime contra o patrimônio e estupro de vulnerável.

Na coletiva não foi cravado se ele entrou no local para roubar as pessoas ou furtar objetos. O secretário falou apenas que ele estava em busca de dinheiro para sair de Petrolina e entrou no local por haver muitas pessoas e objetos de valor. Por que ele estava em Petrolina? Não foi informado.

Escola

Vídeos divulgados pela polícia nos últimos anos mostravam o suspeito rondando a escola por volta das 20h30 até as 21h39, quando consegue entrar. A mãe da menina Beatriz, Lucinha Mota, pede esclarecimentos sobre a entrada na instituição de ensino, ela diz que havia pessoas controlando a entrada e quer saber se houve alguma facilitação para que o suspeito adentrasse o local.

Testemunhas relataram presença de um homem suspeito próximo ao local onde Beatriz foi assassinada - Foto: Divulgação/Polícia Civil

"Ele disse que em algum momento teve dificuldade, mas conseguiu acessar a área e circulou. As próprias imagens revelam essa dinâmica, culminando a ter contatos com a vítima no momento em que, após essa breve conversa, (a esfaqueou) para silenciá-la após esse susto, essa ação dela", comentou o secretário de Defesa Social sobre o assunto.

Facadas

O número de facadas foi diferente do noticiado. Ao invés de 42 perfurações, foram dez, conforme o secretário. Segundo ele, há o registro de 42 fotografias de posições diferentes das perfurações, que, na verdade, foram totalizadas em dez. "É normal em laudos dessa natureza", ponderou.

DNA

Em 2019, Marcelo da Silva teve material genético colhido para inserção no banco genético do Estado. Em 2021, a polícia começou a monitorá-lo, junto com outros 124 condenados do sistema prisional, depois de um refinamento dos dados genéticos e melhoria do material encontrado na faca.

Na coletiva, o secretário foi questionado sobre a demora para a localização de Marcelo, visto que ele já tinha histórico de crime contra menor e estava com o material genético no banco de dados desde 2019, estando entre os suspeitos. Ele explicou que, no ano passado, surgiu o primeiro indicativo que apontava o DNA de Marcelo como sendo o mesmo encontrado na faca e, a partir disso, outras análises foram necessárias para comprovação.

"Se chegou (ao suspeito), mas precisava chegar com qualidade nas provas a serem incluídas nos autos. O caminhar de seis anos, em momento algum a polícia e a perícia ficou parada. O Ministério Público recebeu, em 2019, o inquérito, solicitou diligências, do ponto de vista da polícia, outras análises prosseguiram de imagem, melhoria do perfil genético, e vem acontecendo desde 2015", disse. "Foi um trabalho do momento em que o vestígio era possível comparar com possíveis perfis e veio acontecendo até chegarmos a essa comprovação com reprovas, novos exames", completou.

Cronologia

O tempo exato que o suspeito passou com a vítima não foi informado, mas o secretário explica que no material videográfico disponível é possível fazer uma cronologia.

"A dinâmica dos fatos foi estudada segundo a segundo, do momento em que ele estava fora, em outros materiais videográficos, vultos, imagens de não muta qualidade, mas podem trazer o segundo a segundo", disse.

Imagens

Ao longo do processo, um funcionário terceirizado da escola, Alisson Henrique de Carvalho Cunha, teve a prisão decretada por apagar imagens das câmeras de segurança do colégio, atrapalhando as investigações. Segundo a SDS, o material foi completamente recuperado. O secretário Humberto, detalhou que sobre as imagens há um inquérito a parte que envolve três pessoas e está no MPPE.

Participaram da coletiva o secretário de Defesa Social, Humberto Freire; o chefe da Polícia Civil, Nehemias Falcão; a coordenadora o do Central de Apoio a Promotorias (Caop Criminal), Ângela Cruz; e o gerente geral da Polícia Científica, Fernando Benevides, que tomou posse do cargo neste mês. Os delegados que integraram a força-tarefa criada em 2019 para investigar o caso não participaram da entrevista.

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