As eleições são o momento para que o povo eleja seus representantes. Em tese, os eleitos devem ser um retrato de como a população é e se comporta. Porém, os eleitores nem sempre destinam seus votos a quem, de fato, tem pontos de identificação. O eleitorado pernambucano, por exemplo, ainda segue uma tendência de eleger mais homens brancos, embora a população seja, em sua maioria, de mulheres e negros ou pardos.
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No pleito municipal de 2020, cujo primeiro turno ocorreu nesse domingo (15), 80,1% dos prefeitos eleitos em Pernambuco são homens e apenas 19,9% mulheres. A população pernambucana é formada por 48,1% de homens e 51,9% de mulheres, de acordo com dados do portal UOL. Apenas duas cidades vão definir as eleições no segundo turno, Recife e Paulista, e só na capital pernambucana uma mulher ainda está na briga pela prefeitura, que é o caso de Marília Arraes (PT), enfrentando João Campos (PSB).
Quanto a cor da população em comparação a cor de prefeitos eleitos, 36,5% da população é branca e 62% preta ou parda, enquanto 55,1% dos prefeitos eleitos é da cor branca e 44,3% pretos ou pardos.
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Os pernambucanos também escolheram seus vereadores no último domingo. No Recife, que conta com 39 vagas para a Câmara Municipal, 32 serão ocupadas por homens e apenas sete por mulheres - representando aproximadamente 17,9% da casa.
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"A mudança [do aumento da quantidade de mulheres na política] se dá em caráter muito simbólico. Claro que houve aumento, mas é um aumento muito pequeno, frente aos desafios, a proteção ao direito das mulheres, a concretização de políticas públicas destinadas a elas nesse sentido. Os maiores gargalos acontecem justamente dentro dos partidos, que são responsáveis por criar as condições para que os candidatos e candidatos sejam eleitos. O financiamento de campanha explica isso: candidatos e candidatas mais bem financiados geralmente são eleitos. E o que os partidos fazem? Destinam recursos a políticos com maior trajetória - geralmente homens e brancos. Esse é o principal gargalo, distribuição de recursos. É muito difícil competir numa situação de desigualdade e por isso os dados não são animadores. Ainda tem esse dificuldade de fazer o lançamento de forma autônoma. Garantir que as mulheres disputem de fato e possam conquistar cadeiras, isso acaba impactando em políticas públicas, se não for mais fiel à sociedade, é difícil pensar em políticas que atendam, tem diversas questões. Não é somente mulheres, mas também indígenas, negros, várias maiorias que são excluídas. É preocupante", explicou o cientista político Vitor Sandes.
Mesmo elegendo bem menos mulheres que homens, o eleitorado recifense deu mais votos a uma mulher negra. Dani Portela (PSOL) foi a vereadora mais votada no último domingo, recebendo 14.114 votos. Esta foi a primeira vez em que a candidata concorreu à Câmara Municipal do Recife, após ter apontado em 3º lugar para as eleições do Governo do Estado em 2018.
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"Passei a campanha [de 2020] andando nas comunidades, conversando com muitas mulheres em morros, nas beiras dos mangues e rios, por entender que essas mulheres são atrizes políticas de transformação social. As pessoas olhavam e diziam 'você parece com a minha filha'. É sobre esse parecer que é físico, mas que também é um parecer político. Se parecer com os nossos. Infelizmente os nossos não chegam nesses espaços de decisão, então é sobre representatividade", disse em entrevista ao Jornal do Commercio. Dani afirma que o resultado foi uma surpresa, mas que "esperava que tivesse uma vitória política porque a construção foi muito bonita".