O professor emérito do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Silvio Meira prestou, publicamente, agradecimentos ao ex-vice-presidente Marco Maciel pela ajuda na construção do que viria a ser um dos mais renomados centros de ensino e pesquisa em computação do Brasil. O político pernambucano morreu na madrugada desse sábado (12) em Brasília por complicações do Mal de Alzheimer, que o acometia desde 2014.
"A primeira visita de Marco Maciel ao que viria a ser o centro de informática foi em 1975. Ele foi à universidade, no local onde hoje estão os prédios do Cin, visitar nossos sonhos, ver de perto o que a gente estava tentando fazer. No lugar, era um mangue, e a gente tinha um desenho de mundo", conta o professor.
O também empresário demonstra gratidão ao político, ao dizer que ele foi essencial para a elaboração do plano do que viria a ser o CIn. "Maciel ouviu aquela história toda e disse para a gente fazer um plano não para fazer uma coisa qualquer, mas para construir uma instituição que fosse de excelência e referência em ciência da computação, em tecnologias da informação. Excelência para ser ou estar entre os melhores, e referência para ser possível de ser copiado. Ele não estava interessado apenas em um lugar qualquer e muito menos em um lugar comum. Ele queria construir coisas que ficassem, como ficaram muitas das articulações políticas que ele fez", diz.
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"Sempre que o CIn precisou conversar, articular, fazer planos ou lutar por recursos - sempre escassos no Brasil -, sempre que precisou do aconselhamento de Maciel, ele estava lá. Ele nos recebeu muitas vezes, na casa dele, muitas outras tantas nos gabinetes em Brasília", afirma.
Para Silvio, "Maciel foi a pessoa do entendimento". "Ele entendia, apesar de não saber os detalhes técnicos, qual era a importância do que estava sendo feito quando se estava desenhando o comitê gestor da internet no Brasil, quando se precisava articular ministérios como Ciência e Tecnologia, Comunicação, Planejamento, Economia e tantos outros. Maciel foi a pessoa do entendimento", relata.
Ele também cita a falta que Maciel já fazia desde que foi acometido pelo Mal de Alzheimer "Há muito tempo, ele já fazia muita falta. Nessa última década, ele passou fora da política e depois foi acometido por uma doença incapacitante. Perdemo-lo em vida, e, agora, ele se foi para sempre. Ele já fazia muita falta, e agora que vai fazer falta mesmo. Mas fica a referência e a história de Marco Maciel, que trabalhou por todos e nunca pediu nada para ele", completa.
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Histórico
Marco Maciel assumiu a presidência da República 87 vezes – “um pouco mais de 10 meses” – nos oito anos em que foi vice de Fernando Henrique Cardoso, que ocupou o Palácio do Planalto de 1995 a 2002. “Era o vice dos sonhos. Viajava e não tinha a menor preocupação, porque Marco era correto. E mais do que correto, minucioso, quase carinhoso. Por exemplo, muitas vezes me trazia algo para ler e marcava em amarelo para poupar o meu tempo. Ele era leal ”, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em depoimento ao documentário Marco Maciel – A Política do Diálogo, realizado pela TV Câmara em 2016.
O que mais chama a atenção da frase acima é que Marco Maciel e Fernando Henrique Cardoso passaram grande parte da vida em partidos de lados opostos. Maciel foi um tradicional quadro de siglas da direita – como Arena, PDS e o PFL – e Fernando Henrique, era considerado de esquerda até se tornar presidente da República, quando assumiu um perfil de centro-direita. As posições religiosas também eram diversas: Marco Maciel era muito católico e FHC agnóstico.
“Ponderado, tinha horror à crença ideológica cega e também à arrogância da razão. Homem de princípios, não desdenhava das orientações alheias. Construtivo na vida pública, derrubava barreiras, não construía muros que impedissem o diálogo”, afirmou Fernando Henrique, se referindo a Marco Maciel”, num texto intitulado Fé e Razão, uma das apresentações da biografia Marco Maciel – Um Artífice do Entendimento, de autoria do jornalista Angelo Castelo Branco.
A aproximação entre os dois ocorreu quando ambos eram senadores e o apartamento deles ficava próximo em Brasília, o que faziam eles se encontrarem, “de vez em quando”, como lembra Fernando Henrique. Quando começou essa convivência, “Marco Maciel já se inclinava abertamente a ajudar o fim do ciclo político que se iniciara em 1964”, como disse FHC na biografia citada acima.
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“Marco Maciel, Luís Eduardo Magalhães e Jorge Borhausen foram os primeiros a colocar a eventualidade de eu ser candidato a presidente da República”, lembrou Fernando Henrique no mesmo documentário. Os três foram dissidentes do antigo PDS e passaram a fazer parte do Partido da Frente Liberal (PFL) que apoiou a candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Fernando Henrique também afirmou que, entre os políticos do PFL, o que tinha mais influência sobre ele era Marco Maciel, “que era discreto”. Na época, se falava muito que o político mais importante do PFL era o baiano Antonio Carlos Magalhães.
Ainda no livro de Angelo Castelo Branco, Fernando Henrique Cardoso revelou que, como presidente, foi “várias vezes ao encontro anual que de deputados católicos, que Marco Maciel patrocinava em sua casa. Unia-nos o respeito às crenças e a vontade de que todos participassem da vida nacional”. E complementa: “a colaboração de Marco Maciel para o andamento das questões legislativas durante meu governo foi fundamental. Suas marcas na Lei de Arbitragem são indeléveis. Seus esforços para que se reconhecesse a função dos que faziam lobbies, sem que o fizessem ocultamente, são conhecidas”. Outra característica que Fernando Henrique cita de Maciel é a tolerância.
Ainda lembrando da sua gestão, Fernando Henrique revelou que Marco Maciel, não descuidava “especialmente das coisas de seu amado Pernambuco”, sendo “inúmeras as vezes em que reivindicou uma estrada importante ou, sobretudo, a continuação do Porto de Suape”.
1940 - Nasceu no dia 21 de julho. Foi o quinto filho de Carmem Sylvia de Oliveira e José do Rego Maciel. A ligação com a política foi influenciada pelo seu pai, que foi prefeito do Recife, deputado federal eleito em 1948 e vice-candidato a governador de Pernambuco em 1958.
1959 - Aprovado no vestibular da Faculdade de Direito do Recife. No primeiro ano do curso, foi diretor de Cultura do Diretório Central dos Estudantes (DCE). No segundo ano, se elegeu presidente do DCE.
1962 - Foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Pernambuco e tomou posse em 1963.
1967-1971 - Eleito deputado estadual pela Arena e líder do governo Nilo Coelho (Arena).
1967 - Casou-se com a amazonense Anna Maria com quem teve três filhos.
1971 - Começou a atuar como deputado federal. Esse primeiro mandato acabou em 1974. Exerceu o mesmo cargo entre 1975 e 1978.
1977-1978 - Atuou como presidente da Câmara dos Deputados, em Brasília.
1979-1982 - Governador de Pernambuco
1983 - Se elegeu senador, cargo que exerceu por 20 anos. O primeiro mandato na Casa Alta encerrou-se em 1991. Depois foi reeleito por mais quatro anos (1991-1994). Voltou a ocupar a mesma função em 2003.
1985-1986 - Atuou como ministro da Educação do governo de José Sarney. Ainda na mesma gestão, foi ministro chefe da Casa Civil entre 1987 e 1988.
2003 - Entrou para a Academia Brasileira de Letras. Ao longo da sua vida, publicou mais de 28 trabalhos em várias editoras, como o a do Senado e a José Olympio, entre outras.
2010 - Aos 70 anos, perdeu a primeira eleição da sua vida
2011 - Terminou o terceiro mandato de senador pelo DEM.
2014 - A partir do final deste ano, se torna mais recluso, ficando constrangido com os esquecimentos provocados pelo Mal de Alzheimer.