A um ano das eleições de 2022, o PSB trabalha na busca pela manutenção do poder à frente do Palácio do Campo das Princesas, que completará 16 anos, em um cenário mais complexo e indefinido do que nos últimos pleitos. Apontado pelo partido e pelas siglas da base aliada, como o nome natural para a sucessão estadual, o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio tem reiterado seu posicionamento de que não vai ser candidato a governador e que o assunto estaria “encerrado”. A ausência de uma liderança forte que possa conduzir esse processo, é outro fator complicador na construção desse palanque.
Ao ingressar no Governo do Estado, assumindo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico após oito anos no comando da Prefeitura do Recife, era esperado uma visibilidade maior de Geraldo já com vistas para majoritária. Entretanto, o auxiliar não tem sido visto nas agendas realizadas pelo governador Paulo Câmara em todo o Estado, nem assumiu o protagonismo das medidas de enfrentamento da pandemia da covid-19, cabendo a secretária-executiva Ana Paula Vilaça, esse papel.
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“Não ter um candidato claro representa muito mais um problema de fadiga, um problema interno de organização da Frente Popular e do PSB. Porque não me parece ser estratégica essa situação, do candidato ser ou não Geraldo, ser fulano ou sicrano. O governador tem feito visitas no Estado todo e você não vê o candidato do PSB”, analisa o cientista político e professor da Asces/Unita, Vanuccio Pimentel.
Enquanto alguns socialistas apontam como uma estratégia, já que seria um equívoco bater o martelo sobre a chapa majoritária de forma antecipada, outros atores políticos consideram que o partido precisa apresentar alternativas viáveis até o fim deste ano. Essa pressão, inclusive, tem sido feita pelos partidos que compõem a Frente Popular.
Com o resultado dessa indefinição outros nomes começam a despontar no rol de apostas, como o do secretário da Casa Civil, José Neto, o ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio, e da secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos, Fernandha Batista - ela tem sido elogiada não só por parlamentares, mas pelos gestores municipais. O próprio presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, já considera que Geraldo não seria a única opção da legenda.
Para a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, não seria a primeira vez que há uma “demora” pela definição de um candidato e as consequências dessa indefinição. “Não podemos esquecer quando Eduardo Campos escolheu o Geraldo Julio para ser candidato a prefeito pelo PSB, o que era um movimento antinatural, era o palanque menos óbvio. Isso causou rusgas com alguns aliados que se sentiram preteridos por essa escolha, que foi interpretada como uma escolha muito pessoal”, avalia.
A docente também cita o caso de Paulo Câmara, que também não partiu de uma decisão colegiada. “Eduardo Campos tinha clareza do seu projeto nacional à presidência e resolveu escolher um quadro com um perfil mais técnico, semelhante a escolha de Geraldo”, rememora. Nesse processo, houve um rompimento do então vice-governador João Lyra Neto, que esperava ser o indicado por Campos.
Esses cenários têm estimulado a interpretação de que o PSB aposta em um nome técnico, caso Geraldo Julio mantenha a palavra de que não será candidato, um risco. Para além de uma liderança forte que detenha o poder de centralizar para si a decisão do partido, especialistas destacam que não se pode subestimar os quadros da oposição.
“Se nas outras eleições, no contexto de 2018 por exemplo, estava muito evidente que a oposição não tinha renovado as suas lideranças, não tinha fortalecido nomes e meio que não tinha opções e acabou escolhendo por colocar como candidato Armando Monteiro Neto, acho que agora o cenário é o contrário”, pontua Priscila Lapa.
FATOR PT
A indefinição por um candidato poderá aumentar a dependência do PSB em ter o apoio do PT no Estado, que precisaria recorrer a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tornar o seu postulante conhecido. Por outro lado, o presidente estadual do PT, Doriel Barros, já deixou claro que está nos planos dos petistas ter o protagonismo nas eleições majoritárias em Pernambuco - isso pode representar o lançamento de uma candidatura própria ou estar na composição da chapa liderada pelos socialistas.
“Entendo que o PT precisa dessa aliança, dada a ausência de um candidato claro, mas o PSB já precisou do PT para a reeleição de Paulo Câmara, o partido foi muito importante para aquela vitória no primeiro turno”, comenta Vanuccio Pimentel. Se a reaproximação dos partidos se concretizar nos âmbitos nacional e estadual, as chances da deputada federal Marília Arraes em sair candidata pelo partido, novamente serão minadas. Doriel, em entrevista à Rádio Jornal, cravou que não haverá dois palanques para Lula em Pernambuco.
“Embora há quem diga que o nome não importa, desde que tenha o apoio de Lula, acho que isso não é automático. A ausência de um candidato claro do PSB, abre espaço para a oposição se articular e isso não deixa de ser problemático”, completa o cientista.