Se você é uma daquelas pessoas que já se habituou a invadir as estações do BRT da Região Metropolitana do Recife para andar no sistema sem pagar a passagem ou costuma forçar a porta dos equipamentos para entrar ou dar acesso a terceiros, atenção. Depois de mais de três anos sendo roubadas e vandalizadas, as estações agora estão sendo vigiadas 24 horas por dia e em tempo real.
É um verdadeiro BBB das estações do sistema BRT, batizado de Via Livre no Grande Recife.
As unidades de embarque e desembarque são os primeiros equipamentos a integrar o Centro de Controle Operacional (Core) da Nova Mobi Pernambuco, empresa do Grupo Socicam que venceu a licitação do governo de Pernambuco para administrar por 35 anos os 26 terminais integrados de ônibus e as 44 estações de BRT em operação no Grande Recife.
Confira a série A morte do BRT
E estão sendo monitoradas permanentemente. Por enquanto, as imagens chegam ao Core e são visualizadas e analisadas pelos operadores. Mas em uma ou duas semanas, qualquer tentativa de invasão ou depredação resultará no disparo de um alarme “estridente”, pensado para constranger os infratores.
Vale lembrar que, desde 2019, o roubo e a depredação das estações de BRT já custaram mais de R$ 12 milhões aos cofres do Estado e que a invasão do sistema por usuários que não pagam a tarifa já ultrapassou os 11% da demanda geral.
Além disso, a invasão do sistema tem um efeito cascata para o passageiro pagante: a projeção da frota fica comprometida porque se calcula um número menor de veículos para atender a demanda.
“Por enquanto, estamos com três estações sendo monitoradas, mas à medida que as unidades forem reformadas e liberadas, passarão a integrar o Core. Não ampliamos o monitoramento porque temos que esperar pelas reformas. Mas todas as 44 estações terão monitoramento em tempo real”, explica e garante o gerente operacional da Nova Mobi Pernambuco, Carlito Rodrigues.
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FLAGRANTES
As três estações já monitoradas são do Corredor Leste-Oeste, o menos vandalizado dos dois existentes e que liga o Recife a Camaragibe, na RMR. São elas: Riacho do Cavouco, Parque do Cordeiro (na altura do bairro do Cordeiro) e Areinha (em Camaragibe).
O Core está instalado no TI CDU, equipamento localizado no cruzamento da BR-101 com a Avenida Caxangá, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife, e representa os olhos da nova gestão privada.
Cada estação de BRT terá quatro câmeras - duas monitorando as áreas externas e duas a parte interna, sendo uma focada nos bloqueios de acesso (catracas). Todas têm capacidade de dar zoom na movimentação, sendo possível uma identificação precisa da fisionomia dos vândalos.
“A nossa tecnologia é programada para identificar movimentos considerados incomuns, como é o caso de uma pessoa que entra de fora para dentro na estação ou alguém que segura as portas, por exemplo. É o conceito machine learning. E ao identificá-lo, dispara um alerta de que algo incomum está acontecendo”, explica o gerente de Tecnologia da Informação da Nova Mobi, Danilo Franzin.
O machine learning é um processo no qual os computadores desenvolvem reconhecimento de padrões, ou a capacidade de aprender continuamente e fazer previsões com base em dados.
TERMINAIS INTEGRADOS
O Centro de Controle Operacional atenderá não só as estações de BRT, mas também os TIs, que devem começar a ser monitorados em breve. Até setembro, sete unidades deverão estar aptas: Joana Bezerra, Xambá, Camaragibe, Caxangá, Macaxeira, Pelópidas Silveira e PE-15.
A previsão é de que sejam 200 câmeras ao total para os 26 TIs, sendo uma média de 10 a 12 câmeras por unidades. Todas as ações e intervenções estão previstas no contrato de concessão pública no valor de R$ 113 milhões (dinheiro que será pago pelo governo do Estado) e duração de 35 anos.
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ESTAÇÕES SEGUEM SEM REFRIGERAÇÃO
Um dos obstáculos à ampliação do sistema de monitoramento é a retomada do sistema de refrigeração das estações de BRT. As unidades perderam os equipamentos depois de serem totalmente vandalizadas em meados de 2020, no auge da pandemia de covid-19.
Todas as estações em funcionamento nos corredores Leste-Oeste e Norte-Sul (que conecta o Centro do Recife a Igarassu, na Zona Norte do Grande Recife) seguem desde então sem refrigeração, situação que só deverá ser resolvida, com sorte, até o fim deste ano.
Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), a licitação para reposição dos equipamentos de ar-condicionado foi lançada em fevereiro de 2022 e teve as propostas recebidas em março, estando sob avaliação.
A substituição da refrigeração das 44 estações deverá custar R$ 3.830.960. Vale destacar que o BRT pernambucano, batizado de Via Livre, é o único do Brasil e o segundo do mundo a ter estações refrigeradas. Nem mesmo Curitiba, no Paraná, berço mundial do sistema, optou pela refrigeração. Além de Pernambuco, apenas Dubai, nos Emirados Árabes - país extremamente rico - tem estações refrigeradas.
Os novos ar-condicionados serão instalados pelo CTM e a manutenção ficará sob responsabilidade da Nova Mobi Pernambuco.