Com informações da repórter Cinthia Ferreira, da TV Jornal
O assassinato da menina Heloysa Gabrielly, de seis anos, na última quarta-feira (30) durante uma ação policial desencadeou uma série de protestos de moradores da comunidade Salinas, em Porto de Galinhas, praia de Ipojuca, no Grande Recife.
A comunidade acredita que a morte tenha sido provocada por policiais militares, que teriam chegado atirando em uma praça. Já a Polícia Militar defende que o efetivo teria trocado tiros com suspeitos de tráfico de drogas.
Na manhã desta sexta-feira (1º), um ônibus que havia sido queimado durante a noite da quinta na pista de acesso à comunidade continua no local. Ainda é possível ver fumaça saindo do coletivo.
Na entrada de Porto de Galinhas, na PE-09, há várias viaturas da Polícia Militar e da Polícia Civil nesta manhã. Também é possível ver restos de madeira e entulhos, resquícios dos protestos da noite de quinta.
O sentido Recife da PE-09 estava parcialmente interditado com barro para impedir a passagem de veículos, mas equipes já trabalham para fazer a remoção.
No centro de Porto, algumas lojas estão abertas na manhã desta sexta, outras, decidiram manter as portas fechadas. Na rua, estão os restos da manifestação realizada na noite anterior.
Os estabelecimentos permanecem fechados em Porto. Turistas e moradores de Porto de Galinhas estão aterrorizados. O jangadeiro Carlos Roberto da Silva, 41, participou das manifestações que foram pacíficas, mas defende que o comércio seja retomado para que quem depende dele, a maior parte da cidade, não seja mais prejudicado.
“Jangadeiros são quase uma família, e quando houve o incidente com a menina a gente resolveu parar Acho que hoje já podia estar todo mundo trabalhando, porque tem muita família que depende da praia. Tenho barraca e faço passeio de jangada, o prejuízo é grande.”
Policiais do 11º Batalhão da PM fazem a segurança da área e a movimentação é tranquila. "Todo mundo está assustado, os turistas estão todos indo embora", disse um morador, à TV Jornal.
Nas proximidades do acesso à praia de Serrambi, há diversas viaturas da PM. Como nem todos os estabelecimentos comerciais abriram, há fila em uma padaria no local.
Heloysa Gabrielly, de seis anos, foi morta durante uma ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Imagens de câmeras de segurança revelaram que, momentos antes da criança ser atingida por um tiro no peito, duas viaturas policiais perseguiam uma moto.
Só havia um homem nela, diferente da versão informada pela Polícia Militar de que havia dois suspeitos de tráfico de drogas fugindo. Apesar disso, ainda não se sabe de que arma partiu o tiro que matou a menina.
Na noite dessa quinta-feira (31), o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), determinou o reforço da segurança em Ipojuca. Cerca de 250 homens das polícias Militar e Civil seguiram em comboio para o Litoral Sul.
A gestão estadual informou que o governador monitorou o caso ao longo do dia, juntamente com o secretário estadual de Defesa Social, Humberto Freire, e do comandante da PMPE, coronel Roberto Santana.
"Quero expressar minha solidariedade à família da menina Heloysa e assegurar que o caso será apurado com o máximo rigor. Estamos trabalhando de forma integrada com nossas forças operativas e reforçando o efetivo para restabelecer a tranquilidade no Litoral Sul", disse o governador.
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Tensão durante a noite
A noite da quinta foi tensa em Porto de Galinhas. Por volta das 20h, a reportagem da TV Jornal chegou a ser orientada pela Polícia Militar a aguardar antes de seguir viagem para voltar ao Recife, porque homens armados estariam abordando carros nas proximidades do acesso à Nossa Senhora do Ó.
Turistas deixam a praia
Os turistas que aproveitavam dias de folga em Porto de Galinhas, um dos principais destinos de Pernambuco, precisaram interromper a diversão por causa da tensão no local. Alguns deles foram às redes sociais pedir ajuda para sair da cidade.
"Escolhemos Porto de Galinhas pela praia e pela fama de segurança, mas chegando aqui percebemos que não é bem assim. Entendemos o desespero da população e a gravidade do ocorrido. Eles têm o direito de protestar, sem o vandalismo, claro, mas é dever do governo dar apoio e manter a ordem, a calma. O turista tem que ser informado e amparado", lamentou a engenheira de software Letícia Paiva, 28 anos, que saiu de São Paulo para o estado.
Reforço da segurança
Polícia Militar pede tranquilidade
O coronel Alexandre Tavares, diretor especializado da Polícia Militar, pediu para a população manter a tranquilidade, em meio aos protestos em Porto de Galinhas. "Quero informar as pessoas que trate o seu dia de forma rotineira. A Polícia Militar está presente para garantir que a área esteja policiada e tranquila para que a população possa realizar suas atividades diárias", declarou.
Sobre a ação do Bope, que é acusado pelos moradores da comunidade de ter provocado a morte da criança, o representante da PM disse que os policiais são experientes e acostumados a esse tipo de ocorrência.
"Foram sete policiais, em duas viaturas. São policiais experientes e que pertencem a uma unidade especializada, que é BOPE. Eles passam por treinamento após a formação, em um regime de qualificação diferenciado. Todo o procedimento adotado foi dentro da legalidade e dentro da doutrina", declarou.
Prefeitura de Ipojuca cobra providências
A prefeita de Ipojuca, Célia Sales, decidiu oficiar o Governo de Pernambuco cobrando "providências para que a ordem pública e a segurança dos cidadãos e dos turistas seja restabelecida".
Em nota, a gestão municipal lamentou a morte de Heloysa e informou que espera que os "dias de paz voltem a reinar no maior destino turístico do Estado".