Uma das histórias mais curiosas sobre atendimentos estranhos do Corpo de Bombeiros diz que uma guarnição foi chamada para atender um cidadão que se trepou numa arvore com mais de 30 metros e ameaçava se jogar para fazer um voo rasante. Durou quase uma hora para o oficial convencer ao senhor, até que ele saiu com essa: “Não se preocupe. Está tudo calculado.” Em uma ação profissional, os bombeiros resgataram ileso o candidato a homem pássaro.
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A decisão do presidente Jair Bolsonaro em se recusar a aprovar a proibição de entrada no Brasil de pessoas não vacinadas “está toda calculada”.
O presidente sabe exatamente aonde quer chegar e quem achar que, a partir de agora, ele vá se preocupar em organizar um discurso de gestão para seus três anos de governo na campanha de reeleição, é bom desistir.
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O presidente, acreditem ou não, não acredita em vacina mesmo. Tem 115% de certeza que elas não lhe protegem e usa essa convicção para influenciar seus seguidores, muitos deles também “absolutamente” certos de que as vacinas não funcionam.
Bolsonaro porém tem plena consciência que o seu gesto funciona como um gatilho para que seus seguidores professem esse discurso de maneira radical.
Não devemos ter ilusões. Existem milhares de pessoas que estão dispostas a protestar contra a exigência da vacina por que entendem que a recomendação do presidente é mais saudável. E eles estão dispostos a ir para o confronto.
O presidente, na verdade, ficou refém de sua posição em relação ao passaporte de vacina pelo simples fato de que não sendo vacinado, moralmente, não pode exigir que outros brasileiros não vacinados sejam barrados nos aeroportos. Nesse ponto, ele é coerente.
O Brasil não terá passaporte da vacina salvo uma ação conjunta dos governadores junto ao STF obrigando a exigência. Como o cidadão que pretendia decolar da árvore, a ação do presidente é integralmente calculada.
Claro que é uma estultice. Fator que não faz qualquer sentido a atitude. E evidente que a própria preservação da humanidade está diretamente ligada a aplicação das vacinas. Mas quando o tema assume contornos ideológicas radicais não há o que se discutir.
Mas o problema é quando isso vira ação de Governo com repercussão nas ações de Estado, e isso tem a ver com o comportamento dos ministros.
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O caso do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, merece um destaque uma vez que, em tese, ele seria o responsável médico das ações do governo brasileiro. No entanto, como foi constatando ao longo dos meses, o ministro foi convertido pelo presidente.
A oportunidade de servir ao País na condição de ministro pode acrescentar um linha importante no currículos da maioria dos escolhidos, mas em alguns casos o tamanho da cadeira é grande demais.
Queiroga chegou ao cargo como terceira opção de sugestões de grupos que buscavam alguém que estivesse disposto a ser responsável técnico pela política de ação do presidente.
Ele viu nisso uma oportunidade ímpar na sua vida. Cardiologista que fez carreira nas entidades setoriais, ele chegou a presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia fazendo acordos e sonhava ocupar uma cadeira na Agência Nacional de Saúde Suplementar.
O médico defensor de associação setorial chegou a ministro superando as suas maiores expectativas. Com o tempo, viu a que se presta e efetivamente mudou de personalidade. Isso hoje é visível no tom em que adota nas entrevistas. Queiroga hoje é um ministro cheio de certezas.
Certamente, o momento magico foi nessa terça-feira (07) quando, ao justificar a não adoção do passaporte, ele disse que “é melhor perder a vida do que a liberdade”. Seus colegas da SBC devem ter corado de vergonha. Mas fazer o que?
A vida coloca grandes oportunidades para as pessoas. E elas se provam habilitadas com atitudes. O presidente Bolsonaro faz “tudo calculado”. Marcelo Queiroga escolheu servi-lo. E fará tudo para agradar ao presidente. Ele fez uma escolha. E sabe que a história lhe será cruel com suas atitudes.