Filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, e bisneto do também ex-governador do Estado, Miguel Arraes, o candidato a prefeito do Recife João Campos (PSB), de 27 anos, transformou o discurso de que sua juventude e sua herança política podem ser fatores positivos, que agregam a sua capacidade de tirar promessas do papel. "Estou pronto para ser prefeito do Recife", pontuou o socialista em diversas ocasiões durante sua campanha, corroborado por sua candidata a vice-prefeita Isabella de Roldão.
No entanto, diferente do primeiro turno das eleições, em que houve mais espaços para apresentar suas propostas e pretensões para os próximos quatro anos - com um apelo forte as grandes figuras políticas de sua família como uma forma de credenciá-lo em sua primeira disputa majoritária. Foi neste segundo turno de campanha que sua atuação como parlamentar na Câmara dos Deputados e sua postura de enfrentamento ao PT, se tornaram mais evidentes.
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Ao declarar que o “Recife não vai andar para trás”, João Campos partiu para um comparativo dos oitos anos de gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB) em relação aos 12 anos de PT à frente da Prefeitura do Recife. Ele garante que dará continuidade a projetos que considera importantes para a capital pernambucana, a exemplo do Compaz e da Faixa Azul. A três dias da eleição ele também havia declarado que que não “haverá indicação política do PT”, em seu governo - cravando, ao menos no âmbito municipal, o distanciamento de vez com a sigla petista.
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Assim como seu pai e o apadrinhado político dele, Geraldo Julio, a promessa de um grande hospital, também fez parte das suas principais propostas nesta campanha. Em sua primeira disputa majoritária João Campos prometeu que, se eleito, construirá o Hospital da Criança do Recife, na Zona Oeste da cidade. O carro chefe de toda a campanha continuou sendo o Crédito Popular, benefício que irá conceder linha de crédito de R$ 3 mil, a juros de 0.99%, para empreendedores.
Entre as críticas e acusações de corrupção contra a sua adversária Marília Arraes (PT), o currículo de parlamentar também foi bastante explorado como estratégia de ataque. Criador da CPI do Óleo, coordenador da Comissão Externa de Acompanhamento dos Trabalhos Externos do Ministério da Educação (Comex/MEC) e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica, foram alguns dos pontos trazidos para o debate sob a narrativa de que mesmo com um ano e meio de mandato, João Campos possui uma trajetória competitiva, com capacidade de diálogo, inclusive com outros partidos.
Para os analistas políticos consultados pelo JC, é possível fazer algumas avaliações sob o ponto de vista entre prós e contras que pesam para o candidato a prefeito do Recife pela coligação da Frente Popular (PSB,PDT,PP, PSD, PROS, Rede Sustentabilidade, Solidariedade, Republicanos, MDB, PSD e PCdoB).
Segundo o historiador e cientista político, Alex Ribeiro, ter uma coligação robusta pode proporcionar uma sustentação considerável ao seu governo. “Além disso, na Câmara de Vereadores seu partido, o PSB, elegeu 12 legisladores, quase um 1/3 da Casa José Mariano. O que o ajudará num possível governo. Outro ponto positivo é a estrutura partidária que o PSB tem no âmbito do Executivo. É uma legenda que já está à frente da Prefeitura e também no governo do estado. Um diálogo mais restrito entre essas duas instituições ajuda no desenvolvimento do Recife e do Estado como um todo”, avaliou.
A referência ao legado de Eduardo Campos também seria outra questão positiva para o socialista, segundo a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) . “Muitas pessoas remetem a era Eduardo como sendo a melhor da história do Estado. Alguns temem romper com esse modelo e isso representar perdas”, comenta Lapa.
Sobre as questões que pesam contra a escolha do eleitor por João Campos, estão as tramas familiares, sua juventude de certa forma e a fadiga da população as gestões do PSB não só no âmbito estadual quanto no municipal.
“Mesmo antes da campanha iniciar, fala-se da hegemonia do PSB e da família Campos no cenário local. Fala-se que João representa a continuidade de um projeto de poder, que já sinais de cansaço e desgaste. Desvencilhar-se desse sentimento é um desafio para ele. O sentimento predominante é de mudança (vide a votação somada de todos seus opositores no primeiro turno). Como representar mudança sem protagonizar rompimento?”, declara a docente. Outro ponto seria falta de pulso para comandar a prefeitura de uma das principais capitais do país. “Que seria então comandada pela sua mãe (Renata Campos), que é um personagem oculto e, ao mesmo tempo, presente na narrativa da campanha deste ano”, complementa Priscila Lapa.
As propostas do candidato a prefeito João Campos passam por áreas da saúde, educação, saneamento básico, mobilidade, causa animal, emprego e renda e outros setores. Entre as promessas voltada para a primeira infância, o socialista garante que irá aumentar em 50% o número de creches e criar o Praças da Infância, espaço para atividades físicas e recreativas, inclusive de crianças com deficiência.
Outro projeto, voltado para quem anda de bicicleta pela cidade, trata da ampliação da malha cicloviária em 100 km, ligando a via da Zona Sul a Zona Norte. Para o centro do Recife, uma das questões mais debatidas nesta eleição, João Campos promete criar um escritório de otimização para a gestão dos bairros centrais, requalificar as avenidas Dantas Barreto e Guararapes para estimular a moradia, e transformar a rua do Bom Jesus numa via exclusiva para pedestres e ciclistas. Para estimular o emprego e renda, consta entre os projetos do socialista o Embarque Digital, que irá disponibilizar 500 bolsas em cursos com formação tecnóloga para estudantes da rede municipal de ensino, para que possam atuar profissionalmente na área de tecnologia. Além disso terá a agência Desenvolve Recife, que será um centro de empreendedorismo reunindo Sala do Empreendedor, Agência do Trabalho, cursos de capacitação e Crédito Popular.
O candidato a prefeito João Campos escreveu um artigo, para o Jornal do Commercio, sobre suas pretensões para o Recife para os próximos quatro anos, caso seja eleito.
"Um tempo novo pede uma nova forma de enfrentar os problemas
A pandemia causada pelo novo coronavírus veio ao mundo para escancarar as mazelas sociais, deixar ainda mais expostas as marcas históricas de décadas, séculos e milênios de distorções e contrastes entre as pessoas e suas classes sociais. No Brasil, não seria diferente. Todos sofreram, sem exceção, com os impactos da covid-19, mas, principalmente, aqueles que sempre precisaram de uma atenção maior do poder público. No Recife, embora muito tenha sido feito nos últimos anos, ainda há muito a fazer e, diante do que ocorreu, o desafio é enorme para os próximos anos. Dito isto, considerando o cenário atual de eleição, como deveria agir o próximo prefeito? A resposta é uma só: um tempo novo pede uma nova forma de enfrentar os problemas.
E o que eu quero dizer com “uma nova forma de enfrentar os problemas”? É preciso ter capacidade de superação, inovar, saber ousar, expandir conquistas que podem ser maiores, alcançar mais pessoas e, especialmente, fazer o que falta. Nas visitas e reuniões políticas que conduzo em cada comunidade ou bairro do Recife, esclareço que não estou participando do pleito eleitoral para enaltecer o que foi entregue. Fundamentalmente, estou aqui para trabalhar pelo que falta. A respeito disso, cabem muitas ações e iniciativas capazes de mudar para melhor a realidade das pessoas.
O programa Crédito Popular do Recife, que será o maior entre as capitais do Brasil, é um bom exemplo de realização que dará oportunidade real àqueles recifenses que planejam abrir ou já têm o seu pequeno negócio. O crédito mexe com a economia ao mesmo tempo em que gera emprego e renda. Na educação, que é a prioridade para toda uma vida, vamos duplicar o atual número de vagas em creches, alfabetizar as crianças na idade certa (até os 7 anos de idade) e qualificar os jovens pelo Embarque Digital para que eles possam atender à demanda emergencial de tecnologia da informação, que vem de empresas como o Porto Digital.
O nosso programa de governo contempla uma série de projetos que atendem a todos os setores e segmentos. E para tornar realidade o que estamos propondo, vamos fazer algo que condiz com a nossa forma de atuar na política: dialogar e unir as pessoas em torno dos objetivos comuns. É nisso que eu acredito e é assim que se faz mais. Apesar de não ter sido fácil chegar até aqui, nós fomos firmes e nos mantemos coerentes em nosso caminho. Sofremos muitos ataques, mas resistimos e vamos vencer porque o futuro a gente faz agora.
Enfim, a trajetória que eu fiz me trouxe até aqui. O meu aprendizado na política, a minha vivência, tudo me motivou, me desafiou a querer fazer ainda mais. E eu sei que eu tenho muito a contribuir, colocar a minha cabeça e o meu coração a serviço disso, de cuidar da cidade, das pessoas, dialogar, ouvir, ter maturidade e crescer no desafio. Só que eu não vou fazer nada disso sozinho. Junto com todas e todos, vamos fazer o Recife largar na frente com base na boa política e na verdade, por um sonho coletivo."