Na tentativa de fazer pressão política para reverter a retirada do Ramal de Suape do projeto da Transnordestina, deputados estaduais de Pernambuco aprovaram a criação de uma Frente Parlamentar sobre o tema na sessão da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) desta quinta-feira (13).
Tudo começou quando o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, declarou, em 20 de julho, que o governo federal decidiu não levar adiante o projeto original da Transnordestina e concluir, apenas, o trecho da ferrovia até o Porto de Pecém, no Ceará. O seu projeto começou a ser feito em 2002 e as obras tiveram início em 2006.
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O projeto da Transnordestina tem extensão total de 1742 km, saindo do município de Eliseu Martins, no Piauí, até Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, onde sairiam dois ramais, um para o Porto de Pecém, em São Gonçalo do Amarante, no Ceará, e outro para Suape, no Cabo de Santo Agostinho. Já foram R$ 6,4 bilhões gastos na implantação da ferrovia, sendo 80% oriundos de recursos públicos.
O pedido de criação da Frente Parlamentar em Defesa do Ramal de Suape da Transnordestina é do deputado Waldemar Borges (PSB). É mais uma forma dos deputados estaduais pressionarem o governo federal para tentar manter o projeto original da ferrovia, juntamente com a bancada federal, prefeitos pernambucanos e o governador Paulo Câmara (PSB).
A proposta foi aprovada por 37 deputados a favor e uma abstenção. "A medida representa importante ameaça ao desenvolvimento da economia pernambucana, uma vez que o modal ferroviário contribuiria de maneira importante para a redução dos custos com transporte gastos por importantes setores produtivos de Pernambuco", afirmou o deputado durante a sessão.
A Frente será composta por nove parlamentares: Aluisio Lessa (PSB), Isaltino Nascimento (PSB), Erick Lessa (PSB), Laura Gomes (DEM), Tony Gel (MDB), Fabrício Ferraz (PP), José Queiroz (PDT), Priscila Krause (DEM) e Diogo Moraes (PSB).
A deputada Laura Gomes (PSB), líder do PSB na Alepe, classificou a decisão do governo federal como "covarde". "A criação do colegiado em defesa da construção dessa via é algo importante para o fortalecimento de todo o Nordeste", afirmou a socialista.
O líder da oposição na Alepe, deputado Antonio Coelho (DEM), pediu atenção da Alepe para outras obras estruturais em atraso para além da Transnordestina. “Diversas iniciativas merecem ser investigadas, como o plano de navegação do Rio Capibaribe, as barragens abandonadas da Mata Sul e o BRT da Região Metropolitana do Recife, que são grandes exemplos de mau uso do dinheiro público em nosso Estado", afirmou.
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Priscila Krause
A oposição a Paulo Câmara em Pernambuco - alinhada ao governo Bolsonaro - tem sido crítica ao posicionamento dos governistas contra o governo federal no que diz respeito a suspensão do Ramal de Suape, e ao que classificam como transferência de responsabilidade do estado por ter permitido que o trecho pernambucano fosse preterido em relação ao cearense.
Na reunião do governador com a bancada federal, em 27 de julho, foram faltas sentidas as do líder do governo Bolsonaro no Senado Federal, Fernando Bezerra Coelho (MDB), e um dos vice-líderes do governo na Câmara dos Deputados, André Ferreira (PSC). Eles integram dois do principais grupos da oposição no Estado.
"O fato concreto é que quem constrói uma ferrovia precisa ter acesso ao porto para poder exportar as cargas. Havia duas opções: Pecém ou Suape. A pergunta tem que ser dirigida ao Governo de Pernambuco. Por que não se viabilizou o escoamento das cargas a partir do Porto de Suape? O porto, lá no Ceará, foi viabilizado", afirmou Fernando Bezerra por meio de nota enviada após a reunião.
Priscila Krause (DEM) é a única deputada da oposição integrante da frente parlamentar. Ela disse ao JC ter boas expectativas sobre o trabalho do grupo. "Vamos acompanhar, mobilizar a sociedade, pressionar politicamente, mobilizar as forças políticas para reverter esse processo", afirmou a deputada.
Em contrapartida, ela considera que o Governo de Pernambuco "ficou passivo em relação a modificações que ocorreram" ao longo dos anos durante o andamento das obras da Transnordestina.
"O desmonte da Transnordestina vem ocorrendo desde o governo Dilma, quando houve uma transferência de foco para Pecém e passou a se tentar viabilizar mais Pecém do ponto de vista de política indutora dos portos, mais do que Suape. O que ocorre hoje é consequência desse movimento", afirmou a deputada.
O prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), defendeu na última terça (10) uma "mudança de foco" na defesa do Ramal de Suape, que só está voltado para o transporte de minérios e produtos agrícolas. Para ele, deve ser discutida a viabilidade do transporte de cargas de retorno, como combustíveis.
"O assunto não pode ficar restrito ao Ministério da Infraestrutura. Por isso, tratei pessoalmente dessa questão com o deputado federal André Ferreira, que está mobilizando outros setores do Governo Federal. O momento é de união por Pernambuco com foco na viabilidade econômica do ramal até Suape e não de disputas políticas", afirmou Anderson.