O medo da população em usar o sistema de transporte público e contrair a covid-19 faz sentido e ganhou respaldo científico. Um novo estudo da Fiocruz Pernambuco concluiu que os lugares com maior risco de contaminação pelo novo coronavírus são os terminais de ônibus. As unidades do transporte público, por onde passam praticamente 80% dos passageiros diários da Região Metropolitana do Recife, superaram o risco de contaminação verificado até mesmo nos arredores dos hospitais.
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Segundo o estudo da Fiocruz, os terminais de ônibus registraram 48,7% das amostras positivas, seguidos dos arredores de hospitais, com 26,8%. As amostras foram recolhidas de superfícies situadas em vários pontos do Recife para identificar a presença do vírus causador da covid-19. “É preciso que o poder público tenha um maior controle sobre esses lugares. As restrições promovidas pelo Estado e prefeituras são fundamentais e evitam a contaminação, mas é preciso que as autoridades tenham um maior controle desses ambientes. Controlar o uso da máscara e disponibilizar álcool para higienização das mãos são necessários porque o risco é grande. E sabemos que para muitas pessoas é um custo alto ter esses produtos”, alerta o pesquisador da Fiocruz PE e coordenador do estudo, Lindomar Pena.
Foram coletadas 400 amostras de superfícies muito tocadas por diferentes usuários, como maçanetas, torneiras, vasos sanitários, interruptores de luz, leitores de biometria, catracas, corrimão de escadas, entre outros, em diversos pontos da capital pernambucana. Os lugares foram selecionados por atenderem a duas condições: grande volume e alta concentração de pessoas. E foram organizados em seis grupos: terminais de passageiros, unidades de saúde, parques públicos, mercados públicos, áreas de praia e centro de distribuição de alimentos. As amostras foram submetidas ao exame padrão ouro para detecção do novo coronavírus, o RT-qPCR.
Confira o estudo original AQUI
Do total de amostras obtidas, foi confirmada a presença do SARS-CoV-2 em 97 (24%). Quase metade delas foram recolhidas em terminais integrados de ônibus (47 amostras positivas ou 48,7%), onde as superfícies com maior índice de contaminação foram os terminais de autoatendimento e os corrimões. As áreas próximas às unidades de saúde ficaram em segundo lugar, com 26,8 % das amostras positivas. Seguidas dos parques públicos (14,4%), mercados públicos (4,1%), praias (4,1%) e outros lugares (2,2%). O vírus foi encontrado predominantemente em banheiros, terminais de autoatendimento, corrimões, playgrounds e equipamentos de ginástica ao ar livre.
As coletas utilizaram ferramentas de georreferenciamento para situar os locais com exatidão. Outro aspecto contemplado pelos estudiosos foi a classificação das superfícies pelo tipo de material. O vírus foi encontrado com maior frequência em superfícies metálicas (46,3%) e plásticas (18,5%). Lindomar Pena ressaltou, no entanto, que não foi detectado vírus ativo nos exames. “Porém em algum momento ele esteve ativo naquele local, o que demonstra serem ambientes onde há mais gente infectada circulando”, explicou.
Além de pedir um controle maior das autoridades sobre os terminais de ônibus, o pesquisador também fez um alerta à população que precisa usar o sistema. “Cuidado onde você coloca a mão. Procure higienizá-las sempre que possível, evite levá-las aos olhos, nariz e boca, e use a máscara da forma correta. Mesmo depois de vacinado é importante seguir tendo cuidado porque, se você for exposto a uma quantidade alta de vírus, poderá adoecer. A vacina não vai te proteger de tudo. É uma comparação parecida com o cinto de segurança: ele vai te proteger até certo ponto”, ensina.