O Engenho Monjope, em Igarassu, município do Grande Recife, é o único no Estado que ainda conserva todas as suas edificações. Mas nem essa característica singular é capaz de evitar a deterioração da casa-grande, da capela, da senzala, da fábrica e da casa do capitão-do-mato.
Sem uso e largado num terreno de mais de 300 hectares, Monjope está sendo engolido pelo mato. A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que administra o engenho, discorda do termo “abandono” para definir a situação do bem, tombado pelo Estado.
É fato que um vigia toma conta do lugar e só pessoas autorizadas podem entrar no terreno. Só isso, porém, não impede a infestação de cupins na Capela de São Pedro, o desabamento do telhado no portão de acesso à propriedade e a degradação da senzala e da fábrica.
O desleixo começa no portão e se espalha pelo terreno. A altura do mato, quase escondendo os prédios, testemunha a falta de limpeza, não há banheiro para visitantes e a iluminação é precária.
A casa-grande passou por intervenções na coberta, que garante a estabilização da antiga moradia, diz Roberto Carneiro, técnico em preservação da Fundarpe. No entanto, basta olhar as paredes descascadas e a ausência de portas, janelas e do piso do primeiro andar para perceber que a obra de recuperação não foi concluída.
Catorze anos atrás, em 2002, a Fundarpe fez um estudo no casarão, uma pesquisa arqueológica, que também não avançou. Nas paredes sem reboco é possível identificar os diferentes tipos de alvenaria nas paredes: um pequeno trecho de pedra e a maior parte de tijolos.
“A casa foi modificada internamente, ao gosto de cada proprietário”, declara Roberto Carneiro, mostrando portas fechadas por tijolos ou que tiveram a largura dos arcos reduzida para ganhar espaços nas paredes.
Além de cupins na parede da capela, o assoalho de madeira do coro está se soltando e telhas afastadas na coberta permitem a entrada de chuva na nave. Em tempos de dengue, zica e chicungunha, achados arqueológicos cobertos com plástico já rasgados acumulam água, ao lado da senzala.
O material arqueológico, possivelmente alicerces da primeira senzala, é resultado de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida em Monjope por professores e alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O trabalho é realizado por temporadas.
MUDANÇAS
Na fábrica, a roda d’água com o sistema de engrenagem da moenda, onde se produzia mel e aguardente de cana, ainda existe e poderia voltar a funcionar como demonstração para o público, num futuro projeto de restauração do engenho, comenta Roberto.
De acordo com ele, o Engenho Monjope surgiu no século 17 e passou por várias reformas ao longo dos anos. “Percebemos na senzala duas técnicas construtivas, uma do século 18 e outra do 19”, diz. A capela é de 1756 e sofreu o acréscimo de uma torre em 1929.
Monjope, observa Roberto Carneiro, passou pelas mãos de dez proprietários e hoje pertence ao governo do Estado. O engenho, tombado pelo Estado, já teve como dono o Barão de Vera Cruz (Manoel Joaquim Carneiro da Cunha, 1811-1869, que recepcionou Pedro II em Monjope na visita do imperador a Pernambuco, em 1859) e a Companhia do Beberibe.
A proposta da Fundarpe, de criar no local um Centro de Referência Cultural e Turística, com o reaproveitamento das edificações, divulgado em 2012, não avançou por falta de verba.