Passados três anos do anúncio da implementação de chuveirões nos oito quilômetros de orla, entre as Praias de Boa Viagem e Pina, Zona Sul do Recife, dos 110 equipamentos prometidos, nem um foi entregue. Para se refrescar, banhistas recorrem a gambiarras feitas por barraqueiros que bombeiam água do lençol freático e criam seus próprios chuveiros. Estudos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) já mostraram que a água é altamente contaminada.
Os 55 pontos duplos – totalizando 110 chuveiros – deveriam ter sido entregues há dois anos. A construção de reservatórios que abasteceriam os equipamentos teve início em maio de 2017, mas não passou disso. Segundo a Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco, responsável pela implementação, as sete caixas que alimentarão os pontos foram instaladas.
Para quem frequenta a orla, o projeto já é considerado uma lenda. “São 40 anos morando aqui em Boa Viagem e outros tantos escutando promessas de chuveiros. A gente já desanimou, os projetos não saem do lugar, o que é um absurdo”, conta o aposentado Carlos Soares.
A proposta previa que o uso dos chuveirões seria pago. Mas na hora de se refrescar ou tirar a areia, a solução acaba sendo o banho de mangueira nas barracas. “A gente não sabe a procedência da água, mas não tem outra opção, e é impossível voltar para casa com as crianças cheias de areia”, comenta a nutricionista Aline Gomes, mãe de Alice, 5 anos, e Alane, 8.
A última análise da água, feita pela UFPE, foi divulgada em setembro de 2018 e constatou, pela segunda vez, que o líquido era impróprio para uso e banho. Segundo a orientadora da pesquisa, Silvana Calado, professora do Departamento de Engenharia Química, as amostras podiam ser comparadas a esgoto. “A água sai do chuveiro, percola no solo, na areia da praia – que não filtra nada – volta para o lençol freático e depois é bombeada de novo, com a sujeira da areia, fezes de animais, xixi e tudo o que se possa imaginar. Isso é muito sério, é caso de saúde pública”, alerta. O último estudo apontou a presença de coliformes fecais.
A primeira fase dos serviços, que resultou na criação dos reservatórios, foi feita com recursos do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur). Na época, foram anunciados R$ 2,3 milhões para todo o processo. No entanto, em nota, a Secretaria de Turismo e Lazer informou que está utilizando recursos próprios para contratar uma empresa que finalizará as obras.
“O processo está em fase de atualização da planilha orçamentária para lançamento de novo edital de licitação. Seriam iniciados dois processos licitatórios. Um para a conclusão da obra e outro para a operacionalização”, informa. Mas a secretaria não deu prazo para instalação e funcionamento dos equipamentos.
A Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon) informa que, em 2016, desativou 47 pontos de água na orla. Desde então, a Vigilância Ambiental faz fiscalização periódica. A última, em abril, revelou, segundo a nota, a descontaminação da água. Ainda este mês, assegura, a inspeção será retomada.