Deputados e vereadores pernambucanos comentam a saída de Antônio de Pádua do comando da SDS

À frente da SDS desde 2017, Pádua era um dos principais personagens da crise provocada por setores na Polícia Militar no último sábado (29), quando uma ação da corporação durante um protesto deixou pelo menos duas pessoas gravemente feridas
Renata Monteiro
Publicado em 04/06/2021 às 19:04
SEM SUCESSO Pádua havia ido à Alepe tentar reduzir a pressão política sobre o tema, mas não conseguiu Foto: DIVULGAÇÃO


atualizada às 22h15

Mal foi anunciada pelo Governo de Pernambuco no fim da tarde desta sexta-feira (4), e a exoneração do secretário de Defesa social de Pernambuco, Antônio de Pádua, já começou a repercutir entre parlamentares da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e da Câmara de Vereadores do Recife. À frente da SDS desde 2017, Pádua era um dos principais personagens da crise provocada por setores na Polícia Militar pernambucana no último sábado (29), quando uma ação da corporação durante um protesto na região central da capital deixou pelo menos duas pessoas gravemente feridas depois de serem atingidas por balas de borracha.

A vereadora Liana Cirne (PT), que foi agredida por um dos militares com um jato de spray de pimenta no rosto durante a manifestação, usou o Twitter para comemorar a saída de Pádua do cargo, mas fez questão de reforçar esse movimento do governo, por si só, não soluciona o que provocou os erros cometidos pela PM no ato. "Caiu o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua. Ainda precisamos de outras ações, mas é possível afirmar que esse, sim, é um passo significativo para responder às violências do dia 29 e para começar a enfrentar o bolsonarismo infiltrado nas forças policiais", disse.

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Vice-líder da oposição na Alepe, o deputado estadual Alberto Feitosa (PSC) afirmou que segue querendo saber quem deu a ordem para que os militares procedessem da forma como fizeram no protesto. "Caiu o comandante da PM-PE, agora cai o secretário da SDS e ainda não se sabe quem deu a ordem! Só não esqueçam que quem quebrou a cadeia de comando e recebeu a vereadora da 'carteirada' foi o governador Paulo Câmara", declarou, também no Twitter. Na última terça-feira (1º), três dias depois do protesto, o comandante da PM, Vanildo Maranhão, entregou o cargo. Nesta sexta, o novo comandante geral da corporação, José Roberto de Santana, tomou posse.

O vereador Ivan Moraes lembrou que o agora ex-secretário afirmou mais cedo que "ordenou que a violência parasse assim que soube dela (às 12h34)", mas que não foi obedecido, conforme mostram "diversos vídeos com hora e minutos registrados". "Se eu fosse secretário de Defesa Social e tivesse uma ordem desobedecida por um batalhão, ou exoneraria todo o comando ou teria entregue o cargo na mesma hora", cravou o parlamentar.

O deputado estadual Waldemar Borges (PSB), por sua vez, classificou como "lamentável" a entrega do cargo do secretário e disse acreditar que ela foi provocada por quem verdadeiramente ordenou o ataque da PM. "A saída de Pádua é mais uma consequência lamentável, provocada por quem deu a ordem para tocar o terror na manifestação contra o genocida. Perdemos um profissional que vinha fazendo um excelente trabalho dentro do nosso Pacto Pela Vida. Isso só reforça a exigência para que cheguemos ao verdadeiro culpado pelas barbáries que aconteceram no último sábado em nosso Estado", observou.

"Pela nota que o secretário lançou há pouco, ele indica a sua saída do cargo como único caminho possível depois do que ocorreu. Como ele diz que não compactua com o que foi feito, eu acho que não tinha saída. Agora eu espero que as investigações esclareçam as dúvidas que restam sobre o caso, pois não podemos dizer que os soldados agiram por livre e espontâneo delírio. Eu até acredito que houve um componente de ódio muito grande na situação, mas quem mandou a tropa para a rua?", questionou a deputada estadual Teresa Leitão (PT).

Sindicato dos Policiais Civis 

O Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco emitiu uma nota dizendo que faltou diálogo na gestão de Pádua à frente da Secretaria de Defesa Social.

"Na sua gestão, o ex-secretário tentou impor muita coisa sem nenhum diálogo, além de não buscar inovar ou implementar novas políticas de Segurança Pública, como a reformulação do combalido Pacto Pela Vida, a aproximação das Polícia com as Comunidades, a valorização dos policiais da base e a melhoria da estrutura das delegacias para que pudéssemos investigar mais e melhor", diz um trecho.

Segundo o Sinpol, a gestão "virou as costas para a polícia investigativa do Estado". 

Leia a íntegra 

"A exoneração do agora ex-Secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, deixou evidente que, por ação ou omissão, o mesmo tem relação direta com os fatos lamentáveis ocorridos no Recife, no último dia 29.

Infelizmente, Antônio de Pádua nunca foi de ouvir os apontamentos e os problemas da base da Polícia Civil de Pernambuco, muito menos do sindicato. Na sua gestão, o ex-secretário tentou impor muita coisa sem nenhum diálogo, além de não buscar inovar ou implementar novas políticas de Segurança Pública, como a reformulação do combalido Pacto Pela Vida, a aproximação das Polícia com as Comunidades, a valorização dos policiais da base e a melhoria da estrutura das delegacias para que pudéssemos investigar mais e melhor. Muito pouco foi feito apesar das tentativas do SINPOL em contribuir ao longo de todos esses anos.

A sua gestão também será marcada como a gestão que perseguiu dirigentes sindicais e que promoveu a injusta e covarde demissão do ex-presidente do Sinpol, Áureo Cisneiros, simplesmente por cumprir sua obrigação de defender a categoria e buscar a justa valorização dos policiais civis.

Uma gestão que virou as costas para a polícia investigativa do Estado, contribuindo para o sucateamento da estrutura da Polícia Civil. A exemplo do que aconteceu com a Delegacia de São José do Egito, que foi despejada por falta de pagamento de aluguel e ficou um tempo funcionando em ônibus e em container. Sem falar das inúmeras delegacias completamente sucateadas e/ou ameaçadas de despejo. Não finalizou o Complexo de Perícias de Caruaru e ainda o deixou ser completamente saqueado. Por fim, sai apontado como cúmplice dos fatos ocorridos no último sábado, dia 29, no centro do Recife.

Acreditamos que o Estado de Pernambuco pode fazer muito mais para a segurança do nosso povo e o SINPOL sempre esteve à disposição para contribuir nessa construção, sempre de forma firme, contundente e expondo o olhar da nossa categoria. Esperamos que o próximo secretário dialogue com o policial civil, porque, em momentos de crise, o diálogo deve prevalecer para buscar saídas, que muitas vezes não são fáceis, mas que passam inevitavelmente por muita conversa, transparência, e valorização para quem põe em prática a segurança pública do Estado, que são os policiais, principalmente os policiais da base". 

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