Deputados estaduais podem criar uma comissão suprapartidária para ouvir o governador Paulo Câmara (PSB) sobre a operação policial que interrompeu, de forma violenta, um protesto realizado no Recife, no sábado (29). A ideia foi proposta pela deputada Teresa Leitão (PT) e defendida, também, pelo deputado Alberto Feitosa (PSC). A demanda foi encaminhada ao presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Eriberto Medeiros (PP), para deliberar sobre o tema.
A ação policial, que deixou dois homens parcialmente cegos, depois que foram atingidos com balas de borracha nos olhos, repercutiu entre os parlamentares na sessão desta quinta-feira (3). Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas (PSOL), participava da manifestação e descreveu o ocorrido. "O ato organizado e pacífico que vinha ocorrendo nas ruas do Recife foi alvo de uma emboscada da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE). Manifestantes foram agredidos com bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha”, registrou.
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A psolista lamentou, ainda, a violência praticada contra a vereadora do Recife Liana Cirne (PT) e a falta de interesse da corporação em dialogar com os parlamentares que estavam no evento tentando mediar a situação. Na avaliação da representante das Juntas, as informações repassadas à Alepe pelo secretário de Defesa Social (SDS), Antônio de Pádua, nesta semana, ainda são insuficientes. “O povo quer saber o que levou a PM a agir com tanta violência. Quem ordenou a ação? Quanto custou a operação? Qual vai ser o apoio às vítimas?”, questionou.
Deputado estadual e presidente do PT-PE, Doriel Barros foi enfático: "um ato pacifico, cumprindo todos os protocolos de distanciamento social, sofreu agressões covardes. Os policiais responsáveis pelos ataques não merecem utilizar fardas com o símbolo do Governo de Pernambuco”, afirmou.
Por sua vez, Teresa Leitão disse que a Polícia Militar “se apequenou pela covardia e pela violência desproporcional”. “Em vez de garantir a paz, aquele grupo expôs Pernambuco negativamente em todo o País”, ressaltou. Ao cobrar a criação da comissão para ouvir Paulo Cãmara é preciso "mostrar a urgência desse tema”.
Em apartes, os deputados Waldemar Borges e Laura Gomes, ambos do PSB, endossaram a fala. “O Batalhão de Choque é chamado para apaziguar conflitos, o que não havia ali. A PM é mais do que centenária, não é justo que fique manchada em razão dessa insubordinação”, afirmou Borges. “Foi um momento muito triste para o Estado”, acrescentou a socialista.
Militar
Tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de Pernambuco, o deputado Alberto Feitosa lembrou que há um decreto estadual que proíbe aglomerações. “O ato descumpriu o acordo que previa o encerramento aos pés da Ponte Duarte Coelho. Quando os participantes avançaram em direção à Praça do Diário, o Batalhão de Choque recebeu ordens para fazer a dispersão”, narrou. Ele concordou com a formação de uma comissão na Alepe, sugerindo que o grupo investigue os fatos e quebre sigilos telefônicos para descobrir de onde partiu a ordem de dispersão.
Além disso, segundo o parlamentar, a polícia teria sido atacada com pedras, o que gerou reação. “O Batalhão de Choque teve que revisar porque estava ali para evitar que patrimônio público fosse depredado”, opinou. “Se houve excesso por parte dos policiais, é preciso dar o direito de defesa e aplicar o regulamento, entendendo a situação do servidor público.” Ele propôs novas regras para essa unidade policial, com ordens por escrito, a partir do Governo Estadual. Nessa quarta-feira, o governador Paulo Câmara afirmou que o ato seguia pacífico e que, até o momento, não há nada que justifique a ação da polícia.
Confira imagens do protesto e do momento da dispersão
Ao comentar o discurso do colega, o deputado Delegado Erick Lessa (PP) opinou que a manifestação foi “completamente inadequada ao momento em que vivemos”. Ele defendeu a apuração de eventuais excessos, mas considerou “hipocrisia provocar aglomeração e, ao mesmo tempo, criticar a atuação de uma instituição policial para cumprir o que está no decreto do Governo do Estado”. Também enalteceu o ex-comandante Vanildo Maranhão: “Teve um papel brilhante na diminuição da violência em Pernambuco em seus quatro anos de atuação”.
Teresa Leitão e Waldemar Borges pediram que se revele o autor das ordens para dispersar o protesto. “Fui contra o ato por razões sanitárias, mas ele ocorreu com um nível de organização difícil de se obter em movimentos de massa. Quem perturbou foram os que atiraram, numa ação descabida que não está em qualquer protocolo”, declarou o socialista. Jô Cavalcanti lembrou que o protocolo da PM prevê tiros de borracha apenas abaixo do pescoço e à distância, mas “houve disparos à queima-roupa”.
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