É isso mesmo que você leu no título desta reportagem: uma proposta de um metrô aéreo para a Região Metropolitana do Recife. Ele complementaria o sistema sobre trilhos já existente e seria integrado com corredores de BRT e de ônibus convencionais. A proposta é defendida pelo setor produtivo representado pelo Movimento Pró-Pernambuco, ainda é bem embrionária e necessita, antes de mais nada, de estudos de demanda e de viabilidade que possam validá-la ou não - é fundamental destacar esses aspectos antes de seguir com a leitura. A ideia é inspirada em sistemas como os implantados em Xangai, maior cidade da China, e em Cingapura, cidade-estado asiática extremamente rica. No Brasil, seria semelhante à Linha 17 - Ouro de São Paulo, projeto previsto ainda para a Copa do Mundo de 2014 e até hoje não finalizado.
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O alicerce da ideia é a necessidade de que é preciso pensar grande o Grande Recife. Os argumentos são defendidos pelo empresário Avelar Loureiro, presidente do movimento. É urgente frear o que virou hábito nas últimas décadas entre gestores públicos de fazer o que é possível na questão do planejamento urbano das cidades. É preciso planejar a RMR para 10, 20, 30 anos, sem políticas antagônicas e desconectadas, como vem acontecendo. "É preciso a redefinição dos sistemas de transporte de massa. E as avenidas já não têm mais espaço para acomodar tudo. O custo com desapropriações seria altíssimo. Por isso, um sistema elevado em alguns desses corredores daria uma outra eficiência e imagem ao transporte público. A sociedade tem dito que não aceita mais esse transporte que está aí, por isso os sistemas estão morrendo de inanição - sem passageiros e, consequentemente, sem receitas", diz Avelar Loureiro.
As ideias começaram a ser pensadas há dois anos. Pelo menos quatro principais eixos são propostos para o metrô aéreo: 1) Pela Avenida Agamenon Magalhães, na aerea central do Recife, ligando o Memorial Arcoverde ao Terminal Integrado Joana Bezerra. 2) Ligação entre o TI Joana Bezerra e o Shopping Guararapes, pela Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem. 3) Pela Avenida Norte, ligando o TI Macaxeira ao Cais do Apolo, no Bairro do Recife. 4) Ligação entre a Ceasa, na Zona Oeste do Recife, e a Estação Central do metrô, no Centro, pela Avenida Abdias de Carvalho. “Destacamos que são ideias e que Pernambuco precisa, primeiramente, considerá-las e estudá-las para a ver a viabilidade de fato. Mas sabemos que é possível. Quem trabalha com transporte sabe que sistemas de ônibus convencionais suportam bem um volume de até 50 mil passageiros por dia. Entre 5o mil e 100 mil passageiros, já é necessário sistemas maiores, como o BRT. Mas acima de 100 mil passageiros, só os de alta capacidade, como o transporte sobre trilho”, diz.
A malha metroferroviária proposta é praticamente a mesma do mapa do Sistema Estrutural Integrado (SEI), integração do transporte coletivo da RMR pensada desde a década de 1980. Até porque não poderia ser diferente, já que ela foi projetada a partir da infraestrutura de corredores e avenidas construídas ou ainda prometidas para o Grande Recife. A infraestrutura de sustentação para as linhas de metrô aéreo seria erguida de concreto. Para minimizar o impacto visual dessas estruturas cortando os corredores das cidades, a proposta é usar vegetação para encobri-la. As colunas do metrô aéreo sofreriam um tratamento paisagístico para mimetizá-las - camuflá-las, em outras palavras. Avelar cita que essa estratégia é usada em Xangai e em Cingapura, por exemplo.
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O custo dos estudos e da implantação do metrô aéreo seria coberto por um fundo financiado por toda a sociedade. Segundo Avelar, destinando 1% do orçamento anual do Estado de Pernambuco e do Recife, por exemplo, seria possível, ao longo de 20 anos, projetar um sistema desses. “Não é uma solução para dois ou três anos, mas é preciso começar a pensá-la. O orçamento anual do Recife é de R$ 6 bilhões e o de Pernambuco é de R$ 40 bilhões. Se tirarmos 1% desses valores teremos R$ 460 milhões por ano para investir nesses projetos, mudando a cara e a funcionalidade da RMR. Precisamos criar novas centralidades, encurtar distâncias para que a população chegue a elas”, diz.
Avelar defende que o modelo de concessão pública seja analisado para viabilizar o metrô aéreo. E usa o argumento de que hoje o Estado coloca entre R$ 250 e R$ 300 milhões em subsídios diretos e indiretos no sistema de transporte por ônibus do Grande Recife. “Ou seja, o subsídio está no lugar errado, está sendo desperdiçado. É preciso pensar nesse projeto para ser concedido à iniciativa privada. Buscar recursos federais. Mas primeiro precisamos planejar. A proposta é boa porque diante da densidade de nossas cidades e avenidas só um metrô aéreo funcionaria bem para atrair a sociedade”, defende.
NÃO É MONOTRILHO
Os defensores da solução do metrô aéreo alertam para que a ideia não seja comparada ao monotrilho. "Monotrilho é um só trilho. Os trens vão e depois voltam ou tem uma linha circular. Já o metrô tem trilhos paralelos, o que dá uma maior capacidade ao sistema, inclusive, com comboios sequenciados por intervalo de tempo", diz Avelar Loureiro. O Movimento Pró-Pernambuco (MPP) surgiu em meio à pandemia de covid-19 para a retomada das atividades econômicas e é formado por empresas e associações do setor produtivo.