Trânsito, transportes e mobilidade urbana, com Roberta Soares

Mobilidade

Por Roberta Soares e equipe
COLUNA MOBILIDADE

Maio Amarelo: uma luta nacional para zerar as mortes no trânsito

Movimento chama atenção para a matança sobre rodas, um custo de R$ 132 bilhões por ano à economia e à saúde brasileiras

Cadastrado por

Roberta Soares

Publicado em 01/05/2022 às 10:34 | Atualizado em 01/05/2022 às 10:35
O trânsito brasileiro mata muito, mutila demais e ainda custa muito caro. Em Pernambuco, o custo é superior a R$ 6 bilhões por ano. Por isso o Maio Amarelo deveria ser todo mês - ARTES JC

O Maio Amarelo, que em 2022 tem como tema “Juntos salvamos vidas”, deveria ser todo mês, essa é a verdade. Isso porque o trânsito brasileiro é uma máquina de matar. E o País não consegue mudar essa lógica.

Avançamos, mas ainda muito pouco. Temos muito discurso e ações que são mais “espuma” do que efetividade. Mas temos melhorado - não há como negar.

Nos anos de 2012 e 2014 - auge do boom rodoviário com a redução do IPI dos veículos concedido pelo governo federal - chegamos a quase 45 mil mortos no trânsito.

O susto foi grande, a primeira Década da Segurança Viária (2011 a 2020) foi lançada e houve uma mobilização nacional para reduzir as mortes e mutilações provocadas pelos sinistros de trânsito (não é mais acidente que se diz. O termo agora é sinistro de trânsito).

Mas ficamos longe da redução de 50% no número de mortes no trânsito. Houve diminuição, mas de apenas 30%.

De 2015 até 2018 conseguimos reduzir. Mas em 2019 e 2020 os números voltaram a subir. Segundo dados do DataSus do Ministério da Saúde, foram 31.945 em 2019 e 32.716 em 2020 - os óbitos de 2021 só devem ser parcialmente divulgados entre setembro e outubro de 2022.

Selo Mobilidade Maio Amarelo - Selo Mobilidade Maio Amarelo

Por isso, o Maio Amarelo deveria ser todo mês. Para quem não sabe, o movimento nasceu no Brasil em 2014 - exatamente quando os índices de sinistralidade e fatalidade no trânsito estouraram.

Surgiu com a proposta de estimular uma ação coordenada entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil para discutir a segurança viária e reduzir os sinistros e mortes no trânsito.

Quem deu o start no movimento no Brasil foi o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), que tenta, há oito anos, trazer o poder público, instituições e empresas privadas e a sociedade civil organizada para, efetivamente, discutir o problema da violência do trânsito e se engajar em ações que propaguem consciência e boas práticas.

Depois de uma queda a partir de 2015, em 2019 e 2020 os números voltaram a subir. Segundo dados do DataSus do Ministério da Saúde, foram 31.945 em 2019 e 32.716 em 2020 - Brenda Alcântara/ JC Imagem

NÚMEROS QUE ASSUSTAM

Os números do trânsito brasileiro assustam. Já assustavam e seguem assustando. Não foi à toa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Segunda Década de Ação pela Segurança no Trânsito, entre 2021 e 2030.

E, pela segunda vez consecutiva, com a ambiciosa meta de prevenir ao menos 50% das mortes e lesões no trânsito até 2030.

Mortes no trânsito - REPRODUÇÃO

Essas décadas têm como embasamento estudos da OMS que mostram a tragédia prevenível que são as mortes de pedestres, ciclistas, passageiros, motociclistas e motoristas.

Um de 2009, que fundamentou a Primeira Década de Segurança Viária, contabilizou 1,3 milhão de mortes por sinistros de trânsito em 178 países. E 50 milhões de pessoas que sobreviveram com sequelas.

Na época, seria o equivalente a três mil vidas perdidas por dia nas estradas e ruas ou a nona maior causa de mortes no mundo.

ILUSTRAÇÕES DE THIAGO LUCAS PARA REFLETIR

Ilustrações Maio Amarelo - REPRODUÇÃO
Ilustrações Maio Amarelo - THIAGO LUCAS
Ilustrações Maio Amarelo - THIAGO LUCAS
Ilustrações Maio Amarelo - THIAGO LUCAS
Ilustrações Maio Amarelo - REPRODUÇÃO
Ilustrações Maio Amarelo - THIAGO LUCAS

Os sinistros de trânsito são o primeiro responsável por mortes na faixa de 15 a 29 anos de idade; o segundo, na faixa de 5 a 14 anos; e o terceiro, na faixa de 30 a 44 anos.

Representam um custo de US$ 518 bilhões por ano ou um percentual entre 1% e 3% do PIB (Produto Interno Bruto) de cada país.

No Brasil, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), numa parceria com a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) da ONU e divulgado em 2020, apontou que os sinistros de trânsito custam R$ 132 bilhões por ano à economia e à saúde brasileiras.

Mostrou, também, que o Brasil perdeu quase 500 mil vidas em onze anos - de 2007 a 2011. São, em média, 45 mil mortes por ano. E, como se não bastasse, ainda gastou, no mesmo período, R$ 1,5 trilhão com essas colisões e atropelamentos.

Em Pernambuco, onde os motociclistas promovem um estrago maior do que em todo o Nordeste, o custo anual com as vítimas é de R$ 6,1 bilhões.

Ainda de acordo com o estudo da OMS de 2009, se nada fosse feito, a estimativa era de que 1,9 milhão de pessoas morressem no trânsito em 2020 (passando para a quinta maior causa de mortalidade) e 2,4 milhões, em 2030.

IMAGENS PARA CHOCAR E PROVOCAR REFLEXÃO 

Acidente aconteceu em novembro de 2017, no bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO / ACERVO JC IMAGEM
Três veículos estiveram envolvidos na colisão - SIDNEY LUCENA/JC IMAGEM
Sinistro aconteceu em novembro de 2017, no bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO / ACERVO JC IMAGEM
Colisão deixa seis feridos na BR-101 Sul, em Jaboatão dos Guararapes - DIVULGAÇÃO/PRF

E, nesse período, entre 20 milhões e 50 milhões de pessoas sobreviveriam aos sinistros a cada ano com traumatismos e ferimentos.

Ou seja, um trânsito que mata muito, mutila demais e ainda custa muito caro. Por isso o Maio Amarelo deveria ser todo mês.

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