Visitar o Parque das Esculturas nos lembra da finitude das coisas. Que há algumas que não se reproduzem em uma fábrica: são únicas. E que simplesmente acabam. Os espaços onde antes ficavam algumas das obras doadas por Francisco Brennand (1927-2019) em comemoração aos 500 anos do “descobrimento do Brasil” pelos europeus, em 2000, continuam vazios após os furtos - já que as medidas de segurança foram tomadas tarde demais, e as mesmas nunca mais voltarão a ocupá-los. Hoje, vigias se revezam em turnos de 8h durante todo o dia e impedem novas ações criminosas em um dos principais pontos turísticos do Recife, que, apesar de ter uma beleza de tirar o fôlego, segue clamando por restauro.
A reportagem visitou o local na manhã dessa terça-feira (19). Do estreito caminho que liga a Avenida Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife, até lá - único possível a ser feito de carro - já se vê a falta de dezenas de azulejos confeccionados por, quiçá, o mais reconhecido artista plástico de Pernambuco. Exemplo é o mural “A geografia prefigura a História”, que eterniza frase do escritor Euclides da Cunha. No istmo, estruturas que antes serviam como apoio para algumas das 79 de esculturas do projeto original seguem sem uso, assim como a plataforma que antes abrigava a serpente de bronze de 20 metros, atrás da Coluna de Cristal, um dos principais símbolos da capital pernambucana.
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Contudo, o que restou do Parque continua a encantar os turistas. Os piauienses Rayana Brito, dentista, e Fernando Belchior, engenheiro civil, vieram passar as férias no Recife e decidiram visitar o equipamento. “Chegamos para conhecer a parte turística hoje, é tudo muito bonito. Queríamos ver mesmo essa parte histórica do Centro da cidade”, disse Fernando. “Eu achei essa parte muito bonita. Também estou doida para ir no castelo", afirmou Rayana, referindo-se ao Instituto Ricardo Brennand, na Várzea, Zona Oeste.
Já os moradores, recifenses que se disseram apaixonados pela beleza da cidade, percebem a decadência do espaço. “Aqui está acabado porque só colocaram vigia depois do roubo, porque nunca teve. A polícia nunca passava aqui, e a área era muito escura. Só é melhorar; se melhorar as coisas andam, as pessoas vêm”, contou uma, que preferiu não se identificar. Desde taxistas até pescadores afirmaram que o movimento de pessoas é frequente até mesmo nos dias de semana, com a descida de turistas nos passeios de Catamarã. Mas o fluxo mais intenso acontece nos dias de domingo e em feriados, quando o Marco Zero se torna um “point” de turismo e lazer.
Por nota, a Prefeitura da cidade informou que, em 2021, o equipamento ganhou “ganhou iluminação cênica e a instalação de sistema de videomonitoramento infravermelho, monitoramento 24h da Secretaria de Segurança Cidadã do Recife e reforço de vigilância realizado em três turnos diários de 8h cada por dois vigilantes a cada turno no local”. As medidas, de acordo com a gestão, “visam garantir que a população usufrua deste equipamento”, e que está em andamento projeto com “melhorias propostas pela Prefeitura do Recife para fortalecê-lo enquanto atrativo turístico e de lazer da cidade”.
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À época em que o furto de mais de 80% das obras foi noticiado, no final de 2020, o então prefeito Geraldo Júlio (PSB) e o prefeito eleito da capital João Campos (PSB), atual gestor da cidade, garantiram que R$ 5 milhões seriam investidos para restauração do local. O dinheiro viria da soma da emenda parlamentar de R$ 3 milhões do deputado federal Tadeu Alencar (PSB) e de emenda de R$ 2 milhões do mandato do prefeito enquanto ainda era deputado federal.
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O valor está mantido e será destinado para requalificação do Parque de Esculturas, que, segundo a Secretaria de Turismo e Lazer do Recife, já tem projeto validado pelas entidades relacionadas. A pasta informou ainda que os processos “licitatórios para restauro das peças e requalificação do espaço já estão em andamento” e que, uma vez iniciada a execução do projeto, “a manutenção e substituição das obras levarão, em média, dez meses”.
Estão previstas a recuperação da parte estrutural (pier e acesso) como também as 79 peças inclusas no projeto original elaborado por Brennand - entre elas, a Coluna de Cristal e a Serpente Marinha. O trabalho, que será tocado pelo artista plástico Jobson Figueiredo, será mais do que um restauro de um conjunto de obras caso seja concluído. Será o resgate memória da cidade e a recuperação do sentido do projeto “Eu vi o mundo… Ele Começava no Recife”, que englobou a concepção do Parque das Esculturas - e um alento para cada apaixonado pela capital pernambucana e seu patrimônio artístico.