É como se as estradas federais brasileiras - que totalizam 80 mil quilômetros pavimentados no País - tivessem matado 14 pessoas por dia em 2020. Mesmo este sendo um ano marcado pelo início e pior momento da pandemia da covid-19. É como se acontecessem 81 acidentes com vítimas a cada 100 quilômetros de rodovia federal no Brasil. Assustado com os números? Eles fazem parte de um levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) , tendo como base os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pela fiscalização de trânsito das BRs. Tudo isso ao custo de R$ 10,22 bilhões, quantia indicada no estudo para os eventos de trânsito nas rodovias federais.
E são as estradas do Nordeste as mais letais de todo o País. Além disso, é o Nordeste a região com o maior número de mortes de motociclistas. O estudo também revela esses fatos. Foram 13.856 eventos registrados em 2020 nas rodovias federais que cortam a Região Nordeste, sendo 11.198 com vítimas (mortos ou feridos). No período acumulado de 2007 a 2020, foram 389.496 ocorrências, sendo 192.488 com vítimas. É como se acontecessem, em média, 57 eventos a cada cem quilômetros de rodovia no ano passado. A conta de mortes também é alta. É a de que, a cada cem registros, 15 pessoas morreram em 2020 nas estradas federais do Nordeste.
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No cenário nacional e até por sua extensão e importância como eixo rodoviário estruturador do Brasil, a rodovia mais violenta em 2020 foi a BR-101, com 8.715 registros de ocorrências de trânsito. Em relação ao número de mortes, a BR-116 foi considerada a rodovia que mais mata. Somente em 2020, foram 690 vidas perdidas nessa via. Lembrando que a BR-116 é importante no Sertão pernambucano: após a divisa com o Ceará, entra no Estado por Salgueiro, passando pelos municípios de Belém de São Francisco e Cabrobó, chegando à Bahia. No Nordeste a BR-101 também liderou o número de registros e letalidade. Os tipos mais frequentes de sinistros de trânsito, assim como o tipo de veículo, também são revelados no diagnóstico. As colisões, de forma geral, dominam as causas dos registros, evidenciando que o condutor brasileiro segue se arriscando na velocidade e nas manobras imprudentes ao volante.
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Para o presidente da CNT, Vander Costa, o levantamento reforça o que todos já sabem: que é mais do que necessário investimento efetivo em infraestrutura rodoviária, na formação dos condutores e na ampliação de campanhas educativas com foco na segurança no trânsito. “Reduzir o número e a gravidade dos eventos rodoviários é promover o transporte no País, com benefícios claros à economia e à sociedade. Assim, desenvolver ações voltadas à melhoria das condições viárias, à capacitação dos motoristas e à segurança veicular são a melhor estratégia para a superação desse grave problema”, afirmou em declaração enviada pela assessoria de imprensa.
PERNAMBUCO
Pernambuco, segundo o levantamento da CNT, teve 2.557 registros nas rodovias federais que cortam o Estado no ano passado. E a grande maioria deixou vítimas: 2.006 com mortos (317) ou feridos. Entre 2007 e 2020, foram 74.091 ocorrências, das quais 34.514 com vítimas. É o equivalente a 93 eventos de trânsito, em média, a cada 100 quilômetros de rodovia em 2020. E a cada 100 registros, 16 pessoas morreram em nas BRs do Estado. A BR-101 segue tendo destaque no ranking negro em Pernambuco, mas é a BR-232 - eixo estruturador do Estado, por levar ao interior - a mais letal. Somente em 2020 foram 83 vidas perdidas na rodovia. O custo anual estimado dos dos eventos de trânsito ocorridos em rodovias federais em Pernambuco chegou a R$ 486,26 milhões em 2020.
CONHEÇA O LEVANTAMENTO
O Brasil tem, segundo o Dnit, 1,7 milhão de quilômetros de estradas, mas menos de 100 mil são pavimentados. Os dados constam do Painel CNT de Consultas Dinâmicas de Acidentes Rodoviários, que foi atualizado na quinta-feira (28/1)), com os números de 2020. Os dados são da Polícia Rodoviária Federal. No painel, é possível realizar pesquisas interativas sobre os dados.