Além de todos os problemas já amplamente conhecidos sobre o fumo (ativo e passivo), o cigarro ainda é capaz de causar problemas mesmo quando já foi apagado e a fumaça já se dissipou no ambiente.
Os cientistas começaram a chamar os resquícios deixados pelo cigarro, nicotina e outros resíduos do tabaco, como "fumo de terceira mão".
Agora, um novo estudo da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), publicado no começo de junho no periódico Atmosphere, destaca que o "fumo de terceira mão" (THS - thirdhand smoke, na sigla em inglês) pode prejudicar a saúde da pele através dos resíduos deixados pela fumaça, que se instalam em superfícies como roupa, cabelo, pele, móveis e interior dos carros.
"O trabalho mostrou que o contato da pele com a nicotina pode prejudicar a cicatrização de feridas, aumentar a suscetibilidade a infecções da pele devido à diminuição da resposta imune e causar estresse oxidativo nas células, o que é responsável por acelerar o envelhecimento", explica a dermatologista Jaqueline Zmijevski, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Associação Brasileira de Medicina Estética.
O estudo demonstrou também que, ao recarregar os cigarros eletrônicos, tanto consumidores quanto fornecedores podem acidentalmente entrar em contato com o líquido e sofrer os mesmos danos ao tocar na pele.
A pesquisa foi realizada usando um modelo 3D da epiderme humana e queratinócitos humanos cultivados. "Os queratinócitos são células epidérmicas que produzem queratina, proteína também encontrada no cabelo e nas unhas. Os pesquisadores expuseram o modelo 3D por 24 horas a diferentes concentrações de nicotina normalmente encontradas em ambientes com fumo de terceira mão e derramamentos de cigarros eletrônicos. Os pesquisadores passaram então a identificar os danos. Eles investigaram o efeito da nicotina em organelas celulares, mitocôndrias e peroxissomos – organelas contendo enzimas envolvidas em muitas reações metabólicas", explica a dermatologista.
A médica destaca que os indivíduos mais suscetíveis a esses efeitos do "fumo de terceira mão" e do cigarro eletrônico incluem aqueles com problemas de integridade da pele, como úlceras, dermatites e psoríase e pessoas de pele mais sensível, como idosos e crianças.
Felizmente, as alterações nos queratinócitos humanos expostos à nicotina por 24 horas são reversíveis, mas é necessário pontuar que a exposição contínua da pele a ambientes contaminados com THS e líquido de cigarros eletrônicos é altamente danosa. "A gravidade dos danos à pele depende tanto da duração da exposição quanto da concentração de nicotina", afirma a médica.
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Tanto o "fumo de terceira mão" quanto os derramamentos e vazamentos de cigarros eletrônicos podem ser prejudiciais. "A exposição ao THS pode ser crônica para alguém que vive com alguém que fuma, em uma casa contaminada, o que pode levar à exposição persistente. Vendedores e consumidores que manuseiam ou usam cigarros eletrônicos que contêm altas concentrações de nicotina também podem ficar altamente expostos."
Os autores do estudo alertam que consumidores e vendedores que lidam com cigarros eletrônicos devem minimizar o contato usando equipamentos de proteção adequados e limpando adequadamente as áreas contaminadas.
Restrições ao fumo e vaping em ambientes fechados e políticas para remediar ambientes contaminados precisam ser implementadas, segundo os autores. "Por fim, é importante enfatizar que os fumantes e os fumantes passivos ainda sofrem muito mais danos pela fumaça inalada. Esse conjunto de fatores torna-se ainda mais prejudicial à pele. Buscar meios de eliminar esse vício é o mais indicado", finaliza a médica.