Comer é um ato que merece atenção. Quando nos alimentamos de forma desatenta podemos comer demais e isso nos causar culpa, acelerando processos como transtornos alimentares. Então, com a premissa de propor uma maior conexão com o alimento, a prática do mindful eating tem se fortalecido entre as pessoas que buscam manter hábitos de alimentação mais saudáveis.
A mindful eating é, basicamente, uma técnica que prega o "comer com atenção plena", sendo considerada uma das estratégias auxiliares no tratamento de distúrbios alimentares como a compulsão. A premissa é ouvir o corpo e evitar comer rapidamente após ficar cheio e ignorar os sinais do seu corpo. Para isso é preciso desacelerar o ato de comer e saber identificar quando seu corpo diz que está "cheio". A técnica é muito indicada também para combater o desejo de comer aquele alimento pelo qual sentimos mais "tentação", como os doces. A ideia é que ao sentir todos os sabores e sensações que determinada comida nos causa, nosso corpo sentirá menos "desejo" por ela.
O que parece simples, na verdade, tem sido um desafio numa sociedade cada vez mais conectada e que está sempre de olho em telas, seja do celular, TV ou computador. Para as pessoas que sofrem com alguma compulsão alimentar, a técnica do mindful eating pode ser uma forte aliada. Somada a uma dieta planejada por um profissional de nutrição e um acompanhamento psicológico, a proposta do comer devagar tem tudo para ser um passo importante para saber lidar com o transtorno. A nutricionista comportamental Renata Beserra (@nutricionista.renatabeserra) explica que esse processo, muitas vezes, precisa ser ensinado em consultório para que o paciente entenda como funciona e leve para o seu dia a dia.
Renata orienta como é feito o treinamento do paladar ao mindful eating: "A gente pega o alimento, pede o paciente para olhar todas as características, fechar os olhos, cheirar o alimento, depois coloca na boca, sente o sabor inicial e só depois começa a mastigar lentamente, por último engole. Em seguida pede para repetir o processo e até comparando as sensações com a primeira vez. Depois, numa terceira vez, o paciente vai percebendo que o sabor do alimento vai ficando mais saturado ("enjoado"). A mesma coisa acontece com o cheiro. É quando ele percebe que, de fato, a gente tem uma satisfação mais rápida e fica feliz só com aqueles pedaços iniciais, não precisa comer muito daquele alimento. A ideia é levar isso pro dia a dia."
A nutricionista comportamental compara a técnica do mindful eating a uma mediação. "Quando você se volta totalmente para uma atividade, consegue sentir melhor as sensações que ela gera. Se eu tô ali fazendo minha refeição, aproveitando aquele momento, focado, eu vou sentir melhor o sabor, o cheiro, todos sentidos vão ser mais ativados, e a tendência é comer menos porque se satisfaz mais rápido. Já quando se está numa roda de amigos ou distraído a gente acaba colocando mais pra dentro do que realmente precisa", argumenta.
Dicas para seguir o mindful eating:
As nutricionistas Cynthia Antonaccio e Manoela Figueiredo escreveram o livro "O mindful eating – comer com atenção plena", no qual defendem a técnica e ensinam dicas de como rever nossos hábitos à mesa. Confira algumas orientações:
1. Desconecte-se à mesa! Esqueça celulares, TV e outras telas;
2. Prepare-se: respire fundo e observe com olhar curioso os alimentos;
3. Sente-se de forma confortável à mesa;
4. Utilize os talheres de forma inteligente, troque para a mão não dominante e aprecie tudo com calma;
5. Delicie cada mordida, prestando atenção no cheiro, na temperatura, cores, textura;
6. Feche os olhos em algumas garfadas;
7. Tente recapitular na sua mente a origem e a cadeia daquele alimento até seu prato;
8. Observe o que sente ao comer: conforto, alegria, satisfação;
9. Desligue o julgamento sobre nutrientes e calorias.
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