O reajuste zero e a implantação do Bilhete Único Metropolitano foram medidas excelentes - principalmente para a imagem política do governo de Pernambuco - e seria muita crueldade, diante do serviço de transporte público que está sendo ofertado, aumentar a passagem de ônibus. Mas o passageiro quer mais, muito mais. Tem sofrido muito nos ônibus da Região Metropolitana e no Metrô do Recife, e nunca esperou tanto por alguma melhoria.
Pelo menos os que dependem do transporte público para o deslocamento diário e ainda não se renderam ao Uber e 99 Moto, por exemplo. Mas está difícil ser usuário do Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) na RMR. Assim como no Metrô do Recife.
Os ônibus do Grande Recife estão quentes, velhos, superlotados e muito ruins. No Metrô do Recife é quase insuportável de viajar, especialmente nos horários de pico da manhã e noite. São quebras semanais e intervalos de até 20 minutos entre os trens, cada dia mais superlotados.
A frota de ônibus do sistema está velha e sem perspectiva de renovação em sua maioria. A exceção são as concessionárias - Consórcio Conorte e MobiBrasil -, que por terem contrato, têm prazos a cumprir e garantia legal de equilíbrio entre receita e custo.
Dados oficiais do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano confirmam que a frota está bastante envelhecida, o que impacta diretamente na operação do sistema. Nos seis primeiros meses de 2023, o sistema tinha ônibus com 5,8 anos e 6 anos de uso.
CONFIRA a idade da frota por empresa nos primeiros seis meses de 2023:
Borborema - 5,734 anos
Caxangá - 5,465 anos
Empresa Metropolitana - 5,450 anos
Globo -4,923 anos
Consórcio Recife (Pedrosa e Transcol) - 6,065 anos
São Judas Tadeu - 5,588 anos
Viação Mirim - 3,336 anos
Vera Cruz - 5,876
CALOR É DESUMANO E FROTA COM AR-CONDICIONADO É PEQUENA E TEM PROBLEMAS DE REFRIGERAÇÃO
Menos de 18% da frota de coletivos do Grande Recife têm ar-condicionado e, o que é pior, não há perspectivas de grandes ampliações. Além disso, a frota refrigerada também está velha, transformado os coletivos em verdadeiras “prisões-saunas”, que muitas vezes obrigam os passageiros a interromperem a viagem para não desmaiar.
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“Está, de fato, desumano. Já não temos muitos ônibus com ar-condicionado e, os que têm, em sua maioria, estão velhos e, consequentemente, têm problemas de manutenção. Há momentos do dia que são sufocantes. E os ônibus vedados são ainda piores, como os BRTs. Já vi muitas pessoas passarem mal”, relata o universitário Cláudio Souza Filha, 23 anos, que todos os dias usa o sistema para chegar a UFPE e ao trabalho.
SISTEMA BRT SOFRE COM O CALOR NOS VEÍCULOS E ESTAÇÕES
O Sistema de BRT pernambucano, batizado de Via Livre, também tem sofrido com a caducidade da frota e o calor. Mesmo sendo operado por concessão pública, a modernização da frota também é regulada pelo Estado.
O Corredor de BRT Norte-Sul, como sempre, sofre mais. Os BRTs tradicionais - os gigantes veículos de 21 metros - estão com dez anos de operação e muito velhos, situação, importante dizer, antecipada pela circulação no destruído (e agora em reforma) corredor da PE-15, que até no barro já ficou - impossibilitado, inclusive, a operação do sistema. Quem lembra?
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Até mesmo os “Novos BRTs” como foram denominados os veículos menores que substituíram os tradicionais BRTs, já começam a apresentar problemas de refrigeração. Passageiros reclamam que a superlotação dos coletivos nos horários de pico potencializa o calor.
“Viajamos num verdadeiro forno. Só quem usa sabe. O poder público precisa ver isso. A temperatura está muito alta na rua, imagine dentro dos ônibus. Eu costumo usar o BRT do Recife para Paulista e já tive que descer no meio da viagem porque a temperatura no interior do veículo estava insuportável”, conta Marília Cintra, vendedora que usa o sistema diariamente.
TODAS AS ESTAÇÕES DO BRT ESTÃO SEM REFRIGERAÇÃO
No caso do Sistema BRT, o sofrimento com o calor não é apenas no interior dos veículos, mas também nas estações. Todas as 46 estações dos Corredores de BRT Norte-Sul e Leste-Oeste estão sem ar-condicionado.
E, o que é pior: sem perspectiva para que os equipamentos de ar-condicionado sejam reinstalados rapidamente, embora as estações estejam nessa situação desde 2020, quando foram sucateadas na pandemia de covid-19.
Crise no transporte público: governo de Pernambuco diz que melhorias virão, mas não dá prazos
A previsão do governo de Pernambuco é que a situação permaneça assim até, pelo menos, o fim do primeiro semestre de 2024. Isso porque houve questionamentos administrativos e legais do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) e Ministério Público de Contas (MPO) sobre a aquisição dos novos equipamentos de refrigeração.
Das 44 estações construídas nos dois corredores de BRT (Leste-Oeste, que liga o Recife à cidade de Camaragibe, na RMR, e Norte-Sul, que faz a conexão da capital com o município de Igarassu, também na RMR), apenas uma estava refrigerada até no fim de 2023.
Mas, por problemas no fornecimento de energia elétrica da Neoenergia, deixou de ser refrigerada. Era a estação Areinha, do Corredor Leste-Oeste, que vinha sendo usada como projeto piloto para testar equipamentos de combate à evasão de receita e invasões do sistema pela Nova Mobi Pernambuco, concessionária que assumiu a gestão das estações de BRT e dos 26 terminais integrados pelos próximos 33 anos.