Não se sabe se o futuro do Recife será menos "carrocrata", mas é defesa da área de transportes e de urbanismo que a priorização de outros modais é essencial para que uma cidade funcione com plenitude. E foi no otimismo que o recifense Danilo Cirne Vilas-Boas dos Santos se apegou. Apresentando uma solução para obsoletos edifícios-garagem, o estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) teve o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) elencado como um dos 25 melhores dos países de língua portuguesa pelo portal ArchDaily nessa quarta-feira (22).
Na pesquisa para escrita do “Estacionar-Morar: um exercício de trans-programação arquitetônica na cidade do Recife”, orientado pelo professor Paulo Raposo Andrade, Danilo identificou que no Centro do Recife há 14 edifícios-garagens, alguns já subutilizados. Ele, então, escolheu focar o projeto no Edifício Garagem Central, por atravessar uma quadra, entre a Rua da Saudade e a Rua da união, e por ter o que ele chamou de "tipologia característica, com pavimentos semi-encontrados", e só cerca de 30% das vagas ocupadas.
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O agora arquiteto propôs uma nova vocação para o prédio: transformando-o em local para comércio e moradia. "Fizemos um terreno ativo, com atividades comerciais e espaços públicos de praça e salas comerciais. Os módulos podem ser adquiridos por empreendedores e somados um ao outro, caso o negócio cresça. Além disso, há portarias que sobem para edifícios para sessões de apartamentos, de tamanhos variados, com 30m², de 2, 3 ou 4 quartos e duplex", explicou Danilo.
A diversificação dos usos seria importante, segundo o arquiteto, para permitir que vários tipos de famílias utilizem o espaço. "Não haveria só um tipo de vida acontecendo ali do ponto de vista de estrutura familiar e de financeiro, teria mistura de classes", contou.
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Danilo espera que o trabalho sirva de pontapé para discussões sobre a cidade - principalmente para a área central dela, atualmente grande alvo de promessas e ações pela Prefeitura do Recife. "Enquanto experiência prática, ele é só uma ideia, um trabalho acadêmico, tem pouco de vida real. Mas a ideia é que gera a conversa e traz possibilidade. Estamos falando de um futuro ainda distante para o Recife, mas com isso podemos discutir novas possibilidades para ele."