Há dois meses, a Prefeitura do Recife apresentava o Programa Recentro, que chegou para repensar e voltar as energias da gestão para o Centro da capital pernambucana, uma área que ao longo dos anos vem sofrendo um intenso processo de degradação. O esforço ficou sob responsabilidade de um novo gabinete, que desde 1º de dezembro coordena as diferentes secretarias envolvidas e atores externos - como o setor comercial, turístico, imobiliário e tecnológico, principalmente.
Acompanhando de perto o desenvolvimento do projeto, o JC identificou que, até então, foram feitas algumas poucas ações emergenciais na área, e que ainda estão em fase de elaboração de projeto as que pretendem reavivar a região nos próximos dez anos.
O Recentro, que atuará nos bairros do Recife, de São José e de Santo Antônio, foi dividido em ações que serão tomadas a curto, médio e longo prazo.
Poucas mais rápidas - de zeladoria e limpeza, por exemplo - foram entregues, como a primeira etapa da revitalização da Praça do Sebo - que teve a identidade visual alterada, reparos e ornamentos no espaço -, e a inauguração do monumento Encontro dos Rios, no Cais da Aurora, com instalação de mobiliário urbano, bancos, balanço, pergolado de madeira e novos espaços de convivência e a doação de mil cestas básicas a ONGs e entidades civis na área central, juntamente com a Associação da Comunidade Chinesa do Recife.
Ainda, há promessa para que seja iniciada neste ano o embutimento da fiação elétrica no Recife Antigo.
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Como foi apresentado pelo próprio programa, ações como estas, no entanto, são pontuais e insuficientes para reativar toda a dinâmica urbana pretendida; tanto que outras semelhantes já foram feitas anteriormente.
Quando prefeito, Jarbas Vasconcelos (MDB) criou o Escritório de Revitalização do Centro e a partir disso organizou o Recife Antigo e construiu o camelódromo da Avenida Dantas Barreto, que agora é considerado subutilizado. Já a gestão Geraldo Julio (PSB) implantou o projeto Recife Antigo de Coração, que foi eficaz em trazer a população para aproveitar o Marco Zero aos domingos, mas não durante toda a semana. Ainda que louváveis, as iniciativas não foram capazes de reabitar a região.
Por isso, o diferencial do Recentro foi fomentar, por meio de incentivos e isenções fiscais, novas construções e reformas nos imóveis existentes, a volta do comércio e da moradia aos três bairros: o que leva tempo.
Até que a população considere que o Centro é um bom lugar para viver e que os empresários considerem um bom ponto de vendas para diferentes tipos de comércios, muito precisa ser feito; visto que a região hoje é sinônimo de insegurança, abandono e desordem para os recifenses. Sobre isso, segundo a Prefeitura do Recife, o Recentro está no processo de “diálogo e escuta com os diversos setores da sociedade, levantando as demandas de cada segmento e analisando os projetos existentes”.
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Ao todo, segundo o Gabinete, foram feitas mais de 40 reuniões com diferentes ramos, e colhidas mais de 200 contribuições para melhorias no Centro. Entre os atores ouvidos estão a CDL Recife, Ademi-PE, Sinduscon-PE, Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), Conselho de Turismo do Recife (Conture), World Resources Institute (WRI Brasil), Associação de Lojistas do Centro do Recife (Alcere), dentre outros.
A Prefeitura do Recife também informou que teve início o estudo de Parceria Público-Privada (PPP) para habitação social, com o objetivo de ofertar, no mínimo, 450 unidades habitacionais prioritariamente na área central, voltadas para famílias com renda máxima de três salários mínimos.
Urbanismo
Por serem Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural (ZEPH), os bairros do Recife, São José e Santo Antônio têm poucas áreas possíveis para alteração e construção de novos imóveis. Ainda, quem pretende reformá-los precisa seguir uma série de determinações.
Por isso, o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS), por meio da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC), disse estar elaborando fichas técnicas com parâmetros urbanísticos a serem observados, levando em consideração as características do conjunto edificado por quadra. Quando finalizadas, serão disponibilizadas ao público através do Portal de Licenciamento Urbanístico.
Construção
A Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE) alegou que, pela falta de regulamentação da Outorga Onerosa do Direito de Construir (instrumento que permite a construção de edifícios com altura máxima permitida, acima do coeficiente básico), poucos projetos vêm sendo tocados na cidade como um todo, e que por isso as imobiliárias ainda não focam no Centro, apesar de acharem a iniciativa louvável.
“O setor olha para o Recentro com bons olhos, mas o mercado está focado em coisas mais urgentes, que tiram um pouco o foco disso, já que estamos há um ano sem poder licenciar novos projetos. Além disso, levam anos para saírem do papel, então só devemos ver mudanças no Centro muito a frente”, disse o assessor urbanístico da Ademi-PE, Sandro Guedes.
Comércio
O setor comercial foi um dos que participou de reuniões sobre o Recentro, apontando suas principais dores e necessidades.
“Para ser bem objetivo, ainda não vimos mudanças do Recentro, apesar de ter havido um esforço da Prefeitura; mas estamos com excelentes expectativas. Eles estão nos ouvindo, o que é importante, por ser é um processo longo. Aquela área precisa de tudo, zeladoria, segurança, mas o principal é dar condições para que as pessoas a ocupem. Tem que ser bem estruturado”, disse o presidente da CDL Recife, Fred Leal.
História e lazer
O arquiteto Francisco Cunha, um dos nomes que cobrou, nas últimas duas décadas, pela instalação de um escritório para a região, está criando um roteiro de visitação para recifenses e turistas que, nas palavras dele, "irá recosturar o território que foi esquartejado pela construção das avenidas Guararapes e Dantas Barreto”.
“No meu entendimento, as pessoas só preservam o que conhecem; e é inacreditável como toda esquina no Centro tem história. Até eu fico surpreso. A ideia é que seja montada uma rota, com guias no piso e placas, mostrando o que cada local significa, como um museu vivo da história de Pernambuco, e que as pessoas que passam o dia próximas dos pontos sejam espécies de 'guardiãs' deles”, explicou.