Torcidas Organizadas

Sociólogo avalia que extinção de organizadas não é suficiente contra violência

Na visão de Maurício Murad, outras ações, de curto, médio e longo prazo, devem ser tomadas pelo poder público

Klisman Gama
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Klisman Gama
Publicado em 18/02/2020 às 19:35
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Na visão de Maurício Murad, outras ações, de curto, médio e longo prazo, devem ser tomadas pelo poder público - FOTO: Foto: André Nery/JC Imagem
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Com a decisão da 5ª Vara de Justiça da Fazenda de extinguir as torcidas organizadas Jovem, Inferno Coral e Fanáutico - cabendo ainda recurso -, o debate sobre a existência desses grupos volta a ser falado. Entre os diferentes lados, se destaca a concordância sobre a diminuição da impunidade e a punição de quem comete os crimes. Porém, extinguir as organizadas fará, realmente, com que isso acabe? Na visão do sociólogo Maurício Murad, não é suficiente. As uniformizadas têm totais condições de voltar com nome diferente, mas com a mesma estrutura. Ele classificou como "desmoralização para a autoridade pública".

“Eu acho que não adianta acabar com as torcidas. Tem que disciplinar as torcidas dentro da lei e ordem e punir quando tiver que punir e a valorizar quando tiver que valorizar. As minorias que fazem diferença (negativa) e vamos punir todo mundo por uma das partes? Claro que as partes que fazem isso são de delinquentes, mas fazendo uma analogia, não podemos matar o gado para acabar com o carrapato. Temos que acabar com o carrapato e preservar o gado. Os locais que tentaram acabar com as torcidas, no Brasil e exterior, não tiveram sucesso. Porque as torcidas renascem, às vezes, com o mesmo endereço, diretores e mudam apenas parte do nome. Isso é desmoralização para a autoridade pública”, avaliou.

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O autor do livro “A Violência no Futebol” defende uma maior atuação do poder público, para identificar e agir contra os infiltrados que causam cenas trágicas como as vistas no dia 3 de fevereiro, em que integrantes da Torcida Jovem agrediram torcedores do Santa Cruz que comemoravam o aniversário do clube no pátio da Igreja de Santa Cruz, na Boa Vista. Local em que o Tricolor foi fundado.

“O que tem que fazer em uma sociedade democrática de direito, é aplicar a lei contra quem agride e preservar quem respeita. Não adianta acabar com uma manifestação coletiva por causa da ação de grupos marginais que estão infiltrados. O que tem que fazer é punir esses grupos infiltrados, porque estão infiltrados em todas as multidões. Se fosse assim, teríamos que acabar com várias outras coisas, como festas de São João, Carnaval, entre outros, mas não é assim”, acrescentou Murad.

MEDIDAS

Maurício Murad defende três tipos de medidas que deveriam ser tomadas pelo poder público para que se coíba as ações violentas das uniformizadas. De curto, médio e longo prazo. Com endurecimento das leis e fim da impunidade, criação de canais para denúncia e identificação de infratores, e educação para que se acabe com a mentalidade de que o adversário é um inimigo.

“Eu tenho defendido há anos que a gente tem que ter um plano estratégico, que reúna três conjuntos de medidas. De caráter repressivo no curto prazo, de endurecimento da pena, da lei. Diminuir impunidade, porque muitos são presos e não acontece nada depois. Somente 3% dos delitos do universo do futebol são punidos. Tem que treinar a polícia também, para que possam agir corretamente em casos como esses. No médio prazo, temos que ocupar as redes sociais com medidas de prevenção, criar um disque denúncia dentro das próprias organizadas para que se identifique quem comete os casos e os punam. E ao longo prazo medidas de reeducação para mudar essa cultura de baixo para cima dentro das organizadas, que confunde adversário com inimigo a ser destruído. São medidas que ajudam a diminuir essa cultura de violência que grupos infiltrados nas organizadas propagam”, encerrou o sociólogo.

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